Greta, Greta, Gretinha Van Fleet

 

Greta Van Fleet – The Battle At The Garden Gate

Gênero: Rock

Duração: 63 min.
Faixas: 12
Produção: Greg Kurstin
Gravadora: Universal

2.5 out of 5 stars (2,5 / 5)

 

 

 

 

Sabe quando você dá um presente caro pra uma criança e ela sai aprontando todas dentro de casa e com os amiguinhos do colégio? Esta é a impressão que tenho deste novo álbum dos americanos Greta Van Fleet, “The Battle At The Garden’s Gate”, que marca a chegada da banda a uma, digamos, primeira prateleira do rock planetário. Turbinado pela produção pop-estelar de Greg Kurstin, que já pilotou estúdios para Paul McCartney, Foo Fighters, Beck e Adele, o Greta foi levado a passear nos terrenos das ótimas sonoridades de estúdio, com direito a orquestras, cordas, naipes, timbres, tiques e taques, tudo a serviço de viabilizar sua sonoridade setentista, deliberadamente derivativa, para o maior número possível de adolescentes dos anos 2020, que não têm conexão possível com as matrizes de seu som, a saber, Led Zeppelin, Rush e umas pitadinhas de Yes, aqui e ali. É uma espécie de corote do rock dos anos 1970. Entendam como quiserem.

 

O Greta Van Fleet, apenas para lembrarmos, é um quarteto formado pelos irmãos Kiszka (Jake na guitarra, Sam na bateria e Josh nos vocais), além do amigo Danny Wagner, no baixo. São moleques que caíram no gosto de outros moleques por conta de sua sonoridade, que, aos ouvidos mais treinados, soa extremamente derivativa de Led Zeppelin, Rush e outras bandas de 50 anos atrás. Claro que não há problema em ter influências no rock, mas mas os Gretas vão longe demais na inspiração total nessas referências. Se, por um lado, isso é chato para os mais velhos, por outro confere à banda uma certa imunidade em relação a esses mesmos fãs, que olham para os Kiszkas e pensam: “nossa, eles tocam muito” ou “nossa, ele canta igual ao Geddy Lee”, afirmações típicas de roqueiro empoeirado. O fato é que o Greta preenche uma lacuna de mercado, a de banda “tradicional” com apelo pop e sucesso comercial e a contratação de Greg Kurstin é a maior prova disso. Seu trabalho no álbum é admirável, conferindo uma sonoridade polida, perfeita, que dá ênfase a um “lado épico” da banda, que investe em climas esotéricos e ecológicos, bem como no exorcismo das baladas zeppelinianas de álbuns como “Houses Of The Holy”.

 

Mas há um problema crucial. As composições são fracas e repetitivas, necessitando de um ancoradouro de sonoridades e timbres que, ao evocarem o classicismo setentista, distraem o ouvinte. Todo mundo fica pensando em como o vocal de Josh vai a tons agudíssimos sem explodir as veias de seu pescoço ou como os músicos conseguem emular uma espécie de Led Zeppelin Jr, algo que impressiona só a quem começou a ouvir rock com o Muse. Dá angústia também o fato do álbum soar como se fosse um produto que ignorasse totalmente tudo que foi feito na música de 1975 pra cá, de uma forma deliberada, comercial, marcada, zero autenticidade. Mas, como diria o mercado, é a onda dos moleques e agora eles têm a grana para bancar sua viagem. Nada errado nisso, oras.

 

Ouvindo as melodias com isenção, nota-se uma preferência total por tons épicos e de redenção. Há passagens que têm tons épicos de bolso, decalcados do manual rock mais clássico, caso de “Trip The Light Fantastic”, que é um baladão apoteótico-apoplético. Tem o single “My Way, Soon”, que tem um pouco mais de peso e andamento, mostrando que o Greta poderia ser mais interessante se largasse o ramo da cópia fotoestática. Tem “Heat Above”, que é legal e bonita, certamente a melhor faixa por aqui, na qual o grupo incorpora certa belezura espacial à la Yes, mas o resto é uma overdose de climas com pinta de Terra Média, caso de “Tears Of Rain”, “Light My Love” ou “Caravel”.

 

O maior mérito do álbum é a produção de Greg Kurstin, que evoca os timbres e as tonalidades que lhe foram exigidas. O grupo é derivativo, mas tem tino mercadológico para se manter vivo. Este disco certamente vai agradar aos fãs, que vão mostrar suas faixas aos amigos, devidamente extasiados, sem acreditar no quão bem está soando sua banda preferida. Bem, o tempo vai colocá-los no caminho certo.

 

Ouça primeiro: “Heat Above”, “My Way, Soon”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

5 thoughts on “Greta, Greta, Gretinha Van Fleet

  • 19 de abril de 2021 em 18:50
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    Lucas eu escuto de Slayer a Anitta ela e uma delicia você não sabe o que esta perdendo, relaxa, cara!!!

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  • 17 de abril de 2021 em 23:44
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    Mais um crítica de tiozão saudosista que pensa que moleques não podem tocar como os de antigamente, pois é um ofensa. kk vão escutar Annita, chorões.

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    • 18 de abril de 2021 em 07:43
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      Eles podem, só precisam ter boas composições e entender o que significa tocar como nos anos 1970.

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  • 16 de abril de 2021 em 15:16
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    Pode cremar logo de uma vez.

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  • 16 de abril de 2021 em 14:15
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    Parafraseando um certo vocalista, ” se isso e a milionésima salvação do Rock, pode enterrar o cadáver “

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