E o disco de remixes do … Billy Idol??

 

 

Rapaz, nada como um tempo “vago” para acharmos pequenos tesouros para a nossa prateleira de “guilty pleasures”. A mais nova descoberta desta área obscura do gosto musical – mas que é essencial para todos nós – foi o sensacional “Re-Vitalized”, o álbum de remixes que Billy Idol lançou em 2018. Como eu não soube disso na época? Mas, bem, isso não é nada que não possa ser corrigido agora.

 

Em primeiro lugar, Billy Idol se tornou sinônimo de artista para não ser levado muito a sério. Ele não é indie, não é popstar, não é exatamente um rocker. Ele talvez seja um bom exemplo do que o personagem de Hugh Grant fala em “Letra e Música”: um “hasbeen”. Uma relíquia, alguém que já teve o seu tempo e que, por conta disso, tem sua obra inapelavelmente presa ao recorte temporal no qual se originou. No caso de Idol, tal espaço de tempo vai de 1983 a 1990. E só.

 

Seu primeiro single foi “Dancing With Myself”, ainda com o grupo Generation X, do qual Idol fez parte entre 1980 e 1982. Depois disso, mudou-se da Inglaterra – onde nasceu – para os Estados Unidos e lá passou a tocar sua carreira solo. E enfileirou hits de sucesso como “Rebel Yell”, “Eyes Without A Face”, “Flesh For Fantasy”, “Shock To The System”, “To Be A Lover”, “Cradle Of Love” e a cover simpática para “LA Woman”, dos indefectíveis The Doors. A vantagem é que todas as canções que importam na carreira de Billy cabem numa boa coletânea simples. Em quase todas há ótimos riffs de guitarra – executados pelo bom Steve Stevens – e uma interpretação “dedicada” de Idol, que forjou – talvez sem querer – o termo “punk de butique”, ou seja, aquele sujeito bem nascido, com posses, que prefere se vestir rasgado e ostenta cabelos estilo moicano e adereços como correntes e tachinhas. Supla é um dedicado seguidor dessa estética.

 

A carreira de Idol quase foi interrompida por conta de um acidente de moto no início dos anos 1990. Ele já aparece mancando nos clipes de seu quarto disco, “Charmed Life” e saiu de cena logo após. Entre 1993 e 2018, Billy só lançou quatro discos, assumindo um perfil mais comedido. Aos poucos foi se tornando a figura “hasbeen” à qual nos referimos acima, até que dei de cara com a coletânea de remixes, “Re-Vitalized”, um trocadilho com seu primeiro greatest hits, de 1985, “Vital Idol”.

 

A princípio, um artefato desta natureza pode significar risco imediato para um artista como Billy Idol. Pode ser uma tentativa desesperada de voltar à ativa com uma “nova roupagem”, algo no gênero. Por outro lado, se ele acerta no alvo, o êxito é certo. E Billy mostrou não ser alheio ao cenário da música atual, convocando um time de artistas bem heterogêneo para mexer em suas obras originais. Há gente moderníssima como o duo brasileiro Tropikillaz, que refaz o sucessão “Eyes Without A Face” a ponto de transformá-la numa canção que poderia ter sido gravada ontem. O andamento muda, o instrumental, tudo é bem pensado e legal. RAC transforma “Dancing With Myself” em algo mais moderno, mas tem o cuidado de não alterar a pegada original, num híbrido interessante. Moby também dá as caras em “(Do Not) Stand In The Shadows”, operando uma cirurgia plástica que confere tinturas drum’n’bass e pegada apocalíptica ao velho standard.

 

A grande sacada de “Re-Vitalized” é trazer esses remixadores do passado, além de Moby – que manteve-se na ordem do dia – estão presentes Paul Oakenfold e The Crystal Method. O primeiro mexe magistralmente em “One Breath Away” – que surge em duas versões – e o duo americano transforma nada menos que “Rebel Yell”, talvez a melhor gravação de Idol, que tem o andamento desacelerado, guitarras enfatizadas e uma cara completamente nova. Ainda digno de nota é o remake de uma outra canção sensacional: “Flesh For Fantasy”, que ressurge nas mãos de St. Francis Hotel.

 

“Re-Vitalized” é uma jujuba sonora. Colorida, mastigável, cheia de novidade e familiaridade ao mesmo tempo. Nem precisa ser fã doentio de Billy Idol para descobrir a belezura das novas versões. E nem precisa ouvir muito a sério para sentir vontade de correr atrás dos registros originais, todos disponíveis no seu serviço de streaming. Segura na mão de Deus e vá na fé. Billy Idol é legal, desde que na medida certa.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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