Como é Barbie aos olhos de uma menina de quinze anos?
Sim, leitores, é isso mesmo. O texto que vocês verão abaixo foi escrito pela Elisa Pistune, irmã de Helena, uma amiga querida de muitos anos. Eu havia dito a ela que não teria chance de fazer um texto sobre o filme de Greta Gerwig, fosse por falta de tempo, fosse por falta de lugar de fala. O que eu, um macho véio de 53 anos, poderia dizer sobre o longa? Poderia fazer um texto criticando a falta de noção e a masculinidade frágil dos homens cordiais brasileiros cristãos diante do impacto das imagens e do roteiro de Greta e Noah Baumbach, mas, diante da oferta de ter uma criação de uma parte preciosa do público – as adolescentes – vi que seria algo realmente válido. Depois que recebi o texto de Elisa, completamente perfeito e cheio de ótimas conclusões, minha certeza só aumentou. Sendo assim, deixo vocês com a realização da Elisa, aí embaixo, com título e tudo e com pouquíssima revisão.
Barbie: Como a história de uma boneca virou uma tragicomédia de sucesso
Sem dúvidas, Barbie é o filme do momento. Não se fala em outra coisa a não ser o live-action da boneca mais famosa do mundo, que em apenas no seu primeiro final de semana já arrecadou US$356 milhões no mundo inteiro. A obra dirigida por Greta Gerwing e protagonizando por Margot Robbie se destacou pelo seu humor afiado e pela grande atenção aos detalhes, além do longa emocionar com as mensagens que apresentou. Diferente do que muitos esperaram sobre o filme, não foi nada previsível e com certeza não demostra uma história fantasiosa e infantil, muito pelo contrário. Barbie mostra a hipocrisia de uma sociedade regida pelo patriarcado e consumismo, de uma forma muito simples, porém recheada de criticas e informações.
O roteiro de Gerwing e Noah Baumbach apresenta a Barbielândia, um lugar totalmente fantasioso onde vivem Barbies, Kens e também um Allan. Neste universo, as bonecas são tudo o que elas quiserem, desde sereias até membros da suprema corte, já os bonecos não são nada demais, só são os Kens, acessórios das Barbies. A história gira em torno da Barbie Estereotípica, que vive em um mundo aparentemente perfeito, cercada de amigas perfeitas, as outras Barbies, e acredita que seu propósito é inspirar meninas no mundo real. No entanto, mudanças de comportamento a levam a uma crise existencial inevitável. Para enfrentar essa confusão, ela embarca em uma jornada de auto-descoberta, explorando seu mundo e o mundo real onde foi criada para ser um exemplo e gerar lucros. O filme não tem sutileza ao cutucar o status quo, apresentando comentários sociais e políticos através de diálogos sagazes e atuações irônicas.
A crítica é o cerne da trama, utilizando metalinguagem para confrontar o sistema em que está inserido, inclusive questionando a empresa Mattel por trás da boneca. Barbie, enquanto dialoga com meninas e mulheres através de referências nostálgicas, aborda questões como o padrão de beleza inalcançável e seu impacto na autoestima de várias gerações. O longa não se limita a atingir apenas aqueles com posturas misóginas e conservadoras, mas também critica os progressistas que buscam protagonismo em detrimento da verdadeira igualdade. A representação dos Kens como estúpidos provoca uma reação que revela a fragilidade da masculinidade.
A trama se desenvolve como uma conversa entre amigas, com a atuação de Margot Robbie como Barbie clássica sendo elogiada pela naturalidade. O filme enfatiza a importância de não definir as mulheres por papéis pré-estabelecidos e não rotulá-las por suas mazelas ou sofrimentos. O apelo do filme é direcionado especialmente ao público feminino, incentivando a assistir e discutir a perspectiva única oferecida pelas cineastas Greta Gerwig e Margot Robbie. No entanto, a obra não exclui o público masculino, embora busque provocar reflexão em relação a visões preconceituosas.
Elisa Pistune.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.
Que orgulho da minha irmãzinha!
Obrigada, CEL!
Eu que agradeço, lindona.