RIP, Ivan Conti Mamão

 

 

Acordar com a notícia da morte de um gigante como Ivan Conti Mamão não é pra qualquer um. E foi exatamente o que aconteceu hoje, em meio a mensagens emocionadas de sua esposa, Sandra e de sua gravadora, a Far Out Recordings, colocando-o como um dos maiores bateristas de todos os tempos. Não é exagero, visto que Mamão foi um dos arquitetos da fusão samba-jazz com o funk e, a partir daí, com uma vastidão de possibilidades estéticas que vieram na segunda metade dos anos 1970. Até então, ele já fizera parte de vários conjuntos e, junto com Alex Malheiros e José Roberto Bertrami, integrava o Azymuth, desde 1968. Cinco anos depois, a banda estrearia em disco com “O Fabuloso Fittipaldi”, acompanhando Marcos Valle.

 

 

Os músicos do Azymuth eram muito requisitados para tocar em álbuns de outros artistas, de Erasmo Carlos a Raul Seixas, e, apesar do sucesso nacional que tiveram em 1975, quando “Linha do Horizonte” se tornou hit por conta da trilha sonora da novela “Cuca Legal”, o Azymuth demorou para ser reconhecido por aqui. Precisou chegar os anos 1990 para que a cena dos clubes ingleses enxergasse o brilhantismo dos álbuns que a banda continuou a gravar nos anos 1970 e 1980 para que o trio ganhasse notoriedade por lá, e, num movimento “de fora pra dentro”, ser valorizado por aqui. O Azymuth vinha produzindo álbuns com regularidade nos últimos anos, mesmo após a morte de Bertrami em 2012, tendo chamado Kiko Continentino para assumir suas funções. O próprio Mamão chegou a gravar, também pela Far Out Recordings, um belo álbum solo em 2019, chamado “Poison Fruit”, no qual seus companheiros de banda tocam em todos os instrumentos.

 

 

No ano passado, Mamão participou do show de Marcelo D2 no Mita e se apresentou com sua banda, entre vários shows aqui e lá fora, no Campo de São Bento, aqui em Niterói, num daqueles momentos suspensos no tempo e no espaço. A gente fez a resenha do show, que você pode ler aqui. O Azymuth se preparava para uma turnê mundial de comemoração dos cinquenta anos da banda. Faria um show no Blue Note de São Paulo no dia 24 de abril.

 

 

Mamão era ótima praça, talentosíssimo e cheio de vida. Vai fazer falta aqui neste mundo cada vez menos povoados por seres como ele. Obrigado, meu caro.

 

 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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