O Lado Bonito do Oscar 2022 tem Rosto de Mulher

 

 

Para começar esse texto eu preciso contar uma coisa: adoro a festa do Oscar, por mais irrelevante e questionável que ela pareça para algumas pessoas.

 

Minha família nuclear ama cinema e quando eu morava com meus pais, costumávamos assistir à cerimônia juntos desde que a rotina da segunda-feira nos permitisse. Se a vida no começo da semana estivesse corrida, bastava uma olhada nas notícias do dia seguinte e pronto, tínhamos assunto para a hora do almoço e planos de ver os filmes que ainda não havíamos assistido.

 

Nos últimos anos a dinâmica dessa coisa tão nossa mudou: minha mãe me liga para saber se estou assistindo à alguma transmissão, eu reclamo que não tenho TV a cabo e faço para ela minha lista de torcedora, que ontem tinha acabado de receber o nome da Ariana deBose, indicada, favoritíssima e vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo remake de Amor Sublime Amor, dirigido pelo Steven Spielberg.

 

Assisti ao filme no sábado e antes de saber que a Ariana era indicada, fui pega pela luz que ela irradia desde a primeira cena, com um vestido lindo preto e vermelho, ajudando a protagonista e sua cunhada Maria (Rachel Zegler) a se vestir.  Sua personagem Anita irradia segurança, humor e drama na medida certa, fazendo dela um destaque em um filme de protagonistas medianos.

 

A primeira adaptação de Amor Sublime Amor para o cinema, filmada em 1961, faturou 10 Oscar, sendo um deles de atriz coadjuvante para a primeira latina a ganhar o prêmio, a porto-riquenha Rita Moreno, pelo papel adivinhem de quem?

 

Da mesma Anita que colocou um sorriso lindo e um discurso potente no rosto e na voz da Ariana ontem, com a presença da Rita no público. Rita também está no filme, agora como Valentina e a cena dividida por elas transborda a dor que as décadas, seja a de 50, em que se passa o filme, sejam as atuais, forjam no corpo e na vivência feminina.

 

Fiz até dancinha na cozinha quando soube da vitória da Ariana porque sou dessas.

 

Dessas que na paixão pelo cinema esperava que as histórias de duas mulheres latinas se cruzassem mais uma vez e se agigantassem pelo espaço apertado e preconceituoso que a indústria tenta impor ao seu talento.

 

Sou dessa que se apaixonou pela Rita ao vê-la como a abuelita da série da Netflix “One day at a time”, minha salvação durante uma das crises de ansiedade terrível, e que só depois, pela curiosidade cinéfila, descobriu que ela é uma das poucas artistas da história a possuir os prêmios Tony, Emmy e o Oscar.

 

Sou dessas que se transportam pelos filmes musicais, por mais batidos que sejam os seus temas. Dessas que se imaginam pelas cenas lindamente coreografadas e cantam as músicas conhecidas pelos cds de trilhas sonoras que os pais colecionavam.

 

Das que sabem o quanto o caminho construído por quem se arriscou a viver seus sonhos antes de nós merece ser respeitado, motivo de gratidão e do reconhecimento que Ariana demonstrou por Rita e Chita Rivera, a atriz que imortalizou Anita na Broadway, em seu discurso:

 

Ser capaz de fazer parte do legado de Anita que inclui Chita [Rivera] e Rita [Moreno] – e agora Ariana – é muito especial para mim. E somos todos tipos muito diferentes de latinas, isso é bonito e importante também. Não há uma maneira de ser latina ou hispânica. Existem muitas maneiras bonitas. Acho que cada um de nós é uma prova disso”

 

Talvez tanto sonho e fascínio sejam utópicos, mas eu ainda sou das que acreditam e abraçam o cinema como representatividade, amor, talento e mudança. É o rosto desse cinema que eu vou levar do Oscar de 2022.

 

Os rostos lindos das duas primeiras atrizes a receberem o Oscar pelo mesmo papel.

 

As donas da história sobre a qual a gente também deveria estar falando.

 

 

Debora Consíglio

Beatlemaniaca, viciada em canetas Stabillo e post-it é professora pra viver e escreve pra não enlouquecer. Desde pequena movida a livros,filmes e música,devota fiel da palavras. Se antes tinha vergonha das próprias ideias hoje não se limita,se espalha, se expressa.

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