Rolling Stones – Bridges To Bremen

Gênero: Rock
Duração: 139 min
Faixas: 22
Produção: Glimmer Twins
Gravadora: Universal/Eagle Rock

3.5 out of 5 stars (3,5 / 5)

 

A gente vem dizendo há tempos que as coletâneas dos Rolling Stones só fazem repetir faixas óbvias. O nosso querido Zeca Azevedo já fez texto lapidar sobre o assunto (que você lê aqui) e provou a opção pela obviedade por parte dos Glimmer Twins. Tal lógica se aplica também aos discos gravados ao vivo. São inúmeros, nenhum com a explosão de “Get Yer Ya-ya’s Out”, de 1970, que sintetizava a primeira fase da carreira do grupo com perigo e um carimbo de relevância estampado na testa. Dá pra livrar a cara de “Love You Live”, de 1977, que trazia faixas das turnês americana e europeia da banda em 1975/76. Depois disso, só em meados dos anos 1990, com “Stripped”, os Stones conseguiram injetar alguma novidade em seus registros ao vivo. Este “Bridges To Bremen”, de 1998, mostra muito mais obviedades do que distinção, mas, bem, não dá pra desprezá-lo totalmente pois trata-se de um disco dos Stones, ora bolas.

 

A gente cutuca o repertório preguiçoso porque estamos dentro de um parâmetro altíssimo, imposto pelo próprio grupo, para seus shows. São superproduções audiovisuais e, por mais que eles repitam “Satisfaction”, “Brown Sugar” e “Honky Tonk Women”, a gente canta junto e pula feliz. A cada novo disco de estúdio, surge a esperança do grupo fazer algo diferente, além de incluir algumas faixas novas. No caso de “Bridges To Bremen”, gravado na cidade alemã em setembro de 1998, há cinco canções do então recém-lançado “Bridges To Babylon”, que chegara no ano anterior e cujo primeiro single, “Anybody Seen My Baby” era um plágio descaradíssimo de “Constant Craving”, da cantora canadense k.d lang, que acabou incluída como autora da faixa. Uma pena porque o álbum é interessante, mas “Anybody…” ficou de fora dos registros lançados desta turnê. Um dos méritos de “Bremen” é exibi-la desavergonhadamente no seu setlist e reafirmar que ela é, sim, bem legal, apesar da cara dura.

 

Outra aparição interessante por aqui é “Memory Hotel”, direto de 1976, do ótimo “Black And Blue”. Explica-se: à época, os Stones abriam uma enquete em seu site (ah, a aurora da Internet…) e pediam que o público elegesse uma canção para ser tocada na apresentação mais próxima. Era um jeito de garantir que os setlists fossem sempre diferentes e “Memory Motel” foi a contemplada para o show de Bremen. Ela surge bela e gloriosa, visto que é uma das baladas mais bonitas já feitas por Jagger e Richards. Além dela, as tais faixas de “Babylon” também surgem: “Saint Of Me”, “Flip The Switch”, “Thief In The Night” e “Out Of Control”, todas já registradas em disco ao vivo, a saber, “No Security”, de 1999.

 

Além desta injeção de faixas então recentes, o que “Bridges To Bremen” traz de novidade é uma inesperadissima versão ao vivo para “Wanna Hold You Now”, do subestimado “Undercover”, de 1983 e “Like A Rolling Stone”, que, apesar de ter surgido na turnê que gerou “Stripped”, é sempre bem vinda, lembrando que os Stones passaram pelo Brasil na época, tocando a canção com o próprio Dylan, num evento sem precedentes na história da música pop planetária até os nossos dias.

 

Entre o óbvio e a mágica de um show dos Rolling Stones, “Bridges To Bremen” entrega mais do mesmo. Mesmo assim, está acima da maioria dos álbuns ao vivo, que, infelizmente, se tornaram compromissos mercadológicos com gravadora, deixando sua mágica potencial para trás, a de ser um souvenir além do tempo, uma passagem de ida e volta para algum momento mágico compartilhado com milhares.

 

Em tempo: “Bridges To Bremen” tem lançamento nas versões CD, DVD, Blu-Ray e combos.

 

Ouça primeiro: “Like A Rolling Stone”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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