Yola – Walk Through Fire

Gênero: Pop, Rock, Soul
Duração: 41 min
Faixas: 12
Produção: Dan Auerbach
Gravadora: Easy Eye

3.5 out of 5 stars (3,5 / 5)

A Inglaterra é pródiga em trazer cantoras com pedigree clássico do pop sessentista. Cheias de estilo, elas surgem de tempos em tempos, com registros belíssimos, bom gosto, um ótimo produtor e um punhado de canções muito bem arranjadas. Em alguns casos, como Adele e Rumer, por exemplo, elas vão além desta simples lógica e imprimem suas marcas pessoais em trabalhos legais. Noutras, como Duffy – lembra dela – somem na poeira desta estrada triste e nunca mais voltam. Após ouvir este belo “Walk Through Fire”, torço para que Yola seja do time das que sobrevivem ao simples conceito inicial.

Yola se chama Yolanda Quartey e nasceu em Bristol, terra do trip-hop. Lá, ela liderou uma banda sem muita projeção – Phantom Limb – e fez algumas participações como vocalista de apoio da formação mais laureada da cidade, o Massive Attack. Após ralar como cantora de estúdio e fazer bicos aqui e ali, a moça agora vem com um disco solo, produzido por um discreto e eficiente arquiteto desta memória musical pop sessentista: Dan Auerbach, metade criativa e pensante dos Black Keys e responsável por conferir esta assinatura, primeiro a si próprio, em “Waiting On A Song”, seu disco solo de 2017 e, consequentemente, a gente tão variada como Pretenders e Jake Bugg, só para citar extremos. O disco de Yola é mais um desafio memorialístico para Auerbach.

Temos então algumas pitadas de country, porções de soul clássico e doses generosas de pop clássico da virada dos anos 1960/70 e Yola se mostra muito competente dentro do que se espera dela: vozeirão no lugar, especialmente em baladas como “It Ain’t Easier”, por exemplo, com flerte firme com o country cadenciado e clássico, cheio de violinos e steel guitars e “Walk Through Fire”. O charme aqui está em reproduzir a amplitude de estilos que estes cantores e cantoras davam conta em seu tempo. Sendo assim, Yola precisa ser mais versátil do que a média, algo que ela entende e entrega, especialmente nas belezuras que são ‘Faraway Look” e “Ride Out In The Country”, duas baitas canções douradas e atemporais.

É nestas composições híbridas que a moça mostra sua força: na sutileza de fim de noite em “Love All Night (Work All Day)”, na balada celestial que é “Deep Blue Dream” e na lindeza conduzida por órgão Farfisa que é “Lonely The Night”, Yola mostra que tem condições de se sustentar como boa intérprete, dona de personalidade e carisma. É esperar pra ver até onde a moça vai.

Ouça primeiro: “Still Gone”

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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