Hayley Williams – Petals For Armor
Gênero: Rock alternativo, pop alternativo
Duração: 55 min.
Faixas: 15
Produção: Taylor York
Gravadora: Atlantic
Você deve conhecer Hayley Williams como a vocalista do Paramore, aquela banda americana, meio punk/emo, meio pop, que surgiu nas paradas de sucesso em 2007, logo com seu segundo disco, “Riot”. De lá pra cá, o grupo lançou mais quatro álbuns e, justo no último, “After Laughter”, houve a clara sinalização de que o Paramore estava para alterar sua palheta sonora, incluindo aí bem-vindas programações eletrônicas, alguma consciência indie e outros detalhes que fizeram muito bem ao seu som. Isso foi em 2017 e agora, três anos depois, Hayley ressurge como artista solo, sem que isso signifique o fim da banda, mas, convenhamos: ela sempre foi a figura central e interessante. E o que ela tem a dizer com este personalíssimo “Petals For Armor”? Eu te conto.
A vida não foi fácil pra moça nestes últimos tempos. Casou, divorciou e viu parentes sofrerem acidentes sérios – sua avó – o que trouxe a depressão. Sob esta influência – dolorida, mas válida – Hayley encontrou na composição e em sua invenção como artista solo, a saída para melhorar e voltar ao normal. Em termos sonoros, “Petals…” é próximo do último álbum do Paramore, mas abre muitos caminhos dentro das sonoridades possíveis no indie pop e no pop alternativo em geral. A moça faz uma incursão em várias possibilidades e já inovou no lançamento das faixas, que vieram sob a forma de três EP’s ao longo dos últimos meses. Enquanto ela deixa o rock arenístico da sua banda original para trás, a disposição para adentrar em novos nichos acaba se tornando o grande atrativo de “Petals For Armor”.
Em primeiro lugar, este é um disco bastante feminino. Suas mensagens, pontos de vista e mesmo o acabamento musical falam bastante às mulheres, especialmente porque Hayley não tem qualquer pudor em compartilhar opiniões e pontos de vista através de suas letras. Além disso, os arranjos e instrumentais apontam para a modernidade, conferindo uma moldura polida e interessante para as faixas. Há influências de Tori Amos em vários momentos (como em “Leave It Alone” e “Why We Ever”), mas também há certa presença de Talking Heads reprocessado em outras passagens – casos de “Creepin'” e “Dead Horse”, por exemplo.
E há alguns momentos novos em termos de direção sonora: a levada eletrônica pop de “Over Yet” é bem feita e otimamente pensada; a ótima linha de baixo que pontua “Pure Love” – que também exibe uma ambiência meio soul branquela oitentista -, a percussão intrincada de “Taken” (igualmente tributária do soul pop dos anos 1980); a afinidade dançante que tem “Sugar On The Rim” e o experimentalismo que mistura boa levada muscular/funky com algo que lembra Prince em “Watch Me While I Bloom”, sem falar no fecho do álbum, com a balada derramada sobre teclados e climas, “Crystal Clear”.
“Petals For Armor” é um disco que, além de servir como sinalizador de novas direções para Hayley, mostra que a moça tem talento e coragem em deixar de lado o porto seguro de sua banda e adentrar novos e novíssimos mares, exibindo talento e desenvoltura. Um bom álbum.
Ouça primeiro: “Watch Me While I Bloom”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.