No Cinema Com Peter Gabriel

Vejam como Peter Gabriel inicia o texto de divulgação de sua novíssima coletânea, “Rated PG”:

“Eu sempre amei filmes e aproveitei todas as chances de trabalhar com cinema de boas histórias e bons diretores. Esta é uma mistureba de canções que eu escrevei para filmes e outras, que já existiam, que se inseriam bem dentro de um roteiro. Por conta disso, esta coletânea é uma mistura de estilos e climas”.

Uma olhada na história do sujeito vai mostrar que ele, aos 18 anos, deixou de lado uma vaga para cursar a Faculdade de Cinema para se dedicar à música, nos tempos em que ele era o cérebro principal do Genesis. A associação de Peter Gabriel com a telona também não é motivo de estranhamento: os mais fluentes em sua obra hão de lembrar sua aparição da trilha sonora de “Birdy”, filme de Alan Parker, lançando em 1984. Também é marcante seu envolvimento com a sonorização de “A Última Tentação de Cristo”, filme de Martin Scorsese, que trazia Willem Dafoe como um atormentado e muito humano Jesus Cristo. O que esta coletânea oferece é um olhar para as participações menos badalas de PG em trilhas, versões e adaptações para o cinema. Tem de tudo um pouco, inclusive algumas revelações interessantes, como, por exemplo, a excelente “Walk Through Fire”, composta para o filme “Against All Odds”, cuja canção-tema, de autoria de Phil Collins, transformou o ex- companheiro de Gabriel no Genesis em superastro mundial.

PG também é um cara democrático quando se trata de escolhas. Ele pode participar de filmes como “Dança Comigo?”, com uma comovente versão para  “The Book Of Love”, de Randy Newman, como de “Babe 2 – O Porquinho Na Cidade”, com “That’ll Do”, ou como de “Assassino Virtual”, filme noventista obscuro, com Denzel Washington e Russell Crowe, com a tribalesca “This Is Party Man”. E surgir ao lado do falecido popstar paquistanês, Nusrat Fateh Ali Kahn, na ótima “Taboo”, que figurou em meio ao painel manicomial-sonoro da trilha de “Assassinos Por Natureza”, filme “sociedade do espetáculo” de Oliver Stone. Sem falar na belíssima “Down To Earth”, canção que encerra uma das melhores produções da história da Pixar, “Wall-E” e no uso maravilhoso de uma versão de “In Your Eyes”, sucesso de 1987, na composição sonora de “Primeira Dose”, obscuro filme de Cameron Crowe, lançado em 1989.

Como é um artista ciente de seu papel e nada oportunista, Peter disponibiliza três canções inéditas: “Everybird”, do filme “Birds Like Us”; “Speak (Bol)”, de “The Reluctant Fundamentalist” e “Nocturnal”, de “Les Morsures de l’Aube”, conferindo um charme todo próprio a esta ótima “Rated PG”.

Detalhe: a coletânea só foi lançada digitalmente e edição limita em vinil, numa caixa com arte sensacional. Ela cumpre um importante papel de contemplar essas participações de PG no cinema, peculiares e ótimas. Como sua própria música.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

2 thoughts on “No Cinema Com Peter Gabriel

  • 19 de abril de 2019 em 07:04
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    Última tentação de Cristo é do Scorsese, e não do Coppola. 😉

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    • 19 de abril de 2019 em 08:01
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      Rapaz, se eu te disser que confundo os dois desde sempre…..obrigado, já corrigi.

      Resposta

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