Maria Sabina & a Pêia – Brincando com Fogo

 

 

Gênero: Rock alternativo, MPB

Duração: 25 min.
Faixas: 8
Produção: Adalberto Rabelo Filho
Gravadora: Independente

 

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

Totalmente cantável, decorável e adorável é Brincando com Fogo, álbum es estreia de Maria Sabina & a Pêia. Com pouco mais de 25 minutos, os brasilienses reúnem mensagens políticas, um som empolgante em uma mistura de guitarras, cavaquinho e percussão que resulta no pezinho batendo no chão, doido pra levantar da cadeira e vibrar no ritmo das canções.

 

Dançante e engajado, o disco já começa com a energia lá pra cima, se mundo livre s/a tivesse um vocal feminino, seria esse o resultado. “A Desertora” abre o trabalho com uma mescla de sons do cerrado, guitarra malandra de Bruno Sodré e a voz marcante de Maria Sabina. O quarteto também conta com Bil Detrito Federal no baixo e Éveri Sirac no violão, backing vocal e sintetizador. Eu aposto que vocês vão cantar e querer sacolejar por ai.

 

“Mal sabe o moço que eu quase larguei

Minha vida e minha casa e também desertei

De um chefe ordinário e um marido pra trás

Dos medos e vícios

Que eu não quero mais

não quero mais

Pode dar certo, pode sossegar.

Livre liberto, para desertar”

 

Um belo convite ao desapego, o risco de sair e viver fora padrões tradicionais, das pessoas  da sala de jantar. Pode dar certo, ou não, mas vai, deserta! As faixas são curtas e pegam a gente desprevenido, sujeitos a decorar e montar um palco no meio do quarto pra poder pular.  Abalo sísmico que representa justamente essa surpresa da paixão, do amor que vem e bagunça tudo e aquece a alma. Traz sangue às veias novamente, revira as gavetas. É brincar com fogo mesmo, é entortar a linha da vida organizada.

 

Os donos do poder nos querem tristes e sem esperança, sendo a alegria e o canto dois verdadeiros atos de revolução e resistência. A banda sabe disso e faz a festa em uma mistura de paixões e revoluções em um disco que vibra do início ao fim.

 

E eu adoro quando temas existenciais, morais e questionadores são embalados como um grito de força e resistência. “Além do bem e do mal” é faixa inspirada em Nietzsche e nessas questões atemporais do ser e existir neste mundo hipócrita. Falando em hipocrisia o disco segue com a ótima “Cara de Inocente”, e a exposição do cidadão de bem, cara de pau, com o discurso anticorrupção, mas que fura a fila do pão, vocês sabem bem de quem estamos falando né?

 

Em uma realidade de álcool gel e nos amores envolvidos em nuvens a tecnologia é santa. Santa Tecnologia, faixa dançante e embalada vem cantar essa tecnologia que nos permite amar 24 horas e trazer o seu grande amor no mais novo app, baixe logo na lojinha do seu smartphone. Para o bem ou para o mal, a tecnologia tá ali e já amamos através das telas, fones e microfones, gifs, figurinhas, paixões avassaladoras que morrem na velocidade de um meme, que perde a validade quando outro surge. E por falar em tecnologia e redes sociais em relações disponíveis na palma da mão, “Todo Mundo é Corno”, fala de um mundo em que a não traição nas relações parece ser a pedra fundamental. Será? E de que adianta não trair e também não se entregar? Lembra que ser fiel não quer dizer ser leal. Bom, isso é papo para reunir o pessoal de porre em uma mesa do bar.

 

“Brincando com fogo” vem trazer a reflexão em forma de vibração, dar leveza e empolgação às tensões humanas, às relações em um mundo que já ultrapassou a liquidez, tornou-se álcool gel, que passa pelas mãos e se desfaz em vapor. Disco de estreia é excelente, já deixou um gosto de “quero mais disso daí, viu”?

 

O trabalho vem em bom momento para trazer leveza a um mundo que sabe fazer doer e machucar. Comece com “A Desertora” e siga no ritmo da percussão, cavaquinho e guitarrinha que sabe trazer peso e malemolência.

 

Ouça primeiro: “A Desertora” e “Abalos Sísmicos.”

 

Ariana de Oliveira

Ariana de Oliveira é canhota de esquerda, Cientista Social, estudante de Jornalismo e comunicadora da Rádio Univates FM. Sobre preferências: vai dos clássicos aos alternativos.

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