Billie Eilish – When We All Fall Asleep, Where Do We Go?
Gênero: Eletrônico, Pop alternativo
Duração: 42 min
Faixas: 14
Produção: Billie Eilish – When We All Fall Aslepp, Where Do We Go? Finneas O’Connor, Billie Eilish
Gravadora: Interscope
Estamos em 2019, gente. A coisa toda deu errado. As utopias eram … utopias. O capitalismo ganha de goleada, está destruindo o planeta, as desigualdades nunca foram tão enormes, a injustiça grassa, a opressão está em toda parte, ou seja, f….eu. Esses fatores alimentam – ainda que não pareça – o disco de estreia da cantora e compositora americana Billie Eilish, intitulado “When We All Fall Aslepp, Where Do We Go?”. A menina tem 17 anos, poderia estar estudando aqui no Salesiano Santa Rosa, mas está nas telas de smartphones do mundo, inspirando (?) e gerando admiração em toda uma multidão de meninas e meninos que sentem a mesma coisa: deu errado. Este álbum surge para ser a trilha sonora deste 2019. Poucos discos que ouvi neste longo tempo de audições parecem tão sintonizados com seu tempo, em vários sentidos. É um fenômeno pop que está nascendo diante dos nossos olhos e ouvidos.
Musicalmente falando, Billie Eilish oferece um coquetel de pop eletrônico padrão 2019, com um detalhe que conta muitos pontos: ela sabe escrever uma canção e tem a ajuda de seu irmão, Finneas O’Connor, na produção e sons. Os dois são capazes de proporcionar um álbum muito acima da média que temos por aí. Isso quer dizer: Billie não é apenas marketing ou só visual. A garota que aparece por aí com sangue e melecas no nariz, com camisa de força, cabelos azuis e tudo mais, esconde uma boa artista. Você pode até discutir se o estilo de pop que Billie pratica é válido, uma vez que ela segue parâmetros de cantoras como Lorde, ou seja, minimalismo, teclados e sintetizadores por toda parte, batidas eletrônicas e uma tristeza/revolta onipresente.
Billie, no entanto, leva este identkit para um lado adolescente/sacana. Brinca com as referências de doçura/raiva, amor/terror e incorpora um lado performático fortíssimo, que a coloca em posição de destaque em relação ao que temos aí. Isso não é novidade, o pop sempre teve espaço para gente que sabe entreter uma plateia além da música. Billie tem essa manha e sabe como usá-la. A tecnologia de hoje lhe permite usar todo o arsenal sonoro disponível no álbum em sua apresentação ao vivo, garantindo a legitimidade da coisa toda. Após uma maturação online desde 2016, a menina estreia por uma grande gravadora, a Interscope. Não é pouca coisa em se tratando de 2019.
“When We All Fall Aslepp, Where Do We Go?” tem bons momentos e faixas legais. De cara dá pra notar “Bad Guy”, na qual os vocais de Billie – em modo doçura – tangenciam aquela técnica ASMR de relaxamento, na qual os sons e inflexões soam estranhos, porém, familiares e gentis. A melodia é ótima, o arranjo é minimalista e carrega a marca sonora do álbum. Mais adiante, “Wish You Were Gay” também é bem legal, um dos destaques do álbum, na qual Billie mostra que sabe cantar. E bem. “All The Good Girls Go To Hell” é marca registrada de álbuns como este, com efeitos vocais, letra sacana e tudo mais. “Xanny” é sobre drogas e seu uso. Billie é abertamente anti-drogas e faz campanha nas redes contra o seu uso. Só que tem inteligência suficiente para fazer isso sem soar careta e convence. Efeitos vocais permeiam a canção, cujo título é um “apelido” para o tranquilizante Xanax.
E assim, do jeito que vamos, o pop internacional produz seu retrato: uma menina de 17 anos, posando com nariz sangrando, vestindo camisa de força, conquistando o planeta, falando sobre como é complicado viver num mundo como o nosso. Já é o rosto do ano, só que, ao contrário de muitos outros, este tem talento e chegou a bordo de um belo disco.
Ouça primeiro: “Bad Guy”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.
I JUST LOVE IT! Concordo completamente com sua crítica. Obrigado por pôr em palavras o que penso sobre ela e o álbum.