Cinco Melhores Filmes de 2022

 

 

Num ano em que as salas de cinema e a própria indústria ainda sentiram os efeitos da pandemia, a produção de longas foi bem interessante, ainda que discreta. Com o cinemão dominado por produções vinculadas aos super-heróis de diferentes magnitudes, foi refrescante ver um longa à moda antiga, como “Top Gun: Maverick”, ganhar as telonas ao redor do mundo. Também foi bacana ver uma produção instigante como “Nope”, do diretor e roteirista americano Jordan Peele, dar sequência ao seu já consistente corpo de obras em que combate ao racismo e terror são misturados com tanta habilidade. Além deles, a lindeza de ver produções bem menores, seja no streaming, seja na batalha por espaço nas salas, deixando sua marca. Aqui a gente conta o que mais gostou de assistir ao longo de 2022.

 

 

5 – AFTERSUN – estreia da diretora e roteirista escocesa Charlotte Wells, num filme belo sobre memórias afetivas – reais ou não – de uma menina em relação a seu pai. Com um ir e vir entre passado e presente, uma mulher revê imagens e vídeos de férias que passou com o pai num resort turco, no meio dos anos 1990. Entre lembranças e desejos, um painel afetivo e emocional vai sendo revelado ao espectador de uma forma natural e nada intelectualoide. Belezura de produção britânica da BBC e da BFI. Destaque para a comunhão entre o ator irlandês Paul Mescal e a jovem escocesa Frankie Corio, decisiva para o resultado final ser tão belo.

 

 

4 – MARTE 1 – dirigido por Gabriel Martins, da produtora mineira Filmes de Plástico, “Marte 1” representou o Brasil na escolha dos participantes da eleição de Melhor Filme Estrangeiro para o próximo Oscar, sendo preterido. Isso não invalida a beleza do longa, que mostra uma família de classe média baixa da periferia de Belo Horizonte, na qual os integrantes levam a vida do jeito que dá. Deivinho, o filho caçula, é fascinado pela conquista do espaço, mais especificamente pela missão Marte 1, que irá colonizar o planeta vermelho em 2030. Mas, além disso, o jovem precisa lidar com as expectativas do pai, que deseja que ele siga a carreira de jogador de futebol pelo Cruzeiro. Esta situação é apenas uma num painel em que a batalha diária da classe média baixa, frágil e emergente, sobre como viver, se preservar e exercer plenamente a dimensão social de seus integrantes. Sutil e primoroso.

 

 

3 – NOPE – NÃO OLHE PARA CIMA – A direção de Peele é magnífica, não só pelos takes e sequências ambientados à noite e na imensidão do rancho, mas também pelo uso inteligente das tomadas do céu e das nuvens, que se mostram muito importantes ao longo do filme. A trama que se estabelece entre os personagens vai evoluindo em ritmo de flashbacks e pequenos avanços no tempo e nada fica sem uma explicação convincente no final. Na verdade, Peele aproveita esse cenário surreal e visualmente belíssimo para falar sobre exposição da vida alheia, da troca de popularidade por conta de valores como ética e respeito. E também fala sobre como nada é o que parece. Ou não. (leia a resenha aqui)

 

 

2 – ARGENTINA, 1985 – “Argentina, 1985” é mais que um filme de tribunal. Com atuações ótimas de Darín e de Peter Lanzani (que interpreta do promotor adjunto Luiz Moreno Ocampo), o longa mostra as intrigas políticas que habitavam os bastidores do novo governo democrático argentino e de como ainda havia gente que aprovava a ação dos militares, sempre usando termos como “defesa da pátria” e “guerra contra guerrilheiros” para justificar as ações sanguinárias. A direção de fotografia reveste todas as tomadas de uma cor sépia envelhecida e ultrapassada e o roteiro mostra sem rodeios vários relatos de pessoas que foram presas e sequestradas. (leia a resenha completa aqui)

 

 

1 – TOP GUN: MAVERICK – Tom Cruise tem no piloto Maverick o seu Rocky Balboa. “Top Gun” foi o filme que deu a ele o status de astro do cinema mundial, algo que perdura até hoje, 36 anos depois. Se a sequência de “Top Gun” demorou tempo demais, a espera foi plenamente justificada. O longa é um espetáculo à moda antiga de cinemão pipoca, ou seja, com uma narrativa redonda, roteiro bem feito e sem pontas soltas e atores desempenhando satisfatoriamente numa história de superação, heroismo, culpa e arrependimento. A direção de Joseph Kosinski e o roteiro de Peter Craig, Justin Marks, Ashley Edward Miller e Zack Stentz, proporcionam sequência de eventos, atualização de tramas e oferece novos fatos, limando excessos do original, superando-o facilmente. Os efeitos especiais e as tomadas feitas em aviões de caça americanos são impressionantes e estabelecem um novo parâmetro para este tipo de filme. Arrebatador.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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