Creed 2 – Ajuste de Contas

Eu tinha 14 anos quando Ivan Drago matou Apollo Creed. O trágico evento ocorreu no início de “Rocky IV”, um dos episódios mais questionáveis da série sobre o boxeador ítalo- americano, protagonizada, pensada, roteirizada e, algumas vezes, dirigida por Sylvester Stallone. Apesar do quarto filme sobre a trajetória de Rocky Balboa ser quase estragado pelo americanismo da Era Reagan, a morte de Apollo é algo sério e que vai além da política da Guerra Fria. Ficou até hoje.

Por essas e outras, foi espantosa e bem-vinda a decisão de remexer nisso na novíssima franquia de boxe na qual Stallone está envolvido: “Creed”. O primeiro filme, você sabe, trazia os primeiros passos de Adonis Creed, o filho de Apollo, às voltas com questões sobre assumir-se como herdeiro dos passos do pai e aceitar que seu nascimento fora fruto de uma “escapada” do ex-campeão. Tudo devidamente resolvido no primeiro longa, o qual rendeu prêmios e indicações para Stallone, era hora de encontrar um argumento para a sequência. E as pontas soltas sobre o misterioso personagem de Drago vieram como melhor caminho a seguir.

Glorioso em 1985, Drago é um fantasma em 2019. Vive em Kiev, Ucrânia, num quase-exílio, com o filho, Viktor. Dolph Lundgren voltou para interpretar o ex-boxeador russo e, assim como o personagem de Rocky, Drago foi revestido de várias camadas de nuances e personalidade. Deixou de ser um boneco para se tornar um ser humano. Sua mágoa com o passado e o quase banimento do esporte após perder a luta final em “Rocky IV” o transformaram numa pessoa movida pelo rancor. Esta visão de mundo passa para o filho, o qual é treinado como boxeador sem nenhum tato ou psicologia. Adonis, por sua vez, desfruta de estabilidade como Campeão Mundial dos Pesos Pesados e vê sua vida deslanchando. Algumas manobras mercadológicas vão juntar os dois no ringue.

A partir daí, meu caro, minha cara, é expectativa de explosões nucleares a cada instante. Michael B. Jordan novamente interpreta com objetividade e competência o jovem Adonis, enquanto Stallone repete a bela versão idosa de Rocky, consagrada a partir de “Rocky Balboa”, de 2006. As cenas de luta são excelentes, o roteiro trata as questões históricas da trama com inteligência e coerência e o desfecho, ainda que previsível, acontece sem apelações.

“Creed 2” é digno e vale ser visto.

Duração: 130 min.
Elenco: Michael B Jordan, Sylvester Stallone, Dolph Lundgren
Direção: Steven Caple Jr.
3.5 out of 5 stars (3,5 / 5)

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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