Eagles Of Death Metal – Presents Boots Electric Performing The Best Songs We Never Wrote

Gênero: Rock alternativo
Duração: 46 min
Faixas: 13
Produção: Josh Homme e Jeff Hughes
Gravadora: Universal

3 out of 5 stars (3 / 5)

 

A gente lembra do atentado ocorrido na casa de espetáculos parisiense Bataclan, durante um show do Eagles Of Death Metal, em 2015, no qual morreram 89 pessoas. Se foi terrível para quem viu as imagens e soube do acontecido, imagine para Jeff Hughes, o líder da banda, que estava lá, diante do caos, sem poder fazer muita coisa, além de salvar a própria pele. Pois Jeff entrou em depressão por algum tempo e fazer covers de canções queridas surgiu como uma terapia inesperada. A banda comercializou em vinil o álbum “e Eagles of Death Metal Present: Pigeons of Shit Metal” e viu que seria uma boa ideia lançá-lo em formatos digital e CD, com um repertório ampliado. Esta é a origem de “Presents Boots Electric Performing The Best Songs We Never Wrote”, sendo que o “Boots Electric” não é outro, senão o próprio Jeff.

 

Por uma coincidência estranha, uma versão que a banda fez – “Save A Prayer”, do Duran Duran – ficou marcada como uma espécie de simbolo daquela noite terrível em Paris. Sendo assim, o caminho das covers ficou marcado para sempre no EODM e é louvável que Jeff – e seu amigo/colaborador desde sempre, Josh Homme – tenham escolhido a arte de fazer versões como uma forma de exorcizar o evento trágico de suas mentes. Sendo assim, Hughes tomou a frente da seleção de repertório e colocou pra jogo um monte de canções que privilegiam, especialmente, o terreno do hard rock – AC/DC, Kiss -, mas também teve a manha de repetir a sacada de “Save A Prayer” e olhar para composições que ficaram famosas com gente como George Michael ou Mary J. Blidge. O resultado, como é em todo disco deste tipo, oscila entre o razoável e o legal. Com algumas reservas.

 

O maior problema do álbum é a sua uniformidade. Se o EODM, por um lado, segue a cartilha do “apropriar-se de canções alheias e torná-las suas”, por outro, isso torna o resultado muito parecido. Deste jeito, “God Of Thunder”, do Kiss, soa quase igual a “So Alive”, dos pós-punks darks Love And Rockets. Este nem é o principal problema, mas há um clima de relaxamento total no estúdio, o que confere às faixas uma aura de “demo” que nem sempre é bem vinda. O medley “High Voltage/It’s A Long Way To The Top (If You Wanna Rock’n’Roll)”, formado a partir de duas canções do AC/DC, não tem força alguma. “Beat On The Brat”, originalmente dos Ramones, não funciona bem na levada glam/boogie soturna da banda.

 

Se há momentos em que o disco faz sentido, estes surgem com versões de canções que não são originalmente pertencentes ao hard rock. É o caso do sucesso pop oitentista de Steve Miller Band, “Abracadabra” e da baladaça “Careless Whisper”, de George Michael, totalmente subvertidas e envenenadas no submundo da banda. “Moonage Daydream”, clássico de David Bowie, também surge com uma boa roupagem, soando interessante. O mesmo também ocorrer com a tal faixa de Mary J. Blidge, “Family Affair”.

 

“Presents Boots Electric Performing The Best Songs We Never Wrote” é o típico disco que é produto destes tempos digitais: uma ideia original de desopilar o espírito de uma banda, que talvez devesse ficar restrita aos arquivos, ganha status de disco oficial e chega ao público. Não é ruim, mas é totalmente esquecível.

 

Ouça primeiro: “Abracadabra”

 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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