Tiê – Kudra

 

Gênero: Folk

Duração: 22 min.
Faixas: 6
Produção: André Whoong, Gianni Salles, Flávio Juliano e Adriano Cintra
Gravadora: Warner

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

Quem ainda não sentiu o peso da reclusão tá fazendo a quarentena errado. Reflexo deste tempo, Tiê lança “Kudra”, seu quinto trabalho. Compacto, delicioso e fácil de ouvir o disco vem como um descarrego leve de diversas emoções desencadeadas nesse período em que o abraço é raro e o encontro escasso. Voz e som seguem a linha calma, suave e agradável, como um algodão doce, com cheiro de carinho.

 

Abrindo o trabalho, a música “Crepúsculo” abre com um embalo de acordar, tem uma sonoridade peculiar, um jeitinho suave de cantar de Tiê. É um cantar declamado.
A maternidade também aflora em “Nasce uma mãe”, é uma canção sobre o cuidado e sobre o aprender a ser mãe. É sobre a grande troca que é ser mãe e ser filha, a nova forma e perspectiva de mundo quando não se é apenas filha, mas filha-mãe.

“Cuidar de ti é cuidar de mim,
e vai ser assim,
sempre assim,
que seja sempre assim,
vem cuidar de mim,
e vai ser melhor assim”

 

Muita gente tá falando sobre o lado bom da quarentena, do voltar-se a si e tudo mais, primeiramente achei isso descaso com a fatalidade de uma pandemia, contudo, todavia, entretanto, eu me peguei também refletindo sobre o enfrentamento dos fantasmas internos, escondidos e da necessidade de dialogar com eles, é um lado bom, sim. A terceira faixa é um convite a isso, o “Labo Bom” de poder dialogar, seja com o outro que nos acompanha, seja com os outros que nos habitam, é uma faixa linda que convida a cantar. Não estamos em momento de comemorar, mas talvez a arte seja a única forma possível de tocar corações, encher pulmões, respirar.

 

Kudra é o nome de uma cidade indiana, mas também significa amor, é um abraço e formato de disco. Vale a pena ouvir os quase 23 minutos de delicadeza sonora. “E dai?” carrega uma batida marcada e um ritmo que convida a cantar suavemente o “fora”, o “acabou”. Essa faixa tem a participação de Filipe Catto e é bela maneira de cantar aquilo que acaba.

“Se você for me dar o fora,
Vê se nao demora
Pra me avisar
Se você for me dar o fora
Quase nao demora
Pra eu me ajustar.
E dai?
E dai?”

 

“Estranhos” vem para expor a trajetória do término. Não se rompe do nada, a corda é sempre gasta aos poucos, é roída ao longo dos dias, até romper. É sobre o fim, sobre estar só acompanhado. O sofrimento daqueles que se transformam em estranhos. Mas é um sentir bonito, com a esperança de sorrir ao lembrar das memórias. “Amar” também é deixar partir. Considero essa faixa uma das mais sinceras traduções sobre o saber e não saber das coisas que estão por terminar. Com sua Filha Amora, Tiê finaliza com a faixa que dá nome ao EP. Kudra tem uma melodia de sonho, de passeio pelos pensamentos. É uma canção sobre amar, sobre transformar, sobre aceitar e ir.

“If you know what I’m asking for
You should give me an answer
If you know who I’m changing for
Just remember it’s you
Can you see me?
Do you hear me?
I am calling
Out to reach you
I can feel you
And I think it’s time to go”

 

Se Tiê queria abraçar alguém, ela consegue com Kudra. Belo. sensível e necessário.

Ouça primeiro: “Estranhos” e “Kudra”

 

Ariana de Oliveira

Ariana de Oliveira é canhota de esquerda, Cientista Social, estudante de Jornalismo e comunicadora da Rádio Univates FM. Sobre preferências: vai dos clássicos aos alternativos.

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