Bad Religion – Age Of Unreason
Gênero: Rock, Punk
Duração: 33 min
Faixas: 14
Produção: Carlos De La Garza
Gravadora: Epitaph
O recente entrevero com o poster da turnê nacional – que acabou cancelada – do Dead Kennedys deveria apontar nossa curiosidade para este novo álbum do Bad Religion, mas não. Parece que Greg Graffin e sua turma não foram lembrados pela imprensa musical, pelo menos por aqui. Como de costume, quem perde é a imprensa. O novo disco do grupo, o décimo-sétimo de sua carreira, é um exemplo de como uma banda com ideais pode flertar com formas “do sistema” e manter-se íntegra. Porque, gente, ser íntegro quando se faz uma banda punk é uma das poucas coisas às quais se deve ter atenção e dedicação.
Uma ouvida atenta nas faixas do disco revelarão que o Bad Religion se importa com a integridade, que vem no discurso anti-estabilishment, aquela coisa de lutar contra as injustiças do mundo, desejar mais igualdade, mais sanidade por parte das pessoas, instâncias que, se atingidas, trarão melhores políticos, melhores governos e tudo mais a partir daí. Nunca foram panfletários, sempre foram políticos e contundentes. Graffin não abre mão disso e segue militando ao longo do disco, algo que se faz muito mais necessário em tempos de recrudescimento do autoritarismo no mundo, como se ele fosse a resposta para resolver o que causou ao longo da história. A modernidade e o tal uso de “aspectos do sistema”, se dá, por exemplo, na presença de um produtor antenado e malandrão como Carlos De La Garza na pilotagem do estúdio.
As levadas mais rápidas já não são maioria há tempos, mas elas estão presentes. As quatro primeiras faixas – “Chaos From Within”, “My Sanity”, “Do The Paranoid Style” e “The Approach” mostram a exuberância da banda e marcam outro traço do Bad Religion: a harmonia de vocais de apoio e principal, algo que faz diferença. Na quinta canção, “Lose Your Head”, o andamento cai e sai um rockão à la Bruce Springsteen quando este busca avivar sua caixinha de rock. Em seguida vem a melhor canção presente: “End Of History”, cujo verso soberbo – “Nostalgia is no excuse for stupidity” – poderia estampar blusas, bandeiras e epígrafes de trabalhos acadêmicos se isso fosse possível. E mais adiante, ainda na mesma faixa, Graffin dispara: “What we want is an open society”. Bingo.
Justamente nas faixas com levadas que variam do hardcore mais tradicional é que de De La Garza se sobressai na produção. Acostumado a lidar com artistas como Ziggy Marley e Paramore, ele injeta doses de polimento às canções do grupo, tornando-as mais bem formatadas e prontas para frequentar rádios especializadas em rock sem, necessariamente, desagradar os fãs. Exemplo bom deste “martelinho de ouro” aplicado à ourivesaria pop/rock vem em “Downfall”. Tem espaço até para uma faixa que lembra vagamente as tais bandas disco-punk do início dos anos 2000, “Big Black Dog”.
“Age Of Unreason” é moderno, atual, sintonizado com nossas necessidades de ouvir mensagens importantes e conscientes sobre o estado das coisas no mundo. Greg Graffin sempre foi uma voz de lucidez em meio ao murmúrio indistinto. Novamente ele se posiciona com coerência e honrando seu legado. Como bandas punk devem sempre fazer.
Ouça primeiro: “End Of History”.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.