Terno Rei – Violeta

Gênero: Rock Alternativo, Dream Pop
Duração: 31 min
Faixas: 11
Produção: Gustavo Schirmer e Amadeus de Marchi
Gravadora: Balaclava Records

4 out of 5 stars (4 / 5)

Este terceiro disco do quarteto paulistano Terno Rei poderia servir como uma boa síntese do que é o bom rock brasileiro hoje. Emocional, bonito, reflexivo e privilégio de poucos e antenados. Há muitas bandas boas produzindo discos, singles, EP’s por aí e a maioria esmagadora não tem qualquer noção disso. Ainda que esta questão seja muito importante, ela não é o tema desta análise. “Violeta”, o novo álbum do grupo, é uma singela construção de boas canções em meio a arranjos com extrema simplicidade e beleza, mostrando que, às vezes, menos poder ser mais.

As onze faixas relatam o outro lado da vida emocional na cidade grande. O lado oposto de várias questões-chave – emprego, sentimentos, objetivos, realizações – surge na contemplação e na reflexão de canções como “Yoko”, que abre o álbum com vocais e instrumental em sintonia. A referência musical para a faixa é tão ampla que poderia caber o jeitão de um trovador urbano – um Nei Lisboa – com a sonoridade fluida da banda americana Real Estate, por exemplo. Em um verso a prova do descompasso da pós- modernidade: “você está amando, eu estou juntando os cacos”. É como se a banda retirasse um manto de aparências superficiais e expusesse verdades e vulnerabilidades emocionais comuns a todos. É uma ação que vai marcar quase todas as canções de “Violeta”.

Além da carga lírica, merece destaque a produção que Gustavo Schirmer e Amadeus de Marchi, especialmente no polimento das faixas. É uma espécie de lo-fi em altíssima resolução, se isso é possível. O som das guitarras e dos teclados dá o rumo para os arranjos e oferecem timbres e nuances que encurtam o caminho entre as referências pós- punk dos anos 1980 e o moderníssimo synthpop feito hoje. Musicalmente falando, “Violeta” não deixa nada a dever ao que está sendo feito mundialmente por bandas independentes equivalentes ao Terno Rei.

Em meio a todos esses significados, a banda tem manha suficiente para conferir um verniz pop a praticamente todas as canções do disco. “93” (“quanto tempo faz, 93 não vai voltar”) é uma lindeza nostálgica, “Dia Lindo” tem beleza de sobra em menos de dois minutos de duração, “Solidão de Volta” tem guitarrinhas com jeito de The Cure em meio a versos como “se eu já tenho a solidão de volta, não precisa mais se explicar”, tudo isso com potencial para cantar mil vezes no silêncio do quarto, decorando letra ou exorcizar demônios existenciais num dos ótimos shows da banda.

Com “Violeta” o Terno Rei se posiciona num seleto grupo de artistas brasileiros com algo a dizer nestes tempos bicudos de hoje. Sabemos que não é pouca coisa. Bravo.

Ouça primeiro: “93”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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