Taylor Swift – folklore

 

 

Gênero – Rock alternativo, pop alternativo

Duração: 63 min.
Faixas: 16
Produção: Taylor Swift
Gravadora: Independente

3 out of 5 stars (3 / 5)

 

Tem coisa mais espinhosa do que convencer as pessoas que se interessam por música de que Taylor Swift não é essa coca-cola toda? Tem coisa mais difícil do que não ouvir/perceber as obras que ela concebe e lança como passos estudados meticulosamente para dar certo e seguir como uma protagonista da cena pop mundial? Eu confesso: não consigo. E assumo que gosto de algumas coisas que a moça já lançou, especialmente o álbum “1989”, no qual ela dá uma mergulhada “sincera” em sua vida, buscando comunhão e explicação para várias situações. Não obstante prefira a versão que Ryan Adams fez para o álbum, executando-o de cabo a rabo com sua veia alt-country renovada de fé no futuro que já chegou. Pois bem, Taylor acabou de lançar um disco “de surpresa’, chamado “folklore”, com minúsculas. A capa, cinzenta, as fotos – divulgadas no Instagram pela cantora -, o clima das canções, tudo aponta para um álbum “alternativo-triste” de Taylor.

 

“A maioria das coisas que eu tinha planejado para este verão acabaram não acontecendo, mas há uma coisa que eu não havia planejado e que aconteceu. E essa coisa é o meu 8º álbum de estúdio, ‘folklore’. Surpresa! Hoje, à meia-noite, eu vou lançar meu mais novo disco recheado de músicas que eu despejei todos os meus caprichos, sonhos, medos e reflexões. Eu escrevi e gravei essas músicas durante o período de afastamento social”, revelou a cantora. Sim, é isso mesmo. “folklore” é uma espécie de inventário – inacabado – do tempo de isolamento social experimentado por Taylor, refletindo suas dúvidas e incertezas. É um disco tristonho, introspectivo e, cá entre nós, superficial.

 

As faixas orbitam um sentimento de tristeza e desilusão mas, talvez por já ter ouvido outros trabalhos mais intensos no desejo de refletir essas emoções mais sombrias ou que, mesmo que tentassem disfarçar sua presença, exalavam sinais referentes a elas, que o disco de Taylor tenha me soado como um mero exercício de estilo. Claro, o pop está cheio disso e não há nada errado em cometer o pecadilho, porém, quando há este trelelê em torno da origem das canções, quando se apela pro artifício da surpresa aos fãs – algo que já vimos acontecer outras vezes, ou seja, não é novo – a ideia é que levemos tais atos em consideração na hora de analisar todo. O resultado são dezesseis faixas – um pouco longo, né? – simples, com instrumental de baixo, bateria, guitarra e teclados, com programações aqui e ali e a voz de Taylor falando sobre as incertezas. E só.

 

Ainda que tenhamos a participação de Justin Vernon, o próprio Bon Iver, em “exile”, o disco é totalmente focado na figura da cantora e compositora, sendo um relato extremamente pessoal. E só. Claro que, ao longo do percurso sonoro, surgem bons momentos, especialmente nos casos de “mirrorball”, que tem uma melodia bela, próxima do que poderia ser escrito e gravado por uma versão mais esparsa e delicada de Alanis Morissette lá pela virada do século 21. Também tem “august”, que exercita um arranjo de violões e eletrônica, que parece Cranberries. E só, gente. O resto não chega lá, mas, em conjunto, não faz feio.

 

Então, lendo esse texto, “folklore” é ruim? Não, não é. Mas para soar como um disco sofrido e sentido dentro de um panorama inédito na história recente da humanidade, talvez merecia, já que se declarou esta intenção, uma reflexão mais complexa e sentida. Não é ruim, mas poderia ser muito, muito melhor.

 

Ouça primeiro: “mirrorball”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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