Um Príncipe em Nova York 2 – veredito

 

Desde que foi lançado em 1988, “Um Príncipe em Nova York” tornou-se um dos mais bem sucedidos longas de Eddie Murphy, mas também marcou o início de uma longa decadência do humorista americano. Se ele fora sucesso absoluto na década de 1980, com produções – além de “Um Príncipe…” como os dois primeiros – e melhores – longas da trilogia “Um Tira da Pesada”, 48 Horas” ou “Trading Places”, sem falar em uma produção cult, “O Rapto do Menino Dourado”, Eddie entregou bombas nos anos 1990, só conseguindo fazer sucesso com “O Professor Aloprado” e “Dr Doolittle” (duas refilmagens”. O último papel memorável que ele teve foi o burro de “Shrek”. Mas, em algum lugar de sua persona artística repousa um ator de talento, vide seu desempenho em “Dreamgirls” ou em “Dolemite Is My Name”. Por isso temos este misto de certeza e decepção com esta desnecessária segunda parte de “Um Príncipe em Nova York”.

 

Com a repetição do elenco original, incluindo o memorável James Earl Jones, no papel do Rei Jaffe Joffer, esta sequência precisa de uma verdadeira manobra de ilusão para justificar sua história. Akeem (Murphy), precisa encontrar um sucessor para o trono de seu país, após a morte do pai e, do nada, descobre que tem um filho bastardo em Nova York, fruto de sua passagem retratada no primeiro filme. O roteiro então insere uma história sem pé nem cabeça na trama original para que exista o tal filho, Lavelle, interpretado por Jermaine Fowler. Daí, Akeem e seu assistente Semi (Arsenio Hall), viajam para os Estados Unidos a fim de trazer o herdeiro do trono, uma vez que o país está vivendo tensões diplomáticas materializadas pela presença do General Izzi, vivido por Wesley Snipes, certamente a melhor coisa do longa.

 

A partir daí, o filme, que já não era bom, desanda totalmente e assume uma onda meio “Minha Mãe é Uma Peça”, com a entrada em cena dos parentes de Lavelle e o choque cultural que se estabelece, um dos clichês mais surrados do cinema e que havia sido muito melhor trabalhado no primeiro filme. Aliás, os únicos momentos em que esta sequência faz algum sentido é na revisita de piadas já feitas, sempre com pouca inteligência, mas que acabam funcionando por conta da memória afetiva e pela dedicação com que os atores reencarnam os personagens. A presença da humorista Leslie Jones, vivendo a mãe de Lavelle, causa algum alívio cômico, mas sua atuação é sutil como um elefante. Aliás, os efeitos especiais do filme são risíveis e não funcionam em nenhum momento.

 

A melhor recomendação para ver esta desnecessária sequência é não largar do botão FF e pular toda e qualquer cena que não tenha o personagem de Snipes ou que não seja uma revisita do original, dando a chance de revermos a barbearia e seus tipos – todos interpretados por Murphy e Hall – bem como a sensacional Igreja do Reverendo Brown (também vivido por Hall) e os dez minutos finais, em que revemos a indestrutível banda Chocolate Sensual, capitaneada pelo vocalista Randy Watson, outro papel de Murphy.

 

Nem as participações especiais de John Legend, Dikembe Mutombo, Gladys Knight, o trio En Vogue e a dupla Salt’n’Peppa dá algum sentido ao filme. Mas, se quiser aliviar a sensação de desperdício de tempo diante dos 108 minutos de duração, vá para os dez minutos finais. Conselho de amigo.

 

Coming 2 America

Direção: Craig Brewer

Duração: 108 min, EUA

Elenco: Eddie Murphy, Arsenio Hall, Jermaine Fowler, Leslie Jones, Tracy Morgan, KiKi Layne

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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