Cloroquina pra nós, vacina pra eles
Mesmo não sendo médico, eu digo que prefiro tomar vacina a me tratar com cloroquina e derivados/similares. E por que eu digo isso? Porque, a exemplo de uma parcela considerável da sociedade, eu leio, me informo, estabeleço as fontes confiáveis para receber notícias e informações. E todas elas, sem exceção, desde o início da pandemia, dizem que esses medicamentos “preventivos” não funcionam para a covid-19. É o que a ciência diz, os médicos, pesquisadores, cientistas, enfim, pessoas que trabalham e estudam sobre isso. Discordar dessas pessoas é o mesmo que ir ao médico e pedir que ele faça a sua declaração do imposto de renda.
Pois bem.
Os tais remédios preventivos, cloroquina à frente, além de não resolver o problema da covid-19, causam outros problemas em quem faz uso deles, inclusive a morte e a degradação de órgãos. Mesmo assim, o governo e seus asseclas empresários usam a propaganda cloroquínica para defender o ponto de que a doença é tratável e que pode ser prevenida. A nota de rodapé deste discurso é: tomem a cloroquina e não parem de trabalhar. Mesmo que seu uso não previna e ainda cause novos problemas, tome e siga como se nada estivesse acontecendo.
Tal visão só é comprovada quando recebemos notícias de empresários e governantes não simpáticos à vacinação em massa, secretamente, discretamente, às escondidas, são inoculados com o imunizante. Por que diabos não tomam cloroquina?
Foi em Minas, em notícia publicada ontem, na Revista Piauí, afirmando que empresários do setor de transportes de Belo Horizonte importaram doses da vacina da Pfizer e, a custo de 600 reais por pessoa, se vacinaram. E não doaram as doses adquiridas ao SUS, conforme diz a lei. Ou seja, para os empregados, povo, gente em geral, o certo é a cloroquina. Mas, para eles, donos do negócio, a vacina é a boa.
Antes destes empresários, entre eles um ex-senador, edir macedo já havia tomado a primeira dose da vacina nos Estados Unidos. Logo ele, que dirige uma instituição que é totalmente alinhada ao governo – cuja política incentiva a cloroquina diariamente – e que, ainda por cima, se recusa a seguir as normas de distanciamento social, promovendo cultos e pregações de forma continuada.
Eu confesso que a resistência e/ou politização da vacinação contra a covid-19 é um episódio inédito para mim. Desde que nasci, o termo ‘vacina’ sempre significou o bem, a cura total, a prevenção e o cuidado/carinho para com o próximo. No fim das contas, parece que a vacina é para poucos, seja pela lentidão imperdoável do governo em promover a imunização em massa da população, seja pela insistência com a cloroquina e similares.
Gostaria que seus defensores abastados ingerissem o medicamento em doses maciças e, ao fazê-lo, assinassem um termo abrindo mão de ocupar leitos por conta de covid-19.
Enquanto isso, ontem, dia 24 de março de 2021, chegamos a mais de 301 mil brasileiros mortos por covid-19 no Brasil.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.