Os 25 Guilty Pleasures Nacionais (1990-2000)

 

 

“Guilty Pleasure” é um termo que só os mais velhos usam e entendem, justamente porque são velhos. Significa gostar de algo que não é aceito por uma intelectualidade, por um consenso que lhe atribua valor elevado. Ou seja, trocando em miúdos, é gostar de algo considerado “ruim” por formadores de gosto. É um conceito preconceituoso e datado, ainda bem, porque, hoje em dia, é de senso comum, pelo menos entre as pessoas progressistas, que não existe expressão artística menos valiosa que outra. As culturas são igualmente importantes, cada uma em seu universo próprio, com seus valores, sentidos e significados. Quem mede a importância de manifestações culturais comparando lugares e experiências, está sendo preconceituoso. E isso a gente não é. Por isso, resolvemos postar as nossas canções queridas que jamais entrariam em listas descoladas de melhores de algum tempo e espaço. A gente não está nem aí, inclusive, expõe nossas contradições a céu aberto, incluindo canções de artistas que criticamos, como o Capital Inicial, Charlie Brown Jr, Jota Quest e similares, justamente porque não dá pra analisar a carreira de uma banda, cantora, cantora, e não encontrar absolutamente nada que tenha valor.

 

 

Além disso, no caso específico da música popular, existe o fator “memória afetiva”, que transforma e acrescenta camadas de informação, variando de uma pessoa para outra. Sendo assim, escolhemos um recorte um pouco maior que uma década, no caso, a de 1990. Começamos um pouco antes, em 1989, e encerramos em 2002. São 25 canções queridas, que ouço com frequência, muito mais interessantes que vários “sucessos de crítica” que estão por aí, simbolizando “o melhor” da década de 1990. E, além disso, pessoalmente não confio em pessoas que só gostam de obras que fazem sucesso apenas entre críticos distantes da experiência popular. Aqui está a nossa listinha. Veja, ouça, concorde, discorde, comente.

 

 

Natiruts – Andei Só (2001) – a banda brasiliense começou como Nativus e estourou no fim da década de 1990. Esta canção, do álbum “Verbalize”, é linda e ostenta uma bela letra.

 

Grupo Molejo – Samba Rock do Molejão (2001) – quem não gosta de “Samba Rock do Molejão” e não enxerga nela uma baita melodia, uma interpretação feliz e um arranjo contagiante, não tem coração e não entende de música.

 

Raça Negra – Jeito Felino (1994) – uma das mais belas melodias do pop dos anos 1990, sem qualquer dúvida. O arranjo de teclados, atualizando o padrão churrasqueiro de alta performance, é belíssimo.

 

Charlie Brown Jr – O Coro Vai Comê (1997) – a banda de Chorão e seus parças começou com esta música, que é bem legal. Depois enveredou por caminhos mais cabeçudos e personalistas, que tiraram essa alegria adolescente, presente aqui.

 

CPM22 – Regina Let’s Go (2001) – o grupo de hardcore melódico teve neste primeiro hit um início promissor, que não se concretizou. Aqui tudo é rápido, com uma letra bacaninha e um clipe que era bem legal.

 

Rouge – Ragatanga (2002) – a letra desse chiclete faz alusão a “Rappers Delight”, sucesso primevo do hip hop, da Sugarhill Gang. O arranjo pop plástico, a melodia e o refrão são irresistíveis.

 

Jota Quest – Onibusfobia (1996) – faixa que encerra o primeiro – e bom – álbum de estreia do Jota Quest, que na época, chamava-se J Quest. O arranjo é bom, a letra é bem humorada e a citação de “Neurastênico”, sucesso na voz do MPB4, contribui para o clima de festa. Depois desse disco o grupo sucumbiu a modelos equivocados de canção e tornou-se praticamente insuportável.

 

 

Cidade Negra – A Sombra da Maldade (1994) – o disco “Sobre Todas As Forças”, de 1994, é um dos mais belos da década de 1990. Há várias canções legais nele, mas “A Sombra da Maldade” é praticamente perfeita.

 

LS Jack – Carla (2002) – o grupo carioca LS Jack teve uma carreira marcada pelo acidente ocorrido com o vocalista Marcos Menna, que ficou impossibilitado de cantar. Antes disso, porém, o LS cravou esta que é um dos mais grudentos e bem acabados sucessos pop de seu tempo.

 

Art Popular – Agamamou (1999) – talvez a banda de pagode mais inventiva dos anos 1990, o Art Popular atingiu o pico de criatividade com este colosso dançante.

 

Paulo Ricardo – A Um Passo da Eternidade (1989) – egresso do RPM, que havia terminado um ano antes, Paulo Ricardo tentava se inventar como astro tecnopop roqueiro. O primeiro disco, homônimo, teve esse sucesso tecladeiro, épico e desesperado, com uma melodia muito bonita e um arranjo bacanudo.

 

Ronaldo e os Barcelos – Feliz Aniversário (1998) – essa é uma das canções mais tristes de todos os tempos temporais. O relacionamento terminou, mas, quando chega o aniversário da ex-amada, o pobre sujeito lembra de tudo o que aconteceu e de como era bom poder comemorar a data juntinho. De partir o coração de qualquer pessoa que tenha sentimentos.

 

Capital Inicial – Mickey Mouse em Moscou (1989) – esse semi-glam politizado de araque do Capital está presente no álbum “Todos Os Lados” e é bem legalzinho. É uma das, digamos, três ou quatro canções passáveis dos brasilienses.

 

Engenheiros do Hawai – Alucinação (1997) – quem começou a revalorização de Belchior foram os Engenheiros, sete anos antes dos Los Hermanos fazerem versão de “A Palo Seco”. Esse arranjo aqui é eletrônico light e a letra não está completa, mas é bem legal.

 

Travessos – Quando a Gente Ama (1997) – alguns grupos de pagode paulistanos gravaram canções com arranjos interessantes, como este sucesso dos Travessos que tem elementos de funk eletrônico e rap em meio à pegada tradicional de samba. E isso é bem legal.

 

 

Renato Russo – La Solitudine (1995) – “Equilíbrio Distante” é um alvo fácil quando o povo quer falar mal de Renato Russo, sempre chamado de brega e desnecessário. Eu enxergo grande valor no álbum e nas faixas que entraram no disco de sobras “O Último Solo”, lançado alguns anos depois. A versão do sucesso de Laura Pausini é bem feita, derramada e exagera, como convém.

 

Sampa Crew – Eterno Amor (1994) – pioneiro desse formado de rap samba lentinho entre os grupos de pagode paulistas, o Sampa Crew tinha uma dupla de vocalistas distintos e sensacionais.

 

Soweto – Mundo de Oz (1997) – sim, este é o grupo que o abominável Belo liderava nos anos 1990. Só que esta canção, junto com algumas outras gravadas no início da carreira, colocam o Soweto em meio aos melhores de seu tempo.

 

Rotnitxe – Reggae da Polícia (1995) – banda que tinha Mongol e Tom Capone em suas fileiras, o Rotnitxe era um sucesso entre os alunos de Comunicação Social da Uerj, lá por 1996. Esta canção é um clássico abstrato e subjetivo, sobre melhores condições de trabalho e vida para a … polícia.

 

Deborah Blando – Unicamente (1994) – quem aí lembra da ítalo-americana-brasileira Deborah Blando? Gravou um álbum em inglês, em 1990, fez sucesso com a faixa “Boy”. Quatro anos depois ressurgiu, cantando em português e inglês. Essa canção aqui tem uma onda meio cachoeira de rio, meio Oxum, meio candomblé da nova era, que é bem legal e bonita.

 

Kelly Key – Baba (2001) – quem me lê há tempos sabe da admiração que tenho por este primeiro álbum de KK. “Baba”, seu maior sucesso até hoje, não envelheceu em termos artísticos, mas os tempos revelaram uma letra que quase incentiva a pedofilia. Mas tudo bem, a canção ainda pode ser entendida da forma original.

 

Banda Brasil – Poderosa (1993) – banda paulista “underground” em meio ao boom dos grupos de pagode nos anos 1990, mas dona deste hit respeitável e com um ótimo arranjo pop funk tecladeiro em meio ao fraseado sambístico predominante. Parece bastante com Raça Negra, até mesmo nas figuras líricas de praia, litoral, onda do mar, etc.

 

Só Pra Contrariar – Essa Tal Liberdade (1994) – outra canção colossal vinda de grupos de pagode romântico dos anos 1990. Os mineiros do SPC chegaram ao ponto mais alto de sua poesia romântica com esta faixa dilacerante sobre o que se faz com a liberdade adquirida com o fim do relacionamento…

 

 

Negril – Pense Bem (1999) – uma pena que o Negril nunca tenha se firmado como uma banda de reggae de dimensões nacionais. Esta canção, de autoria de Herbert Vianna, é absolutamente linda, envolvida num arranjo muito bem pensado.

 

 

Daniela Mercury – Só Pra Te Mostrar (1993) – falando em Herbert Vianna, ele presenteou Daniela Mercury com esta belezura, que tem um arranjo pop eletrônico bem legal e diferente de tudo que a baiana gravava na época.

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

One thought on “Os 25 Guilty Pleasures Nacionais (1990-2000)

  • 6 de setembro de 2022 em 14:11
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    Essa do Negril é muito boa. E o videoclip, é muito legal também. Já “O coro vai comê” vem com forte (e boa) memória afetiva.

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