David Bowie – ChangesNowBowie

 

 

Gênero: Rock

Duração: 32 min.
Faixas: 9
Produção: Reeves Gabrels, Mark Plati e David Bowie
Gravadora: Warner

[usb 4.0]

 

Pode parecer um clichê – na verdade, é – mas, para mim, David Bowie não morreu. E mais: se depender de mim, não morre jamais. Sua personalidade multitarefas, terrivelmente pós-moderna, sua mente à frente do tempo, sua capacidade de transitar por vários campos da arte, sua história, seu presente, passado e futuro, tudo junto, forma uma massaroca de informações e admiração que são – novo clichê – maiores que a vida. De vez em quando surgem comprovações disso e este adorável “ChangesNowBowie” é um exemplo inesperado disso.

 

Ele seria um dos lançamentos do Record Store Day, evento global de apoio às lojas de disco, tristemente esvaziado neste ano por conta da pandemia da Covid-19. “ChangesNowBowie” traz a íntegra de uma gravação que Bowie fez para a BBC no dia do seu 50º aniversário, em 8 de janeiro de 1997. Ali, recebendo telefonemas e mensagens de parabéns de gente como Damon Albarn e Robert Smith, David deu entrevista, bateu papo e cantou nove músicas, todas devidamente inseridas neste disco. O título trocadilha com a coletânea clássica “ChangesBowie”, de priscas eras, responsável pela atualização constante do repertório do homem junto a novos fãs.

 

As versões são arranjadas por Reeves Gabrels e Marco Piati, que acompanham Bowie na guitarra e teclados – respectivamente – e ainda contam com a presença da sensacional baixista Gale-Ann Dorsey. Um David em ótimo dia, cheio de vontade e em boa forma vocal surge como uma força da natura e o repertório é muito legal, dentro do contexto de resumir uma carreira tão importante como a dele. Das nove faixas, duas são, digamos, fora do comum. “White Light, White Heat”, do Velvet Underground, que surge como lembrança do lançamento de “Ziggy Stardust – The Movie”, no início dos anos 1980, que surge numa roupagem guitarreira e meio fora do ambiente e, numa operação resgate sensacional, “Shopping For Girls”, do segundo álbum do Tin Machine, num arranjo que lhe faz mais jus que o original.

 

As outras sete faixas são um banquete para ouvidos de todos os cantos e origens. Da lindeza da nova roupagem de “The Man Who Sold The World”, então revitalizada pela versão acústica do Nirvana de três anos antes, passando por “Aladin Sane”, “Lady Stardust”, a obscura “The Superman” (também de “The Man Who Sold The World”) e chegando numa ótima “Repetition”, do subestimado “Lodger”, de 1979. As duas últimas canções são nada menos que “Andy Warhol” e “Quicksand”, ambas do sensacional “Hunky Dory”. Sim, é isso mesmo.

 

“ChangesNowBowie” flexibiliza a ideia de “coletânea” e oferece aos ouvintes uma nova e sensacional visão de Bowie, acústica, simples e solene, justo numa época em que ele corria o mundo divulgando o ótimo – e eletrônico – álbum “Earthling”. Lindeza total.

 

Ouça primeiro: “Shopping For Girls”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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