Entrevista: Gal Costa

 

 

Gal Costa não para. Há pouco tempo ela estava nos palcos, fazendo os últimos shows da turnê que divulgou o ótimo álbum “Pele do Futuro”, de 2018. Em seguida deu início ao projeto Gal 75, no qual pretendia comemorar seu aniversário com disco, show, tudo novo. Daí, em meio à pandemia, a cantora precisou repensar o projeto e se saiu com um disco de duetos – “Nenhuma Dor” (resenha aqui) – no qual recebeu vários cantores para recriar alguns de seus sucessos mais belos. Com o produtor Marcus Preto a seu lado, Gal segue importantíssima, disposta, cheia de ótimos planos e intenções, prontos para serem colocados em prática quando vier a vacinação.

 

Fizemos esta entrevista por e-mail, perguntando sobre o atual momento, suas esperanças e engajamento político diante da atual situação do país.

 

 

– Gal, você está completando 75 anos de idade e sua música poucas vezes soou tão jovem. Qual o segredo?

Eu tenho vontade de ousar sempre, faz parte da minha personalidade. Não me sinto velha, eu tenho uma alma jovem, eu tenho energia, e isso se reflete nos meus trabalhos.

 

 

– Qual é o papel que seu novo disco, “Nenhuma Dor”, tem na sua carreira? Ele é um compêndio de recriações, releituras? O que você tinha em mente para o disco?

Esse era um projeto que chamava Gal 75, que a gente tinha a intenção de fazer virar um disco. O Marcus Preto teve essa ideia antes da pandemia, mas ele foi concretizado durante a quarentena.

A gente não tinha a intenção de transformar esse trabalho em algo de carreira. Foi um disco gravado para trazer alegria para o público.

 

 

– Suas origens são a Bossa Nova, mas, ao abraçar a Tropicália, sua música inseriu várias influências, que pautaram a sua trajetória. Você tem algum momento preferido em sua obra?

Não tenho. Tudo o que eu já fiz, está perfeitamente inserido na minha história como cantora. Gosto de arriscar, fazer coisas novas e isso me alimenta. Sinto prazer em não ser igual em todos os trabalhos.

 

 

– Ainda que você não seja compositora, suas interpretações sempre conferiram um traço próprio a canções de vários autores. Qual seu compositor favorito? Há algum?

Não tenho um compositor favorito, mas o Caetano, sem dúvida é um deles Acho que compõe para mim como nenhum outro. A sensibilidade que ele transmite em suas canções é algo único e espero cantar suas composições por muito tempo.

 

 

– Os seus discos mais recentes – “A Pele do Futuro”, “Estratosférica” e “Recanto”, além de te reconectarem com essa música mais contemporânea, de autores atuais, todos se transformaram em shows, lançados também em disco e vídeo. Qual a importância do show como momento de complementar esses discos de estúdio?

Quando eu subo no palco, vem uma energia não sei de onde, de Deus, dos cosmos, dos anjos, da estrelas, do meu orixá, enfim, vem essa energia e eu me sinto com muita vitalidade. Por isso, com certeza, assim que for possível e seguro, esse disco vai para os palcos.

 

 

– Você se manifestou várias vezes sobre o governo atual. Você é uma pessoa ligada em política ou a situação caótica te despertou esse engajamento?

Eu sempre fui.

 

 

– Como você escolheu os participantes de ‘Nenhuma Dor”? Só há vozes masculinas…

O ponto central entre eles é que foram influenciados pelo meu trabalho, pelo meu canto. Eu tenho uma grande influência de um homem, que é o João Gilberto. A estética do canto dele sempre me atraiu muito. E é muito legal ver que eles se inspiram em mim e têm influência no meu canto.

Foi uma escolha a quatro mãos. A ideia e os convidados me foram trazidos pelo Marcus Preto e eu recebi com muito amor. Já conhecia o trabalho de todos eles, com alguns já tinha trabalhado antes. É importante artistas de uma geração se conectarem com outras e, de certa forma, eu transmito meu legado.

 

 

– Sei bem que a pandemia impediu todos os planos de shows para 2020 e deve atrapalhar bastante em 2021. Você pretende, se possível, levar esse disco para o palco?

Eu pretendo, sim, fazer show desse disco. Assim que estivermos todos vacinados e seguros, eu levo esse show para os palcos.

 

 

– Como está sendo esse período para você? Está em casa, em confinamento? Desenvolveu algum hábito por conta disso tudo?

Eu normalmente sou muito caseira, claro que não me isolo e não me afasto das pessoas, mas gosto de ficar em casa. O momento agora exigiu isso da gente e é difícil pra mim, como tem sido difícil para todo mundo, quando a gente é obrigado a ficar em casa.

Eu tenho ficado mesmo em casa, não saio para nada.

 

 

– Você é otimista sobre a situação atual do país?

Eu tenho esperança de que dias melhores virão. A esperança move a humanidade. A gente não pode desistir.

 

 

– Se você pudesse gravar um dueto com qualquer cantor, cantora de qualquer tempo, com quem seria? E por que?

É difícil escolher. Como eu sempre digo, eu gosto de inovar, seguir novos caminhos na minha carreira, ousar parcerias, ousar novos compositores. Estou sempre aberta a novas ideias, sem tenho muitos projetos, quero fazer muitas coisas ainda.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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