Goo Goo Dolls – The Miracle Pill

Gênero: Rock alternativo
Duração: 37 minutos
Faixas: 11
Produção: Johnny Reznik
Gravadora: Warner

2 out of 5 stars (2 / 5)

 

O anúncio do Goo Goo Dolls para o Rock In Rio 2019 me lembrou a contratação de Waldemar Lemos para o posto de técnico do Flamengo em outubro de 2003. Em péssima fase, o clube carioca anunciou o Sr. Waldemar numa antológica entrevista coletiva, fato que não foi bem recebido pela torcida, que ocupava o local em busca de explicações. A participação do repórter da ESPN Brasil, Cícero Melo, foi definitiva, ao perguntar para Eduardo Moraes, então diretor do time: – E por quê o Waldemar, hein?

 

Pois é. Cito então Cícero Melo e pergunto: Por quê o Goo Goo Dolls, hein? A banda teve seus dias de glória há mais de 20 anos, com um único single, a balada “Iris”, que marcava, justamente, a mudança sonora do grupo de Buffalo, em direção a um rótulo paradoxal, o Adult Alternative. Pois foi aí que Johnny Reznic e Mike Takac, os próprios Goo Goo Dolls, deixaram para trás o passado com alguma relevância de canções como “Name” ou “Naked”, em prol de uma espécie de cruza entre Bon Jovi e Soul Asylum. Não é preciso dizer que este tipo de som é, para ser elegante, fraco e grandiloquente pelos motivos errados.

 

As décadas de 2000 e de 2010 foram de glorioso esquecimento da banda por aqui, ficando datada diante de coisas como Imagine Dragons ou do próprio Bon Jovi, que, bem ou mal, tem mais moral e repertório que os Goo Goo. Pois então, a banda está lançando um novo álbum, este “Miracle Pill”, no qual busca, novamente, uma atualização do seu pop datado e irrelevante. Não dá pra dizer que os caras são compositores ruins: cada faixa presente aqui tem potencial grudento acima do normal e algumas são interessantes, como “Money, Fame & Fortune”, que tem melodia pop bacaninha e arranjo radiofônico com bons vocais de apoio feminino, mas é bem pouco para chegar chegando como o grupo fará por aqui.

 

Além da própria sensação de anacronismo, há momentos em que a busca pela “modernidade” soa desesperada. “Step In Line” soa como se o Bon Jovi solo tentasse decalcar tiques e taques do U2 dos anos 1980. “Indestructible” parece uma sobra de “Sam’s Town”, o segundo disco dos Killers, enquanto o single “Autumn Leaves” é inócua e abarrotada de tiques e taques de produção. “Over You” tem pouco menos de três minutos e parece durar tanto quanto uma sessão de “Dança Com Lobos”. Fechando a tampa, “Think It Over” tenta voltar aos tempos gloriosos do fim dos anos 1990, mas novamente faz parecer que Bon Jovi está em algum lugar do estúdio, assombrando-o.

 

Ao fim e ao cabo, Goo Goo Dolls parece deslocado e sem sentido como o Sr. Waldemar, fadado ao esquecimento ou, melhor dizendo, à lembrança involuntária e pelos motivos errados. Bola foríssima.

Ouça primeiro: “Money, Fame & Fortune”. Ou não.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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