Top 10 – Melhores Livros de 2021

 

 

Coloquei meu lado Rob Fleming pro jogo e fiz não um top 5, mas um top 10 dos livros mais especiais do ano de 2021. Livros lançados durante 12 meses de cansaço, perdas, lutas e umas tantas vitórias. Obras com um pouco em comum e muitas diferenças entre si. Histórias sobre desencontros, crescimento, empatia e sonhos deixados para trás ou realizados. 

 

 Comecei a estruturar esse texto no dia da votação presidencial chilena, e embalada pelos ventos de esperança trazidos pela vitória de Gabriel Bolic, percebi que meu pequeno pódio veio quase todo do Brasil e é na sua maioria composto por livros escritos por mulheres.  Alguns deles foram resenhados por mim aqui no Célula, um eu terminei na semana passada e outro dei de presente para a minha sobrinha no Natal, tamanha a sua significância.

 

Esses livros mostram que em meio às incertezas e a finitude da vida sempre haverá lugar para a delicadeza, o não julgamento, as uniões familiares, o poder da ancestralidade e da nossa capacidade de nos transformar.

 

Vem comigo!

 

 

Crocodilo, Javier Contreras-Companhia das letras – A descida sem escalas aos porões da incompreensão do suicídio do filho Pedro pelo jornalista Ruy, faz da narrativa emocionante lsem ser piegas e realista sem se aproximar do sensacionalismo, um tratado necessário sobre as doenças psíquicas e suas consequências.

 

A palavra que resta, Stênio Gardel- Companhia das Letras – Em seu romance de estreia, Stênio conta a história de Raimundo, que na juventude teve seu amor por Cícero violentamente interrompido. Analfabeto, ele guarda consigo por 50 anos a última carta de seu amado, que nunca pôde ler, e aos 71 decide se alfabetizar para finalmente descobrir o que Cícero quis dizer em suas derradeiras palavras.

 

Notas sobre o luto, Chimamanda Ngozi Adichie – O único representante fora da América do Sul é o desabafo da autora nigeriana sobre a morte do pai, James Adichie e a constatação de uma das mais dolorosas verdades: não há respostas prontas para os questionamentos que a dor da perda de uma pessoa querida nos impõe. Um abraço real e doloroso em um ano de tantos lutos.

 

Pequena Coreografia do Adeus, Aline Bei – Companhia das Letras – O segundo livro da autora de O peso do Pássaro Morto coloca nos nossos braços a menina Júlia Terra, de coração inquieto e existência a se chocar e a se desviar de uma família dolorida e um coração solitário. Aline mais uma vez coreografa sua criação com o ritmo de uma prosa todo particular, teatral e de oralidade tocante.

 

O corpo crítico, Jean Claude Bernardet – Companhia das Letras – Aos quase 80 anos, Jean Claude, um dos maiores críticos de cinema do Brasil decidiu interromper o tratamento agressivo contra um câncer de próstata, e diante da estranheza de alguns conhecidos e familiares escreveu o ensaio principal desse pequeno- grande e crítico livro, que nos chama para uma conversa sincera sobre como lidamos com o corpo que habitamos e com o sistema que lucra com as nossas doenças.

 

A filha primitiva, Vanessa Passos – Lançado pela autora em formato independente e finalista do prêmio Kindle de Literatura, escancara de dentro de uma relação mãe e filha o machismo estrutural, a culpa feminina pregada pela religião como verdade absoluta e a liberdade que nos sangra até nos acolher embaixo de suas asas e sobre o calor do perdão.

 

Inhamus, Kah Dantas – Editora Moinhos – Uma jornalista cearense reencontra os passos interrompidos ao redor de seu passado quando retorna à região onde nasceu para uma reportagem.  Mulheres sem nome e unidas por laços de dureza, silêncio e ancestralidade amarram-se à história de uma família transpassada pelos desencontros e sobrevivência a uma sociedade machista.

 

Cartas para minha avó, Djamila Ribeiro – Companhia das Letras – Em seu livro mais pessoal até aqui, Djamila parte de uma conversa com a avó materna, Antônia para um relato delicado sobre o relacionamento dos pais, sua vida como criança e mulher negra no Brasil, maternagem e autodescoberta. O capítulo sobre a despedida de seu pai é sem dúvidas um dos mais emocionantes que li esse ano.

 

Dançando na varanda, Nicole Ayres – A autora carioca se despe de qualquer preconceito sobre saúde mental para contar sobre sua internação em uma clínica psiquiátrica em 2018. Com uma escrita bem-humorada e cuidadosa, Nicole parece mais conversar com o leitor, e de forma inteligente e nada leviana, não traz soluções milagrosas ou romantização e sim o acolhimento que mostra que nossas emoções não são motivo de vergonha.

 

O parque das irmãs magníficas, Camila Sosa Villada – Não há como sair ileso da leitura do livro da autora argentina. Em formato de fábula, Camila narra o tempo que passou trabalhando como travesti no parque Samiento, em Córdoba e sem economizar na crueza, entristece, comove e faz pensar sobre o quanto nossos julgamentos podem ser e são injustos.

 

Como me sentirei em 3 ou mais anos em relação a essa lista só o futuro dirá, e nem me importo. Não há verdade mais bonita trazida pelos livros que aquela transformadora do agora.

 

E foi justamente essa a magnitude do que cada uma e um desses grandes escritores trouxeram ao meu ano. Espero que eles possam (se já não aconteceu) fazer o mesmo por vocês.

 

Feliz 2022!

 

Debora Consíglio

Beatlemaniaca, viciada em canetas Stabillo e post-it é professora pra viver e escreve pra não enlouquecer. Desde pequena movida a livros,filmes e música,devota fiel da palavras. Se antes tinha vergonha das próprias ideias hoje não se limita,se espalha, se expressa.

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