Você está demitido, trump!

 

 

Agora há pouco, os veículos de comunicação americanos projetaram a vitória de Joe Biden, após ele abrir mais de 30 mil votos de vantagem na Pensilvânia. Ele será o mais velho presidente dos Estados Unidos, com 77 anos. Também ele foi um dos mais jovens senadores do país, quando foi eleito pela primeira vez, aos 29 anos. Após oito anos como vice-presidente de Barack Obama, Biden interrompe o ciclo de trump e do partido republicano à frente do maior país do mundo.

 

Sabem, eu vivo uma relação de amor e ódio com os Estados Unidos. Amo a música e a cultura produzida lá, mas não tolero a sua história de intromissão e opressão na vida de várias pessoas em vários países do mundo ao longo da história. Foram milhões de mortos, de várias formas, desde que o país mais poderoso do mundo iniciou a sua “marcha para o Oeste”, no século 19, exterminando populações indígenas no meio do caminho, subjugando mexicanos e iniciando a sua Doutrina Monroe, “a América para os americanos” (mote que um professor meu no colégio gostava de completar: para os americanos DO NORTE).

 

Biden é um político de centro, um conciliador, um moderado. Ele não vai fazer muito diferente do próprio Obama e absolutamente nada do que faria Bernie Sanders, caso este fosse eleito. Mas ele fará algo essencial: tentará retomar a normalidade. Não negará a ciência. Não tratará o próximo como se este fosse um fraco a ser subjugado e exterminado. Ele tentará o diálogo, privilegiará a prevenção na pandemia, tentará aliviar a pressão sobre as minorias étnicas e ideológicas em território americano.

 

Biden não deixará de bombardear países árabes quando achar que deve. Ele não hesitará em oprimir a América Latina caso seja necessário. Ele não se aproximará com a Rússia, com a China.

 

Mas ele voltará ao Acordo de Paris, sobre o clima. Ele irá frear as políticas iniciadas por trump. E, mais que tudo: ele irá restaurar a crença de que não é trapaceando e bancando o esperto que se consegue as coisas na vida. E terá como vice-presidente a senadora Kamala Harris, da Califórnia, a primeira mulher negra a ocupar este posto. Convenhamos, não é pouco.

 

Há um pouco um repórter negro da CNN americana estava chorando em pleno estúdio, falando exatamente isso: que ele estava feliz por poder mostrar a seus filhos que uma pessoa honrada e decente havia vencido as eleições, para que eles pudessem acreditar que era possível ser ético e decente e ter o sucesso como recompensa.

 

Biden é um senhor de 77 anos. De centro. Moderado. Mas ele é humano. Não constrói muros. Não tranca crianças em jaulas. Como trump.

 

Espero sinceramente que sua eleição desarticule a filial trumpista que tomou o governo brasileiro de assalto para que, daqui a dois anos, possamos nos sentir com a garganta desafogada, como a maioria dos americanos deve se sentir agora. E que desarticule todos os governos de extrema direita que se aproveitaram da mesma onda de fake news, defesa de valores conservadores e exaltação da violência como meio de existência.

 

Dia histórico para o planeta.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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