Gal Costa 75: Treze canções pra guardar

 

 

Amanhã, dia 26 de setembro, Gal Costa completa seu 75º aniversário.  Sua presença no pódio das melhores cantoras da história da música brasileira é obrigatória, sempre num duelo acirrado com Elis Regina. Tive contato com seus discos desde criança, pois estavam na pilha dos álbuns da minha mãe, nos quais eu não deveria mexer com frequência. Felizmente, ela os ouvia constantemente e a voz de Gal foi uma das primeiras às quais prestei um pouco mais de atenção. Com o passar do tempo, via rádio, TV e comprando meus próprios discos, a figura da cantora baiana tornou-se constante e pude curtir “por conta própria”, suas gravações contidas em “Bem Bom”, de 1985, o qual comprei em meio a álbuns de bandas de rock que faziam minha cabeça naquele tempo. Lembro até da famosa edição da revista Status, que trazia um ensaio fotográfico sensual, que foi … enfim, deixa pra lá.

 

Gal sempre foi uma dessas intérpretes que se apropriam das composições. Quando algo passa por seu crivo, seu controle de qualidade, automaticamente vai para outro patamar. De seus primeiros trabalhos tropicalistas, passando por sua ótima década de 1970, adentrando o pop oitentista e dialogando com seus trabalhos maduros dos anos 1990 e 2000, sem perder de vista seu ressurgimento na década de 2010 como uma intérprete antenada e preocupada com a modernidade, fazer uma lista de 13 gravações de sua carreira é praticamente impossível. Mesmo assim, como um presente de aniversário para ela e pra quem passar os olhos nessa lista, fica o nosso beijo e o nosso respeito pela importância dela pra música nacional.  Beijo e obrigado, Dona Gal.

 

 

13 – Dom de Iludir (1982) – Canção de “Minha Voz”, um dos discos em que Gal Costa incorporou novas musicalidades de estúdio, muito por conta da evolução tecnológica que trouxe melhores equipamentos para as filiais brasileiras das multinacionais. É uma das melhores letras amorosas de Caetano Veloso.

 

 

12 – Barato Total (1974) – Faixa de abertura de “Cantar”, esta é uma das marcas registradas da Gal pós-tropicalista, em busca de uma sonoridade para chamar de sua. Há até algo que poderia ser entendido como um “pré-samba rock” no arranjo, no uso das guitarras e na brejeirice de Gal ao avançar pela letra.

 

 

11 – Motor (2019) – Gal segue uma intérprete antenada com o que acontece na música. Sua década de 2010 é a prova disso e a interpretação que faz para esta música, composta por Teago Oliveira, da banda baiana Maglore, é sensacional. Contida em “A Pele do Futuro – Ao Vivo”, ela mostra como a voz de Gal envelheceu graciosamente e como ela se vale disso para dar mais profundidade à interpretação.

 

 

10 – Azul (1982) – Outra faixa do disco “Minha Voz”, trazendo Gal em ótima interpretação para canção idílica de Djavan. O arranjo é ótimo, tudo funciona na gravação e a letra é um convite a uma viagem abstrata pela cor e seu sentimento desperto, bem no estilo do cantor e compositor alagoano.

 

 

9 – Vapor Barato (1971) – Talvez a gravação definitiva de Gal num palco, está registrada em “Gal A Todo Vapor” e foi ressuscitada nos anos 1990 por conta da aparição na trilha sonora do filme “Terra Estrangeira”, de Walter Salles. Esta versão ao vivo é histórica e sensacional.

 

 

8 – Vaca Profana (1984) – Canção emblemática do álbum “Profana”, de 1984, o primeiro de Gal para a RCA. É outra letra de Caetano Veloso, dessa vez às voltas com a Espanha dos anos 1980, a descoberta de Barcelona, de Gaudi e com uma visão pré-globalização que marca as análises de conjuntura que ele costuma fazer.

 

 

7 – Canção Que Morre No Ar (1974) – Interpretação linda de matar contida no disco “Cantar” para uma canção composta por Carlos Lyra em 1961, que pertence a uma divisão de acesso da Bossa Nova. O arranjo de cordas e a curta duração do registro de Gal só acrescentam charme e lindeza absolutos.

 

 

6 – Que Pena (1969) – Canção do disco de estreia de Gal, até hoje um dos seus melhores e mais sensacionais trabalhos. Ela consegue a proeza de igualar o original de Jorge Ben, lançado no mesmo ano, o que é, repito, uma proeza. É um dueto simpático com Caetano Veloso e a voz de Gal é de uma beleza cristalina e impressionante.

 

 

5 – Mãe (1978) – Faixa do sensacional “Água Viva”, um disco que existia lá em casa e que minha mãe ouvia demais. A arrepiante letra de Caetano Veloso ganha uma profundidade misturada com inocência na interpretação de Gal que, até hoje, é desconcertante. Um de seus grandes, enormes momentos.

 

 

4 – Sorte (1985) – Este dueto com Caetano Veloso, registrado no disco “Bem Bom”, está aqui por uma mistura de lindeza e memória afetiva. É daquelas canções que a gente descobre no colégio, apresentadas pela menina por quem somos apaixonados e que nunca nos notou. Bem, sob esse ponto de vista, deveria se chamar “Falta de Sorte”, mas é uma lindeza imaculada e inalterada pelo tempo.

 

 

 

3 – Baby – (1969) – Se a Tropicália, notória pelos questionamentos e revoluções, tem um momento de beleza absoluta, ele está nessa faixa do primeiro disco, de Gal, lançado em 1969. Tudo aqui é absolutamente perfeito, a letra – outra de Caetano – casando com o arranjo de Rogério Duprat e com a voz de menina. E tem o verso mais belo daquele tempo: “você precisa saber o que eu sei e o que eu não sei mais”.

 

 

2 – Não Identificado (1969) – Outra canção do primeiro disco, outra composição de Caetano, como uma espécie de versão brasileira e autêntica de “2001 – Uma Odisseia No Espaço”, com o amor materializado num disco voador, que alguém vai gravar pra tocar numa rádio do interior. Tudo metáfora, tudo lindo.

 

 

 

1 – O Amor (1981) – Faixa que caracteriza bem a Gal oitentista, contida no ótimo álbum “Fantasia” : arranjos legais de estúdio, instrumental flertando com uma vertente mais pop da MPB e uma ótima escolha de repertório, no caso, mais uma de Caetano, dessa vez sobre poema de Maiakovski, sobre a transcendência do amor. Quem era criança naquele início de anos 1980, lembra de ouvir a música no rádio e de Gal com seu agudo perfeito dizendo “ressuscita-me…” aqui e ali. Um marco de lindeza total.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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