Shazam – Não, gente…

 

A versão cinematográfica de “Shazam” é ruim. Ponto. A resenha do filme poderia terminar aqui. Bastaria uma olhadela no filme para esta percepção surgir facilmente. O elenco é ruim, o roteiro é péssimo, a direção é qualquer nota, o clima de filme B oitentista da Sessão da Tarde é falso e mascara uma série de falhas e escolhas erradas. E o protagonista, Zachary Levi, parece uma cruza estranha entre Edmundo Animal e Jimmy Fallon. Sendo assim, ficou difícil sair da sala escura com alguma coisa positiva sobre “Shazam”, mas vamos tentar.

A história é a seguinte: Billy Baxton é um órfão que procura saber o que aconteceu com seus pais. Ele pula de um lar adotivo para outro, até que vai parar na casa de Victor e Rosa Vasquez, na Filadélfia. Lá ele vai ter uma série de irmãos adotivos: Gene, Darla, Mary, Pedro e Freddie, adoráveis, cada um à sua maneira. O que nenhum deles imagina é que uma guerra está em curso no mundo da magia e o mago Shazam (vivido por Dijimon Honson, terrivelmente parecido com o mitológico cantor Daminhão Experiença) procura conter a força dos Sete Pecados Capitais. Para isso, precisa encontrar um sucessor que seja puro de coração e bondoso. Nessas inúmeras tentativas, ele seleciona vários candidatos, que procuram mostrar suas virtudes. Um deles, Thadeus Silvana, foi convocado ainda criança e fracassou, tornando-se obsessivo sobre a luta entre bem e mal.

Este fiapo de roteiro (a obsessão de Silvana, vivido por Mark Strong, e a pureza de Billy) constitui a trama de Shazam. O herói ainda é um adolescente de 14 anos, mas, ao invocar a palavra mágica “Shazam”, assume a forma de um adulto. E este adulto parece perigosamente com Edmundo Animal e Jimmy Fallon, além de ser protagonista de péssimas piadas em relação aos poderes que adquire, a como deve lidar com eles e como vai enfrentar o desafio de proteger a humanidade da maldade. Não bastasse isso, Shazam ainda precisa conter o ímpeto de Silvana, que se transforma num vilão com o passar do tempo e ameaça tudo e todos. Parece que contei spoilers, mas estas informações surgem nos primeiros quinze minutos de filme, fiquem tranquilos.

“Shazam” segue à risca a cartilha dos filmes de herói de seu tempo. Humaniza os poderes, o próprio paladino, insere o homem comum no contexto. Cita filmes correlatos – aqui há um monte de inspirações, que vão de “Quero Ser Grande”, passando por “Kick Ass”, chegando a “Caça-Fantasma”, “Os Goonies” e outras produções que tangenciam o mito de superpoderes e “supersituações” idealizadas na vida. Além disso, claro, tem canções emblemáticas em sua trilha sonora, desde “aquela canção do Queen”, neste caso, “Don’t Stop Me Now” e “aquela dos Ramones”, a óbvia “I Don’t Wanna Grow Up”. Não se anime: é tudo meio superficial e com pinta de cumprimento de tabela. O filme é clichezento e chega a pontos constrangedores em muitos momentos.

Por mais que a história original do personagem, criado na década de 1940, envolva o conflito de idades entre a identidade secreta e o próprio herói, era possível pensar em soluções melhores e num roteiro minimamente bem feito. A sensação final é de desperdício de dinheiro e de tempo. O nosso, no caso.

 

Direção: David Sandberg

Duração: 132 min.

Elenco: Zachary Levi, Mark Strong, Asher Angel, Jacob Dylan Grazer

1.5 out of 5 stars (1,5 / 5)

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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