Rammstein – Rammstein

Gênero: Heavy Metal, Industrial
Duração: 46 min
Faixas: 11
Produção: Rammstein e Olsen Involtini
Gravadora: Warner

4 out of 5 stars (4 / 5)

Sabe o Muse? A ideia dos caras sempre foi fazer um som épico, pesado, porém harmonioso, razoavelmente eletrônico e com referências dos anos 1970. Deu errado com o passar do tempo e os caras se tornaram quase caricatos. Agora imagine uma banda que conseguiu unir essas influências sem resvalar na armadilha da egolatria e da incapacidade em dosá-las em meio à tarefa de encontrar sua própria personalidade sonora. Esta banda é o Rammstein. O sétimo – e homônimo – disco dos caras é uma declaração de como é possível fazer um som pesado com influências eletrônicas sem abrir mão do acento pop e da credencial para soar glorioso num estádio lotado.

Claro, o Rammstein sempre foi uma banda mais familiarizada com o universo metálico. Começou há tempos como uma formação que bebia nas fontes do industrial para conferir ao seu som uma distinção em meio ao universo de bandas. Sempre conseguiu ótimos resultados junto a seu público e só faz crescer ao longo dos anos. Christoph Schneider, Flake Lorenz, Oliver Riedel, Paul Landers, Richard Z. Kruspe e Till Lindemann são sujeitos estranhos e mal encarados, com os quais eu não gostaria de pegar o mesmo ônibus, mas funcionam nessa coisa de emprestar tinturas maníacas, estranhas e cavernosas ao som que praticam. No entanto, apesar de soar noturna, enfumaçada, urbana e caótica, é uma sonoridade extremamente atraente.

“Rammstein”, o disco, foi antecedido por três singles, as ótimas Zeig Dich”, “Radio” e “Deutschland”, que, juntas, somam a bagatela de 100 milhões de streamings e visualizações no YouTube. A receita dos caras é feita para pegar tanto o headbanger mais moderado como quem gosta de um som popesco mas não abre mão do peso, das guitarras e dos climas. E está tudo por aqui. Como bons alemães que são, há o toque indizível de estranheza dos vocais teutônicos, totalmente devedores da escola David Bowie de dramaticidade, envoltos em molduras sonoras que poderiam ser feitas pelo Depeche Mode obscuro e malvadão do inicio dos anos 1990, com turbilhonamento de guitarras do Metallica da mesma época.

A faixa de abertura, “Deuschtland”, é dotada de um ritmo hipnótico e vocais de apoio em clima obsessivo que causariam inveja na maioria esmagadora das bandas da atualidade. “Ausländer” tem riffs de sintetizador inequivocamente herdados das pistas de dança e tem reforço das guitarras em seu andamento, mostrando que é possível fazer as duas coisas ao mesmo tempo. As outras faixas, especialmente “Sex”, “Tattoo” e as baladas estranhas “Puppe” e “Diamant” compõem este painel caótico, escuro e eficiente.

Após ouvir um disco como esse, em que a criatividade é o principal atributo, estranhamos como uma banda de alcance mundial como Rammstein, no topo da forma, não está no circuito de shows do Brasil. Este disco prova que dá pra ousar e ser criativo em meio a um gênero que se apega tanto à tradição como o Heavy Metal.

Ouça primeiro: “Zeig Dich”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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