Rookie – Rookie

 

 

 

Gênero: Rock

Duração: 12
Faixas: 41 min.
Produção: Barret Guzaldo, Rookie
Gravadora: Rookie Chicago

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

Talvez sejam os efeitos da quarentena. Talvez seja algum resíduo canceriano mais resistente. O fato é que este álbum de estreia do sexteto americano Rookie me emocionou. Oriundo de Chicago, o grupo tem uma garra rock’n’roll incontestável, que só lembro de ouvir recentemente no igualmente americano White Reaper. É uma mistureba de Faces, Rolling Stones, Thin Lizzy, Cheap Trick, Big Star e outras influências setentistas que estão fora das edições mais recentes do manual “Como Fazer Rock”. Não há quase nada de anos 1980, de new wave, de pós punk, muito menos qualquer sinal de eletrônica. O Rookie é totalmente setentista e tem orgulho disso.

 

A formação já entrega. São três guitarras, baixo, bateria, órgão e aquela diferença que … faz a diferença: talento inegável para ótimas canções grudentas, cheias de ganchos melódicos inevitável, chicletudos, tudo embalado e entregue na segurança do seu lar. Não há como este coração quase cinquentão resistir a tamanha sinceridade na proposta e execução de um álbum em pleno 2020. Digo isso porque esta estreia homônima, além das qualidade mencionadas acima, exala boa música. É um baita álbum, cheio de diversão e sentimento.

 

As guitarras de Max Loebman, Dimitri Panoutsos e Christopher Devlin, devidamente combinadas, são capazes de trazer ótimos riffs, licks e ainda criar molduras sonoras perfeitas. O órgão de Justin Bell é forjado na escola da discrição, ficando sempre no mesmo setor das guitarras, dando mais profundidade e legitimidade ao que está acontecendo. A cozinha de Kevin Tucker e Joe Bordenaro tem a noção exata de seu papel e não procura passar à frente de ninguém. É o alicerce e o cimento da coisa, tudo ao mesmo tempo. É como se o Black Crowes renascesse com um pouco mais de fluência melódica, mais noção pop e um amor inconfessável pelo Big Star. Não por acaso, o Rookie excursionou com os mestres desta sonoridade pesadinha + sensível: o Cheap Trick.

 

Das doze canções do álbum, metade é sensacional. A abertura com “Hold On Tight” é um convite para entrar no clima. Guitarras por todos os lados, bateria e baixo fluentes, vocais sensacionais, esporro e melodia lado a lado. “Fake Grass” já mostra que o Rookie tem a manha para fazer uma canção um pouco menos esporrenta, mas capaz de sustentar melodias ao piano, demonstrando amor e sensibilidade. “Elementary Blues” é a balada perfeita, falando de passado no presente, com detalhes de steel guitar e uma aura country rock de fazer chorar. O refrão é uma pequena obra prima, que só poderia ser capaz em velhuscos mas os caras, na casa dos vinte, chegaram lá, com uma aura Alex Chilton/Big Star que emociona os mais sanguinários e cínicos. E a trinca “Michigan”, “Miss United States” e “E Jam” é a expansividade, a grandiloquência rock’n’roll de tempos idos, mais improvisação, solos, baterias virando por todos os lados, enfim, um tempo que o tempo esqueceu.

 

Rookie, dito assim, parece apenas um exercício de nostalgia do tempo presente, certo? Errado, pois os sujeitos conseguiram gravar um disco em que a entrega e o talento para fazer canções são os grandes trunfos e isso, ao que parece, é atemporal. Um dos grandes discos do ano, desde já.

Ouça primeiro: “Elementary Blues”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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