Brian Fallon – Local Honey

 

 

 

Gênero: Rock alternativo

Duração: 31 min.
Faixas: 8
Produção: Peter Katis
Gravadora: Lesser Known/Orchard

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

Brian Fallon era o líder do ótimo Gaslight Anthem, grupo de Nova Jersey, que soava como se um jovem Bruce Springsteen fosse acompanhado por uma banda de punk rock ou algo assim. Mesmo que esta definição seja precisa, o som do GA foi se tornando mais pop ao longo do tempo e, por mais legal que ainda fosse, a banda foi colocada em suspenso em 2015. Um ano depois, Fallon soltou seu primeiro disco solo, “Painkillers”, dando início a uma carreira solo simpática. Em 2018 foi a vez de “Sleepwalkers” e agora, dois anos depois, chega este belo “Local Honey”.

 

Olhando – e ouvindo – os três discos em perspectiva, fica mais latente a influência de Springsteen na obra de Fallon. Se os dois primeiros álbuns eram mais rock e r&b – respectivamente – este novo trabalho responde pela faceta mais contemplativa/solitária da obra do Boss, lugares que ele visitou em “Nebraska”, “Devils And Dust” e “The Ghost Of Tom Joad”, mas esta comparação só é precisa em parte. Fallon adiciona a este clima soturno e mais confessional uma dinâmica que lembra as bandas de alt- country da virada do milênio, a saber, Whiskeytown e os três primeiros discos solo de seu vocalista e compositor, Ryan Adams. A diferença é que Fallon é um excelente compositor e tem, ele mesmo, coisas para adicionar ao molho.

 

O tom das oito faixas é totalmente “peito aberto”. São declarações sobre a vida cotidiana, desde a necessidade de lidar com a chegada dos 40 anos, passando pela paternidade e o olhar para o futuro, no qual está contido, por exemplo, o abandono do vício do cigarro, algo que relatado com brilhantismo em “21 Days”, canção na qual ele canta para “um amigo que se foi, com o qual dividia a mesa do café toda manhã”, referindo-se à impossibilidade de seguir em frente junto a ele. A ideia é ótima e um ouvinte desavisado vai achar que ele canta para alguém muito querido que a vida acabou levando embora.

 

O disco é curto, pouco mais de meia hora distribuída em oito faixas. São todas belas, cada uma a seu jeito. Todas são cantos e homenagens ao americano médio, ausente das grandes/enormes cidades do país, mas que guarda no peito valores humanos e acredita na fundação da América pela igualdade de oportunidades e tal. Gente que não foi diretamente beneficiada pelo american dream, não ficou rica e lamenta por enviar, de tempos em tempos, filhos e filhas para a guerra em lugares distantes. Gente que surge retratada nas levadas belas de canções como “When You’re Ready”, “I Don’t Mind (If I’m With You)”, “Hard Feelings” e na espantosa “You Have Stolen My Heart”, que encerra o disco.

 

“Local Honey” é um trabalho sincero, que te oferece um ombro amigo, estimula a ouvir as histórias contadas e quase pede para que você conte as suas. Em tempos como os atuais, é quase tudo o que precisamos.

Ouça primeiro: “You Have Stolen My Heart”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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