Não Dedique Essas Músicas no Dia dos Namorados
A gente é 200% a favor da liberdade aqui na Célula Pop, mas, ao mesmo tempo, também é totalmente comprometido com a transmissão de informações úteis. Por exemplo, amanhã se comemora o Dia dos Namorados aqui no Brasil e não importa se é uma data comercial, criada pelo pai do … João Dória há muitos anos. E, falando nessa gente, a grana anda tão curta que pode não restar outra escolha a não ser dar uma singela canção de presente para a outra metade do casal. Como o brasileiro não é lá muito comprometido com o significado de letras em inglês e, pior que isso, gosta de cometer gafes inomináveis neste setor, a gente, em vez de fazer uma lista de sugestões de canções, resolveu pegar cinco escolhas muito frequentes nessa data e recomendar que, bem, estas composições, simplesmente, não sejam mais lembradas na hora de celebrar uma união bacana, leve e que traga felicidade para os envolvidos. Vamos lá.
– The Police – “Every Breath You Take” (1983)
Mesmo que esta canção não seja – nem de longe – a nossa preferida da lavra de Sting, Andy Summers e Stewart Copeland, precisamos admitir que ela é, certamente, o maior hit do finado grupo que formaram até 1983 e que ressuscitou brevemente na década de 2000 para shows – passando inclusive por aqui. Não recomendamos que ninguém deseje uma vida ao lado de uma pessoa que persegue dia e noite a pessoa amada, no melhor estilo “stalker”, numa obsessão doentia, como quem cuida de algo que possui. O próprio Sting já declarou em entrevistas que não entende como alguém pode dedicar esta canção para quem “ama”, mas o povo segue firme no propósito, num hábito que é mundial. Sinta o drama da letra:
Every breath you take (Cada suspiro que você der)
Every move you make (Cada movimento que você fizer)
Every bond you break (Cada laço que você quebrar)
Every step you take (Cada passo que você der)
I’ll be watching you (Eu estarei te observando)
Every single day (Todo santo dia)
Every word you say (Cada palavra que você disser)
Every game you play (Cada jogo que você jogar)
Every night you stay (Cada noite que você ficar)
I’ll be watching you (Eu estarei te observando)
Oh, can’t you see? (Oh, você não vê?)
You belong to me (Você pertence a mim)
How my poor heart aches (Como meu pobre coração sofre)
With every step you take (Com cada passo que você dá)
Every move you make (Cada movimento que você fizer)
Every vow you break (Cada promessa que você quebrar)
Every smile you fake (Cada sorriso que você fingir)
Every claim you stake (Cada pedido que você fizer)
I’ll be watching you (Eu estarei te observando)
– U2 – “One”
Esta é outra figurinha fácil, inclusive em casamentos, batizados, festa da firma e tudo mais. Presente no excelente álbum “Achtung Baby”, de 1991, “One” foi o maior hit comercial dele e figura entre os maiores acertos da carreira de Bono Vox e sua turma. Mas, o título, ainda que sugira duas metades formando um todo, significa, de fato, alguém absolutamente sozinho e satisfeito com isso após um relacionamento abusivo e tortuoso que se encerrou – e que a outra pessoa tenta reavivar. Há versos explícitos e fortes na letra, mostrando que Bono estava inspirado quando a escreveu. Veja.
Did I disappoint you (Eu te desapontei?)
Or leave a bad taste in your mouth? (Ou deixei um gosto ruim na sua boca?)
You act like you never had love (Você age como se nunca tivesse amado)
And you want me to go without (E quer que eu siga também sem isso)
Well, it’s too late tonight (Bem, é tarde da noite)
To drag the past out into the light (Para arrastar o passado para a luz)
We’re one, but we’re not the same (Somos um, mas não somos iguais)
We get to carry each other, carry each other (Temos que nos carregar)
Have you come here for forgiveness? (Você veio aqui por perdão?)
Have you come to raise the dead? (Você veio aqui para reerguer os mortos?)
Have you come here to play Jesus (Você veio aqui para se fingir de Jesus)
To the lepers in your head? (Para os leprosos dentro da sua cabeça?)
Did I ask too much, more than a lot? (Eu pedi muito?)
You gave me nothing, now it’s all I got (Você me deu nada, e agora é tudo o que eu tenho)
We’re one, but we’re not the same (Somos um, mas não somos iguais)
Well, we hurt each other, then we do it again (Bem, nós nos machucamos e então fazemos de novo)
You say (Você diz)
Love is a temple, love, a higher law (O amor é um templo, o amor é uma lei superior)
You ask me to enter, but then you make me crawl (Você me pede para entrar, mas me faz rastejar)
And I can’t keep holding on to what you got (E me mantém preso no que você tem)
When all you got is hurt (E o que você tem é sofrimento)
– Robbie Williams – Sexed Up (2003)
Esta canção está presente no quinto álbum do cantor e compositor inglês Robbie Williams, “Escapology” e fez parte também da trilha sonora da novela global “Mulheres Apaixonadas”. É um daqueles casos em que um arranjo romântico e belo é escolhido para emoldurar uma letra terrivelmente diferente do que parece. Na verdade, “Sexed Up” é o oposto de uma canção de amor, é um tratado de como encerrar um relacionamento sem qualquer tato ou consideração pela outra pessoa. Williams encarna o namorado que está cansado, entediado e de saco cheio do relacionamento e não alivia o outro lado com versos ríspidos e cruéis.
Why don’t we break up? (Por que não terminamos?)
There’s nothing left to say (Não há mais nada a ser dito)
I’ve got my eyes shut (Eu tenho meus olhos fechados)
Praying they won’t stray (Rezando para que eles não se percam)
And we’re not sexed up (E a gente não tem mais tesão)
That’s what makes the difference today (Que é o que conta hoje)
I hope you blow away (Eu espero que você se exploda)
Screw you, I didn’t like your taste (Foda-se, eu não gostava do seu gosto)
Anyway, I chose you and that’s all gone to waste (Mesmo assim eu te escolhi e tudo isso vai passar)
It’s Saturday, I’ll go out (É sãbado, eu vou sair)
And find another you (E achar outra igual a você)
Pearl Jam – Last Kiss (1999)
Esta canção é uma das gravações mais bem sucedidas da carreira do Pearl Jam. É uma versão do original de Wayne Cochran e lançada por sua banda, CC Riders. A gravação do grupo de Seattle foi incluída numa compilação em benefício das vítimas da Guerra no Kosovo e popularizou a banda nas paradas de sucesso e a apresentou para uma audiência nova. Só que “Last Kiss”, como o título sugere, não é alegre, ainda que seja romântica. Ela conta a história de um amor interrompido por um acidente de trânsito, supostamente verídico e testemunhado pelo autor da letra, o próprio Cochran. Ou seja, é tudo bem triste, nada adequado a uma relação que ainda existe porque os dois estão vivos, certo? Vivos.
Em tempo: esta canção também ficou marcada pela declaração do comentarista de futebol Caio Ribeiro, que disse que “gostava de transar ao som dela”.
Oh where, oh where, can my baby be? (Oh, onde? Onde estará o meu amor?)
The lord took her away from me (O senhor tirou-a de mim)
She’s gone to heaven so I’ve got to be good (Ela foi pro céu, então tenho que ser bonzinho)
So I can see my baby when I leave this world (Assim, verei meu amor, quando deixar este mundo)
– Coldplay – Viva La Vida (2008)
Esta é a canção que fez o quarteto britânico iniciar sua trajetória no primeiríssimo time dos artistas internacionais mundiais, globais e etc. O arranjo dramático e bombástico, criado por Brian Eno e os integrantes do grupo, pisa com força no terreno das canções épicas, com vocais de apoio, progressões de cordas e uma letra que está muito mais para um epitáfio de alguém que já viveu tempos gloriosos no passado e que, hoje em dia, percebendo a chegada do fim inevitável, faz um inventário destes bons tempos, lembrando que eles só foram bons porque a pessoa amada estava ao seu lado. Não por acaso, o título da canção também é o da última pintura da artista mexicana Frida Kahlo. Ainda que, neste caso, ao contrário dos anteriores, haja um sentimento de amor, ele é explicitamente por algo que já acabou. Sendo assim, como garantir que a canção não esteja sendo dedicada a um ou a uma ex?
I used to rule the world, seas would rise when I gave the word
(Eu costumava dominar o mundo, oceanos se abriam quando eu ordenava)
Now in the morning I sleep alone, sweep the streets I used to own
(Agora pela manhã durmo sozinho, varro as ruas que já foram minhas)
For some reason I can’t explain (Por algum motivo que não sei explicar)
Once you’d gone there was never (Desde que você se foi, nunca mais houve)
Never an honest word (Nunca houve uma palavra honesta)
That was when I ruled the world (Isso foi quando eu dominava o mundo)
It was the wicked and wild wind (Foi o vento cruel e selvagem que)
Blew down the doors to let me in (Derrubou as portas para me deixar entrar)
Shattered windows and the sound of drums (Janelas estilhaçadas e o som de tambores)
People couldn’t believe what I’d become (O povo não podia acreditar no que eu havia me tornado)
Revolutionaries wait (Revolucionários esperam)
For my head on a silver plate (Pela minha cabeça numa bandeja de prata)
Just a puppet on a lonely string (Apenas uma marionete numa corda solitária)
Oh who would ever want to be king? (Oh, quem jamais desejaria ser rei?)
Frank Sinatra – My Way (1968)
“My Way” é a versão em língua inglesa da canção francesa “Comme d’habitude”, que foi gravada pela primeira vez por seu autor, Claude François, em 1967, na França. No ano seguinte, Frank Sinatra lançou sua versão em inglês, adaptada por Paul Anka e que virou um de seus maiores clássicos. É uma das músicas populares mais gravadas da história. Muitos homens gostam de encarnar este personagem do sujeito que realizou tudo o que queria e, mesmo quando não conseguiu, não fugiu ao que queria fazer, do jeito que tinha vontade. É uma declaração de princípios, um epitáfio, seja lá o que for, é tudo menos uma canção de amor. Mesmo assim, “My Way” é figurinha fácil em casamentos e ocasiões que não têm nada a ver com enumerar os feitos da vida antes de deixá-la.
I planned each charted course (Planejei cada caminho)
Each careful step along the byway (Cada cuidadoso passo ao longo do caminho)
And more, much more than this (E mais, muito mais que isso)
I did it my way (Fiz do meu jeito)
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.