Bryan Adams – Shine A Light
Gênero: Pop, Rock
Duração: 35 min.
Faixas: 12
Produção: Bryan Adams
Gravadora: Polydor
Você pode até fingir que não, mas os anos 1990 foram tempos de glória pra Bryan Adams. Surgido na década anterior, dono de sucessos multimilionários como “Somebody” e “Heaven”, ele adentrou 1990 com “(Everything I Do) I Do It For You”, tema da versão vigente na época de Robin Hood, com Kevin Costner e Morgan Freeman. Quatro anos depois ele voltaria com um sucesso ainda maior, “Have You Ever Really Loved A Woman”, tema de outro filme, Don Juan de Marco, estranha película psicológica com Johnny Depp e … Marlon Brando. Também não podemos esquecer da participação de Bryan em “All For One”, tema da versão noventistas de Os Três Mosqueteiros. Essas três canções são baladas clássicas que não morrem. Felizmente ou não, depende do seu ponto de vista.
Bryan nunca parou de gravar. Seu disco anterior é de 2015 e ele faz shows em todas as partes do mundo, do Bahrain à Índia, de Buenos Aires ao Wembley Stadium, no qual já se apresentou por incríveis 29 vezes. Além disso, o sujeito produz e assina o score da versão teatral de Uma Linda Mulher e, como se não bastasse, volta ao disco com um álbum que beira o sensacional. Sim, isso mesmo: “Shine A Light” é muito legal desde que você saiba com o que está lidando. Ele é feito sob medida para gente que ama Bon Jovi e os momentos mais baladeiros de Bruce Springsteen. Alguns mais velhuscos hão de lembrar-se dos discos solos de Don Henley, baterista dos Eagles. Está tudo lá: a velha classe nas composições, o talento para forjar rocks ingênuos em midtempo, os bons arranjos, a musicalidade à moda antiga…
“Shine A Light” é conciso: 35 minutos em 12 faixas. Tudo funciona por aqui, até mesmo o dueto sacaroso com Jennifer Lopez em “That’s How Strong Our Love Is”, que tem bom arranjo e sintonia com batidinhas eletrônicas e truques modernos de produção que fazem o disco ser um produto de seu tempo. Neste mesmo esquema, a faixa-título, co-escrita com Ed Sheeran, também não faz feio. Mesmo que exiba seus dotes de roqueiro de outro tempo, Adams não quer ser prisioneiro do passado. No entanto, seria bem estranho que ele surgisse com um disco de dubstep ou de trap. Estamos falando de algo que já era datado em 1991, quando o Nirvana chegou às paradas de sucesso. Mas, sejamos sinceros: sempre haverá gente de todas as idades disposta a ouvir canções como as que Bryan compõe. E ele sabe muito bem disso.
Sendo assim, há três momentos dourados aqui: “Part Friday Night, Part Sunday Morning” é um rock em alta velocidade, com têmpera country/folk, cheio de ganchos melódicos e ideal para ser entoado no estádio. Além dela, “The Last Night On Earth” tem batidinha eletrônica e guitarra esperta, com novamente investimento de tempo e talento no refrão bombástico. Fechando a trinca de ases, a melhor do disco: “Nobody’s Girl”, majestosamente calcada em guitarras harmoniosas que ameaçam chupar “Born To Run”, de Bruce Springsteen por um instante, mas que desaguam em uma estrutura aerodinâmica com pianos e instrumental coeso. Lá no fim do disco, uma cover de “Whiskey In The Jar”, do Thin Lizzy, vertida para um arranjo eletroacústico que, bem, fica bem longe de fazer feio.
Bryan Adams é como encontrar com seu amigo querido de outros tempos. Não com gente que você detestaria ver, mas amigo, que tem episódios em comum contigo e de quem você vai gostar de saber. Inevitável. E, novamente, Bryan sabe que tem este efeito nas pessoas de trinta e tantos, quarenta e poucos anos. E usa.
Ouça primeiro: “Nobody’s Girl”.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.