The Flaming Lips – King’s Mouth

Gênero: Rock Psicodélico
Duração: 41 min
Faixas: 12
Produção: Wayne Coyne
Gravadora: Warner

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

Os Flaming Lips têm dois tipos básicos de álbuns, como a série Arquivo X costumava ter dois tipos básicos de episódios: fazem discos que seguem sua abordagem do rock psicodélico com coerência e uma visão, digamos, mais “comum” e, também, ocasionalmente, soltam álbuns completamente malucos como “Zaireeka”, de 1996, que consistia de quatro CDs, que precisavam ser tocados simultaneamente para que o som fosse ouvido. Ou como os tributos malucos a Beatles, Pink Floyd ou ainda um álbum gravado simulando as condições da … Estação Espacial Internacional. Sim, eles fizeram isso e há rumores de terem feito um show num estacionamento para os carros. Sim, esta é a banda de Wayne Coyne, que continua enxergando a música pop deste jeito. Este “King’s Mouth” é, segundo definição da própria banda, um disco infantil para adultos. Vejamos.

“King’s Mouth” foi lançado em 13 de abril, como parte das comemorações do Record Store Day e teve uma edição limitada em 4 mil exemplares de vinil dourado. A banda vai lançar o disco mundialmente e de forma convencional em julho, marcando seu retorno após pouco mais de dois anos de hiato. A ideia aqui é contar uma história maluca sobre um bebê gigante que se transforma em rei de um lugar distante, por conta de sua cabeça que é capaz de sugar tempestades, fenômenos naturais e até galáxias. Falando assim, a impressão que o disco suscita é de uma doideira generalizada, nível máximo, mas o resultado das faixas é extremamente legal e muito próximo dos melhores momentos dos Lips, que, quando querem e conseguem foco, fazem pequenas maravilhas como “Soft Bulletin” (1999), “Yoshimi Battles The Pink Robots” (2002), “The Terror” (2013) e o último álbum que lançaram, “Oczy Mlody”, em 2017.

Apesar do tom infantil que o conceito do disco evoca, as faixas são, como diria um comercial de TV dos anos 1970, “para todas as idades”. A psicodelia simpática do grupo sempre funciona e acaba se revelando uma das grandes influências para todo o rock psicodélico feito hoje mundialmente. “The Sparrow” é uma belezinha de canção, com alma e melodia que revelam o talento de Coyne como compositor de melodias enxutas e bonitas. O disco é pródigo em mostrar boas canções, que vão se sucedendo, reforçando a certeza de que estamos ouvindo uma banda que sabe exatamente o que – e como – está fazendo. “Giant Baby”, estapafúrdia em conceito, tem tem batidas eletrônicas que parecem oriundas de uma drum machine de segunda mão e com defeito de fabricação, mas o contraste delas com a melodia e o violão e vocais de Coyne cria um efeito muito bacana.

Os vocais modificados de “How Many Times”, de modo a criar um diálogo entre crianças e adultos, é um dos pontos altos do álbum. Novamente a melodia é o ponto forte por aqui, mostrando que a canção, caso fosse arranjada como um soft rock setentista, poderia pertencer ao repertório de gente como Bread ou Carpenters. Em alguns momentos a banda se permite fazer algo mais próximo do conceito original – uma história infantil sendo narrada – e surgem canções como “Electric Fire”, mais dramáticas e cinematográficas, mas, mesmo com elas, os Lips conseguem escapar do hermetismo e conseguem resultados muito legais.

Mais que conceito e doideira, o forte de “King’s Mouth” é a absoluta belezura alcançada na confecção das melodias e arranjos. Em muitos momentos ele assume a forma de um disco progressivo enlouquecido dos anos 1970, noutros ele é um artefato instável dos anos 1990, mas, ao visitar essas influências e dinâmicas, se tornar totalmente 2019 em sua exuberância, sendo gloriosamente conduzido por melodias próximas da perfeição. Esqueça a doideira de Coyne e seus amigos, eles são, mais de malucos, exímios artesãos pop.

Ouça primeiro: “How Many Times”.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

2 thoughts on “The Flaming Lips – King’s Mouth

  • 20 de abril de 2019 em 01:18
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    Aquelas resenhas que nos fazem ter vontade de ouvir os discos. Essas é que devem ficar no coração. Ouvi o álbum e adorei de primeira. E já tenho a minha canção favorita do disco: “All For The Life Of The City”.

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    • 20 de abril de 2019 em 01:31
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      Obrigado, meu amigo. A ideia é essa! Abração.

      Resposta

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