Entrevista – Cícero

 

 

Cícero está lançando “Cosmo”, seu quinto disco (a gente resenhou aqui). No roteiro musical estão a sonoridade característica do cantor e compositor carioca, mas algo soa mais amplo, maior. Talvez a morada atual em Portugal, talvez a própria maturidade do artista, acumulada ao longo de uma carreira que frutificou na última década e fez dele um dos nomes da música alternativa que realmente importa.

 

Em meio a esta situação de pandemia, Cícero respondeu a algumas perguntas enviadas por e-mail, opinando sobre o álbum, o estado atual do país e, claro, como fazer para lidar com este inesperado confinamento.

 

– Como fazer com esse confinamento? O que você está fazendo?

R. Aguardar. Aguardando. Aproveitando e arrumando umas gavetas, respondendo uns e-mails, regulando uns instrumentos, lendo… e dando entrevistas pra falar do meu disco novo!

 

 

– Como o artista pode contribuir num momento como este?

R. Fazendo arte… nesse momento de confinamento, os músicos, por exemplo, podem se apresentar on-line, o que é uma boa forma de acompanhar as pessoas em suas quarentenas.

 

 

– “Cosmo” é um álbum mais diversificado dentro da sua discografia. Como você o situa em relação aos seus outros trabalhos?

R. Acho ele uma sequência natural dos meus últimos discos. Tem a linguagem deles, mas como trata de outro ponto de vista, de outros assuntos, os arranjos, timbres, se adequaram.

 

 

– Como Portugal influencia na composição?

R. Onde eu moro sempre influencia os discos. Me mudo muito, a cada disco estou morando num lugar diferente. Portugal deu esse ar mais amplo pro disco, mais arejado, menos áspero. Tem a ver com o dia-a-dia de lá.

 

 

– O sentimento de saudade e desejo por uma outra realidade parece ser uma constante nos teus trabalhos, de um modo geral. Confere? Ou é só uma impressão deixada pelo novo álbum?

R. Não sei muito bem quais impressões cada álbum deixa, arte tem essa imprevisibilidade. Mas saudade e desejo de outra realidade não são questões especialmente importantes pra mim, passo por elas como parte das questões humanas.

 

 

– Como foi o processo de composição e produção? Você tocou todos os instrumentos?

R. Compus todas as músicas e produzi o disco, mas não toquei todos os instrumentos. Convidei músicos, brasileiros e portugueses, para gravar vários instrumentos. Eu mesmo toquei guitarra, violão, os baixos e alguns sintetizadores.

 

 

– O que você tem ouvido de novo e de velho? Quais tuas inspirações para o novo trabalho?

R. Um pouco de tudo e muito de pouca coisa. Agora com o Streaming eu começo ouvindo uma coisa e acabo ouvindo outra que nunca ouviria por conta própria, mas acabo gostando. Não consigo mais pontuar.

 

 

– O Brasil vive um momento particularmente difícil, praticamente sequestrado por pessoas sem noção. Como isso te afeta artística e pessoalmente?

R. Passo raiva, como qualquer pessoa com senso crítico. Estamos sendo governados por pessoas precárias.

 

 

– Shows suspensos por enquanto, como um artista pode lidar com este lockdown que estamos vivendo?

R. Criando. Os shows são importantes, mas criar é mais. Nesses momentos de crise, a criatividade aflora. Pra arte tudo é alimento.

 

 

– Se fosse possível desejar que esta pandemia trouxesse algo de bom, apenas uma coisa, o que você escolheria.

R. Empatia.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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