Cinematic Orchestra – To Believe

Gênero: Eletrônico, Jazz, Orquestral
Duração: 53 min
Faixas: 7
Produção: Jason Swinscoe e Dominic Smith
Gravadora: Domino

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

“Que lindeza”. Esta foi a expressão que tomou conta da face deste que vos escreve após ouvir o novo disco da Cinematic Orchestra. Provavelmente você não conhece o grupo britânico, formado no fim do século 20 por Jason Swinscoe e Dominic Smith e eu já vou logo te avisando: esses caras fazem música sensacional, climática, variando do ambient ao trip-hop, com passagens orquestrais, eletrônicas, jazzísticas, em suma, um verdadeiro paraíso para os ouvidos cansados da mesmice e da preguiça das programações normais que grassam por aí. Não por acaso, “To Believe” foi considerado Disco da Semana pela BBB 6, uma instituição com reputação ilibada. E os caras não estavam exagerando.

É o quarto disco da Cinematic Orchestra e o primeiro em doze anos. O anterior, “Ma Fleur”, era mais eletrônico e “dançante” que este. O que aquele tinha em ambientes enfumaçados e batidas engenhosas, este aqui tem em vida e amplitude. É o que a verborragia atual definiria como “orgânico”, por passar a impressão de que temos muita gente tocando instrumentos de verdade ao longo das canções. E, a exemplo de projetos musicais de produtores/DJs/pensadores de estúdio, “To Believe” traz aquela configuração de vários vocalistas convidados se espalhando pelas diferentes canções do disco. A distinção de Swinscoe e Smith em relação à maioria do mercado é a precisão: são sete faixas, não há um acorde além do necessário e isso joga muito a favor da audição do álbum.

Se você quiser uma amostra da genialidade do disco, vá direto para a segunda faixa, a impressionante “A Caged Bird/Imitations Of Life”, que conta com a participação vocal de Roots Manuva, um veterano da cena reggae/trip hop dos anos 1990. A elegância do arranjo, o som das cordas, o veludo austero do instrumental, tudo isso em contraste com a voz de Manuva, impregnada de credibilidade de rua e autoridade. Este contraste é uma característica pensada para “To Believe”: vozes distintas do instrumental, causando espécie em quem ouve e liberando o pensamento para obter uma camada extra de percepção e detalhe. Assim também é com a linda voz de Tawiah em “Wait For Now/Leave The World”, uma espécie de mix enxuto de Massive Attack.

“Zero One/This Fantasy”, com participação de Grey Reverend, emula muito da escuridão musical dos nativos de Bristol, mas o faz de forma mais límpida, algo difícil de explicar, mas a matriz de criação é a mesma e vai cativar quem gosta de trabalhos como “100th Window” ou “Heligoland”. Por fim, Heidi Vogal confere intensidade e vida à paisagem gelada e celestial de “A Promise”. Duas outras faixas povoam o álbum, valendo-se da precisão do grupo para insights instrumentais: “Lessons”, linda e opulenta, vai crescendo sobre uma bateria jazzística inacreditável, enquanto “The Workers Of Art” é quase uma peça de música erudita do século 19, lenta, majestosa, flutuante, uma beleza só.

The Cinematic Orchestra é a exceção que confirma a regra da música pop em nosso tempo. Para toneladas de canções fugidias, com prazo de validade curtíssimo, há contrapartidas inacreditáveis de tão belas. É disso que estamos falando por aqui.

Ouça primeiro: “A Caged Bird/Imitations Of Life”

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *