My Morning Jacket volta com disco belo e discreto

 

 

My Morning Jacket – My Morning Jacket

Gênero: Rock alternativo

Duração: 60 min.
Faixas: 11
Produção: Jim James
Gravadora: ATO

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

Não parece, mas o My Morning Jacket é contemporâneo de conterrâneo de bandas como Killers e Strokes. Digo que não parece porque, enquanto estas duas formações centram suas baterias em influências que vêm dos anos 1980 para frente, o MMJ optou por refrescar e reinterpretar o folk rock americano dos anos 1970, mais precisamente aquele praticado por gente como Neil Young. Com este novíssimo álbum homônimo, o grupo liderado pelo talentoso vocalista e produtor Jim James, chega ao seu nono lançamento e segue fiel no caminho que decidiu trilhar lá em 1998, em Louisville, Kentucky. É uma banda fora de época mas que não se deixa levar pela nostalgia, sempre dando um jeito de trazer para o século 21 estas informações do folk/country rock setentista. Com o tempo, MMJ foi fazendo pequenas e boas incursões por terrenos mais pop e até mais soul, com James provando ser um versátil vocalista.

 

O grupo não entrava em estúdio desde 2015, quando gravou e lançou “The Waterfall”. Aquelas sessões foram tão boas e férteis, que o pessoal saiu do estúdio com material suficiente para dois álbuns. Sendo assim, em 2020 veio “The Waterfall II”. O que parecia, no entanto, um sinal de boa fase era, na verdade, um grupo sem certeza de futuro. James se tornou um artista solo de sucesso e o guitarrista multitarefas Carl Broemer mergulhou em vários projetos paralelos e isso fez com que a banda quase encerrasse suas atividades. Em 2019, no entanto, eles voltaram para poucos shows e tudo funcionou como dantes no quartel de abrantes, a tal ponto que entraram novamente em estúdio e registraram estas canções novíssimas pouco antes da pandemia chegar. Agora, quase dois anos depois, este disco homônimo chega para mostrar esta retomada e coincide com a turnê que a banda já empreende em solo americano.

 

“My Morning Jacket”, o disco, é um harmonioso e interessante feixe de onze canções redondas e diversas. O grupo soltou três singles desde o fim de agosto e a diversidade entre eles apontava para um belo trabalho. O primeiro deles, Regularly Scheduled Programming”, é rockão climático cheio de detalhes e contrastes – letra e arranjo, instrumental e levada – numa bela alquimia entre novo e velho. O segundo, “Love Love Love”, é a prova de que é possível ter sacada de gênio apenas com palavras repetidas. Ao longo do arranjo, o título da canção é repetido como mantra e como canto-resposta, numa pequena maravilha melódica. E o terceiro single, “Complex”, é outro tipo de rockão, dessa vez com um riff meio hard rock que não soa fora de espaço e pavimenta o arranjo para uma bela melodia.

 

Mas este disco tem bem mais surpresas. Tem três faixas épicas, com mais de sete minutos de duração, sendo que, “The Devil’s In The Details” é uma das mais belas criações do grupo, com melodia belíssima e interrupção no meio da canção, com solos e aloprações bem-vindas. “In Color” é outra que tem ótimas guitarras e um arranjo luxuoso, em câmera lenta. “Least Expected” é um flerte do MMJ com o chamado soft rock do fim dos anos 1970, belo e sensacional, com cara de trilha sonora de rádio FM em 1978, você dirigindo seu Fusca amarelo e conversível na Pacific Coast Highway. E ainda tem a beleza folk de “Out Of Range pt.2”, que tem mais ambiência acústica e ótima performance vocal de James.

 

Este nono trabalho não vai fazer o My Morning Jacket chegar a novíssimas audiências ou mudar o mundo, mas vai restituir o sorriso ao rosto dos fãs e, se tudo der sorte, manter a banda unida e disposta para lançar novos discos. É um belo exemplo de como o rock pode soar legal e interessante em pleno 2021 sem precisar apelar para fórmulas fáceis e/ou irritantes.

 

Ouça primeiro: “Love, Love, Love”, “Complex”, “The Devil’s In The Details”, “Least Expected”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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