Wilco – Ode To Joy

 

Gênero: Rock alternativo
Duração: 42 minutos
Faixas: 11
Produção: Jeff Tweedy, Tom Schick

Gravadora: dBpm

3.5 out of 5 stars (3,5 / 5)

 

 

O Wilco deu uma enganada em seus fãs. Soltou um single há pouco, chamado “Love Is Everywhere (Beware)”, cheio de ganchos melódicos e belezuras crocantes, dando a perceber que “Ode To Joy”, o novo álbum, seria uma espécie de mistura entre “Summerteeth” (1999) e o último trabalho de Jeff Tweedy, “WARM”, lançado no fim de 2018. Como diria Jorge Ben: “mas que nada”. Este novo trabalho é muito mais difícil de analisar do que parece, está longe de ser um compêndio melódico bonitinho e bem distante do que a banda apresentou nos últimos álbuns, “Star Wars” (2015) e “Schmilco” (2016), que, cá entre nós, eram bons indutores ao sono. Sendo assim, qual é a onda deste “Ode To Joy”? O que Tweedy e seus asseclas pretendem com isso, gente?

 

Confesso que perdi o interesse pela banda há mais de uma década. O último trabalho do Wilco que me moveu foi “Sky Blue Sky”, do distante ano de 2007, mas admito precisar ouvir os seus subsequentes, “The Wilco Album” (2009) e, especialmente, “The Whole Love”, de 2011. Mesmo assim, por mais que estes trabalhos tenham valor, não dá pra negar que, no mínimo, o Wilco deixou pra trás os tempos de banda aventureira, especialmente retratados no início dos anos 2000, quando quase transcendeu seu âmbito alternativo com o buchicho em terno de “Yankee Hotel Foxtrot” e “A Ghost Is Born”, de 2002 e 2004, respectivamente, que flagraram a banda em momento angustiado e de reinvenção, parindo canções estranhas, intensas e tortas. Foi com essa pele que vieram ao Brasil pela primeira vez. Quando voltaram, há mais de um ano, já eram um grupo mais acomodado, que parecia gordo e feliz em sua própria mitologia.

 

Confesso que adentrei “Ode To Joy” com ouvidos impacientes e pronto para uma detonação total. A primeira metade do disco me deu o mesmo sono que os trabalhos recentes, porém, a partir de “White Wooden Cross”, a sexta faixa, me dei conta de que há, de fato, algo interessante por aqui. Dá pra notar um pouco da veia atormentada do Wilco desejando vir à tona, mais equilibrada, mais cascuda, mais racional, talvez cutucada pelo momento péssimo que o mundo passa hoje, talvez por algum outro motivo sentimental de Tweedy, vá saber. O fato é que dá pra entender o conceito sutil que une as canções do disco: cutucar o mundo que teme o amor, ou, pior, que não é mais capaz de enxergá-lo. O Wilco vem falando da força criativa do amor e isso, por mais que pareça papo de hippie velho, ainda faz sentido.

 

Sendo assim, temos que dizer que “White Wooden Cross” é uma lindeza à beira do abismo, que tem melodia folk entremeada por um belo arroubo de guitarra, que conduz tudo para uma boleia de caminhonete Ford numa autoestrada daquelas dos USA, na qual estamos com as pessoas queridas, as quais queremos na nossa vida pra sempre. “Citizens”, em seguida, é uma falsa canção pop de três minutos, mas que é conduzida por um timbre de baixo quase marcial, que emoldura a voz barbitúrica de Tweedy, a caminho de alguma redenção de bolso. “We Were Lucky” é, simplesmente, o maior épico que o Wilco constrói nesses anos 2010, o que, caramba, é um belo de um elogio. “Love Is Everywhre (Beware)”, o single feliz e amoroso, você já conhece e, se tudo estiver certo em sua vida, ama. “Hold Me Anyway” é uma daquelas canções do Wilco em que a voz de Tweedy parece demais com a de John Lennon, em meio a uma melodia plácida e folkie, mas, muito, muito bonita. O fecho com “An Empty Corner” é adequado, lento, cinematográfico, triste, dolorido, bem, wílquico o bastante.

 

“Ode To Joy”, caso fosse um EP grandão, seria o maior lançamento da banda em muito tempo. Como é um disco, com uma metade quase desperdiçada, serve para nos atiçar e manter aquele admirador de Tweedy e cia vivo, querendo saber notícias e tudo mais. Há belas canções aqui, não as despreze.

 

Ouça primeiro: “We Were Lucky”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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