Kylie Minogue – Disco

 

Gênero: Pop

Duração: 53 min
Faixas: 16
Produção: Sky Adams, Duck Blackwell, Teemu Brunila, Linslee Campbell, Jon Green, Kiris
Houston. Troy Miller, Nico Stadi, Biff Stannard, PhD
Gravadora: Darenote/BMG

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

Vamos fazer uma reflexão: por que este álbum “Disco”, mais recente trabalho da cantora australiana Kylie Minogue, não está em pé de igualdade com lançamentos de artistas como Beyonce, Lana Del Rey ou Lady Gaga? Kylie compõe, tem ótimos produtores, voz legal, presença de palco, uma carreira cheia de discos pop de respeito, além de um hit universal, a ótima “Can’t Get You Out Of My Head”. Que tipo de respeito artístico ela precisa para reivindicar uma posição neste olimpo de cantantes divas que a crítica insiste em coroar, mesmo que façam trabalhos razoáveis? Posso dizer com toda a certeza deste mundo que “Disco” é, não só um dos melhores álbuns deslavadamente pop que ouço em muito tempo, como é absolutamente eficaz na sua proposta, a de dar uma revisitada nas pistas de dança de lugares como o Studio 54.

 

 

Bem, nem tanto, né? Na verdade, Kylie fez um trabalho em que abraça as referências da Disco Music como um todo, sejam elas as originais, da época, fim dos anos 1970, início dos anos 1980, como a sua revisita contemporânea, especialmente aquela feita pelo Daft Punk em 2013, com a ajuda de Nile Rodgers, em “Random Access Memory”. Além disso, Kylie colocou seu próprio nariz na empreitada, acrescentando seu bom senso pop contemporâneo, obtendo ótimos resultados dançantes, pulantes e tal. Em alguns casos, é de se admirar a engenharia de estúdio, voltada especificamente para a busca de novas fórmulas de arranjos sacolejantes. Aliás, Kylie participa da parte técnica do álbum, fazendo a engenharia de som, algo que ela aprendeu durante a pandemia. Ela e mais um time de dez produtores fazem de tudo para equilibrar a balança de “Disco” com timbres e soluções que comuniquem com o passado do estilo, mas que não tenham a completa desconexão com o presente e a ação do Daft Punk acaba cumprindo um papel de bússola e regulador, impedindo que as faixas soem muito “velhas”.

 

Outro detalhe importante: não há uma única canção ruim em “Disco”. Tudo aqui é extremamente bem feito, bem gravado, com melodias perfeitas, arranjos que não pesam a mão no aspecto sintético da produção, mas não deixam de dar umas bicadas nas sacrossantas timbragens da Disco Music. O único problema é que, após algum tempo, a audição tende a se tornar um tanto monótona, mas é um pecado menor. Ouçamos por exemplo, “Magic”, a faixa de abertura e segundo single. Teclados que flertam com timbres do chamado AOR do início dos anos 1980 abrem a melodia e Kylie vem com seu vocal pop acima de qualquer suspeita. Baixo, bateria e arranjo rumam para belezura de refrão e clima não totalmente disco, mas inegavelmente “feel good”. Em “Supernova” a coisa já ruma para a pista de dança e a referência a Daft Punk é total, tanto que a faixa poderia ser uma das colaborações da dupla francesa em seu “Random Access Memory”.

 

“Last Chance” lembra algo da fase popíssima de Donna Summer nos anos 1980, enquannto “I Love It” pega emprestados os rodopios de cordas típicos do globo espelhado e introduz uma melodia altamente grudenta, feita em laboratório. “Where Does The DJ Go” é outra belezura dançante, com ótimo baixo, guitarrinhas chacundum e vocais de apoio muito bem postados. O refrão é irresistível e parece trilha sonora de comédia romântica atualzinha, com mulheres protagonistas. “Dance Floor Darling” já pega mais na mão do tecnopop datadaço e passeia graciosamente pelas alamedas oitentistas, enquanto “Unstoppable” brinca com altos e baixos aerodinâmicos. O fecho com “Celebrate You” não poderia ser mais legal, com outra melodia feita em laboratório para obter apenas a satisfação do freguês. Dentre as quatro faixas extras que a versão de luxo traz, o destaque indubitável é “Fine Wine”, que tem andamento levemente parecido com “Bad Girls”, mais uma referência a Donna Summer.

 

“Disco” é uma pausa na sua vida atribulada do cotidiano opressor. Kylie Minogue te oferece pouco menos de uma hora de sossego e ótimas canções, nostálgicas na medida, modernas até certo ponto, prontas para turbinar sua pistinha de dança no metrô, no ônibus, na barca, em casa, enfim…

 

Ouça primeiro: “Supernova”, “Fine Wine”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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