Marcelinho da Lua – Insolente

Gênero: Eletrônico
Duração: 44 min
Faixas: 12
Produção: Marcelinho da Lua, Marcio Menescal e Bruno LT
Gravadora: Sony

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

Marcelinho da Lua ficou um bom tempo longe do disco. Quer dizer, de seus trabalhos solo, porque o sujeito participa do BossaCucaNova e, volta e meia, está com parceiros como Lulu Santos e Paralamas do Sucesso – entre outros – produzindo, mixando, remixando e coisando música por aí. O tempo passou e o híbrido de Bossa Nova, dub, eletrônica, drum’n’bass e hip hop, que da Lua ajudou a formatar por aqui, no início do milênio, ficou terrivelmente datado. Sendo assim, como continuar transitando pelos caminhos da música eletrônica sem soar fora de época?Simples, fazendo valer o seu próprio estilo, além do tempo. E o resultado disso é “Insolente”, o terceiro álbum do produtor e DJ.

 

Como é um cara legal e talentoso, Marcelinho recebe uma quantidade altíssima de convidados em seu álbum. Mesmo que isso seja normal em discos de DJ’s e artistas de música eletrônica, a diversidade de nomes ajuda a dar uma cara multifacetada ao disco, mas faz isso sem abrir mão da carioquice que ele exala. Mesmo que seja o Rio mais ao sul do Tùnel Rebouças, seja na abordagem, seja na leitura, o que está representado mais fortemente no álbum, isso não tira o brilho de muitas canções que estão nele. Gravado num estúdio caseiro, “Insolente” tem seu valor.

 

Logo na segunda faixa já damos de cara com um remelexo eletrônico com a voz de Larissa Luz, “C’est Saia”, que reprocessa batidas e ritmos nordestinos/negros com precisão e convida para a pista de dança de um Circo Voador num sábado pré-show. A recriação ska- marchinha de “Quando Eu Contar (Iaiá)”, que foi sucesso na voz de Zeca Pagodinho nos anos 1980, é faceira e estaria pronta para tocar nas rádios, caso elas ainda existissem como meio de divulgação de boa música. No mesmo molde, mas com cara de remix feito por caras como Fatboy Slim, a partir de alguma gema da soul musica brasileira desenterrada, está “Herança Verdadeira”, com Roge. Batuque e programação de bateria, todos do mesmo lado.

 

Outras faixas se destacam: “Não Vendo”, com Lucas Santana, tem tamborim em meio a letra crítica com o verso “eu não vendo meu samba nem por um caralho, pode apostar, e se ficar magoado, liga pro Credicard”. A voz suave de Fernanda Takai dá cores inesperadas a “Pode Acreditar”, mais próxima das revisitadas bossnovísticas que ambos estão acostumados a fazer, enquanto “As Rosas Não Falam”, clássico atemporal de Cartola, surge com uma inesperada base d’n’b que não o avilta nem adultera, mantendo intacta a sua essência derramada. Em “Sebastião”, Marcelinho presta homenagem a seu filho e a Tim Maia, com trechos de letras e frases declamadas por eles três.

 

“Insolente” é um sopro de vida na música eletrônica brasileira, que parece ter sido encampada pelo que há de mais lamentável possível. Audição recomendadíssima.

 

Ouça primeiro: “C’est Saia”

 

 

Foto: Marcos Hermes

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *