Tem um monte de disco bom saindo – você sabia?

 

 

Sabia? Sempre que dou de cara com as atualizações diárias ou semanais de sites e serviços de streaming, fico espantado em ver como a indústria musical vem se adaptando aos tempos rápidos e fluidos (cada vez mais) que vivemos. São singles, EP’s, CD’s, lançamentos, relançamentos, remixes, versões alternativas, uma verdadeira avalanche de novidades – cronológicas ou não – que apontam novos e velhos artistas em atividade. A gente aqui na Célula Pop tenta resenhar os lançamentos mais importantes e representativos, mas alguns álbuns ficam de fora por absoluta falta de tempo.

 

Por isso, resolvi fazer este inventário de novidades recentes e disponíveis em streaming para que você escolha suas preferidas e vá ouvir novos sons, um process indispensável para fazer o mundo girar macio. Tem de tudo: gente nova, disco ao vivo, coletânea, relançamento, dá uma conferida aí embaixo.

 

Relançamentos com extras

 

Al Stewart – Year Of The Cat (45th Anniversary Deluxe Edition) – o clássico do bardo escocês ressurge com nova mixagem e um álbum ao vivo como bônus, gravado em Seattle, no Paramount Theater. Uma lindeza que resiste ao teste do tempo. A produção ficou por conta de Alan Parsons, o mesmo que assinou embaixo de “Dark Side Of The Moon”.

 

The Who – The Who Sell Out (Super Deluxe Edition) – uma verdadeira violência contra os pobres bolsos precarizados. O clássico álbum psicodélico do The Who vem numa caixona de 5 CD’s, nos quais estão contidos as versões mono, estéreo, bônus inéditos, gravações de 1968 com o nome de “The Road To Tommy”, mostrando a evolução sonora que possibilitou fazer a icônica ópera-rock, bem como 14 demos originais de Pete Townshend, exclusivas para esta edição.

 

 

Discos ao vivo

New Order – Education, Entertainment, Recreation – gravado em 2018, no Alexandria Hall de Londres, este show do New Order tem alguns destaques bem legais: “Love Vigilantes”, do álbum “Low Life”, aparece numa raríssima inclusão em repertório de shows. Outra canção pouquíssimo executada ao vivo também dá as caras: “Ultraviolence”, do soberbo “Power, Corrpution And Lies”. Temos também uma leitura bem fiel de “Atmosphere”, do Joy Division e versões especialmente legais de “Temptation” e “Vanishing Point”. Uma maravilha.

 

Pet Shop Boys – Discovery Live In Rio – sim, é isso mesmo. A apresentação do Pet Shop Boys em terras brasileiras, mais precisamente no Metropolitan, Rio de Janeiro, em 1995, surge em áudio. Tive amigos de faculdade que foram neste show, que trazia o PSB na esteira do lançamento de seu ótimo álbum “Very”. Destaques absolutos para o coro da plateia em faixas como “It’s A Sin” (num medley com “I Will Survive), “Suburbia”, “Left To My Own Devices” e para a versão acústica de “West End Girls”.

 

Amy Winehouse – Live At BBC – disco triplo da cantora inglesa, mostrando várias apresentações em programas de rádio e TV. A versão de “Rehab” no programa de Jools Holland é especialmente legal, mas há vários momentos interessantes com clássicos do repertório de Amy, como “Valerie” e “Fuck Me Pumps”. Imperdível para fãs.

 

Norah Jones – Til We Meet Again – este álbum de Norah traz apresentações que ela fez em lugares como França, Italia, Brasil e Argentina entre 2017e 2019. Os destaques absolutos ficam por conta das versões ao vivo de “I’ve Got To See You Again” e de “Don’t Know Why”, seu primeiro sucesso, além da homenagem belíssima – apenas voz e piano – a Chris Cornell, com uma releitura de “Black Hole Sun”. Belezura.

 

Compilações

Jos Strummer – Assembly – uma boa coletânea de raridades, faixas ao vivo, faixas raras e preferidas de fãs, com maior ênfase na carreira pós-Clash de Strummer, especialmente ao lado dos Mescaleros. Há delícias por aqui, como a versão live de “I Fought The Law”, a comunhão que a canção promove entre os outsiders em geral, o registro sempre pertinente de “Redemption Song” (de Bob Marley) e uma reggaeira “Rudie Can’t Fail”, também ao vivo. O maior tesouro é uma leitura voz e guitarra de “Junco Partner”. Uma maravilha.

 

Bob Mould – Distortion – compilada pelo próprio Bob Mould, esta nova coleção reúne 32 gravações essenciais em dois CDs. Os destaques incluem faixas clássicas como ‘See a Little Light’, ‘If I Can’t Change Your Mind’, ‘A Good Idea’ e ‘The Descent’. Masterizado por Jeff Lipton e Maria Rice na Peerless Mastering em Boston. É o resumo da caixa massiva de relançamentos das discografia solo do homem.

 

 

Veteranos com lançamentos

 

Tony Allen – There Is No End – Disco póstumo do maior baterista do afrobeat de todos os tempos, integrante da banda de Fela Kuti e colaborador de King Sunny Adé, Manu Dibango e, mais recentemente, Damon Albarn. O legal do álbum é que ele é cheio de colaborações com J Dilla, Common, Missy Elliott, Nas, Mos Def e o baterista Bobby Matos.

 

The Coral – Coral Island – Esta foi uma das bandas mais interessantes surgidas no início dos anos 2000. Com acenos psicodélicos e uma aura oceânica e melódica, The Coral seguiu ao longo destes anos e chega agora a um álbum duplo, conceitual e surpreendentemente legal, cheio de belíssimas canções. Não perca de jeito nenhum.

 

The Offpsring – Let The Bad Times Roll – Há um bom tempo sem gravar e há mais tempo sem gravar um álbum legal, o Offspring tirou o atraso dos seus fãs com esse disco enfezado e cheio de boas canções. Consciência política, crítica de costumes e diversidade dão a tônica do disquinho.

 

The Mighty Mighty Bosstones – When God Was Great – Conheci os Bosstones lá no início dos anos 1990, em essência, uma superbanda de ska-punk revisionista. Após um tempão sem dar as caras, eles voltam com este trabalho que acena pros melhores momentos noventistas. Boa pedida para fãs saudosos.

 

Dr. Lonnie Smith – Breathe – Um dos grandes veteranos do órgão Hammond retorna com um discaço, quase totalmente ao vivo. As duas exceções são covers sensacionais, ambas com vocais de ninguém menos que Iggy Pop: “Why Can’t We Live Together”, de Timmy Thomas, e “Sunshine Superman”, de Donovan. Maravilhas inesperadas.

 

Novidades novíssimas

 

Imelda May – 11 Past The Hour – Imelda é irlandesa e já tem vários discos lançados, mas talvez este seja um de seus melhores momentos. Totalmente revestido de timbres que evocam Phil Spector e gente como Chris Isaak, as tonalidades aqui são sombrias e discretas. A voz da moça é bem próxima de Chrissie Hynde e há participações de Ron Wood e Noel Gallagher. “Breathe” e “Just On Kiss” e “What We Did In The Dark” são três porradas, cada uma a seu jeito.

 

Squid – Bright Green Field – Banda de Brighton debutando em disco e seguindo a onda do atual rock de guitarras inglês: muita experimentação, referências de pós-punk reprocessadas no meio do caminho, doses generosas de Talking Head e canções que não dão a mínima para tocar no (??) rádio. Destaque para a “devoneana” “Narrator”, na qual o vocalista e baterista Ollie Judge encarna um escritor que vai sendo subjugado por uma personagem feminina, que toma o controle.

 

Beachy Head – Beachy Head – Projeto paralelo de Christian Savill, guitarrista do Slowdive, com parceria de Ryan Graveface. O ambiente aqui é o ponto de encontro entre o shoegaze e uma variante estranha e lenta de powerpop. Algumas canções são muito bonitas, caso da faixa de abertura “Warning Bell” e “Michael”, que vem logo em seguida. Matt Duckworth (baterista do Flaming Lips) e Rachel Goswell (também do Slowdive), participam em alguns momentos. Disco belíssimo.

 

The Legal Matters – Chapter Three – Bandas que misturam a beleza das canções dos Beach Boys com a agridoçura da produção do Big Star parecem existir em cada esquina dos USA. Formado por Keith Klingensmith, Andy Reed e Chris Richards, o Legal Matters oferece 12 canções perfeitas para quem estiver interessado. Se você é fã de Teenage Fanclub, já aviso que vai encontrar um refúgio neste ramalhete sonoro.

 

Balaphonics – Spicy Boom Boom – Grupo francês que mistura um monte de referências africanas – a começar pela ótima sacada do nome – misturando desde rumba congolesa, makossa, groove e highlife a outras levadas sensacionais. Uma maravilhosa surpresa.

 

Beach Youth – Postcard – Outra banda francesa, mas uma daquelas que miram nos anos 1980 para encontrar suas influências. Aqui a coisa vai desde The Cure em seus momentos mais animados e coloridos a detalhes do pop mais comum daquela década. Há nas canções aquela certeza do refrão, da melodia ensolarada, do clima feliz e com cara de piquenique no parque. É desses discos de estreia que não tem música ruim, mas “In My Chest” é tão perfeitinha que dá gosto.

 

The Reverend Peyton’s Big Damn Band – Dance Songs for Hard Times – Este trio tem a singela alcunha de “O Motorhead do alt.country”. Se isso não é suficiente pra você se aventurar neste novo trabalho, o fato de que eles não têm baterista e se aventuram a soar como uma mistura de White Stripes primitivo e John Lee Hooker já deve ser motivo suficiente. Uma beleza encrespada.

 

The Reds, Pinks & Purples – Uncommon Weather – Mais um disco que Glenn Donaldson lança sob o nome de The Reds, Pinks & Purples. Quem não sabe a onda do sujeito deve ser avisado: tudo aqui soa como se The Smiths tivessem reencarnado em uma só pessoa, que grava tudo na sala de estar, murmura letras de solidão e tristeza em meio a uma guitarra cheia de saturação. E é tudo próximo da perfeição.

 

Nick Waterhouse – Promenade Blues – Este simpático sujeito é um nerd de música, cujo objetivo é lançar discos que parecem com qualquer coisa lançada na virada das décadas de 1950/60. É soul vintage, com aura de jazz dançante e cheio de crocâncias pelo caminho. Para quem gosta de Eli “Paperboy” Reed, o prato é cheio.

 

Ryley Walker – Course In Fable – O bardo de Chicago volta ao disco, dessa vez baseado em Nova York e mantendo sua pegada psicodélica. É como se Walker fosse uma mistura de Nick Drake com Donovan, devidamente inserida no contexto do tempo presente. Belas melodias, climas de guitarras e ótimos vocais.

 

Carpool Tunnel – Bloom – Banda do sul da Califórnia é quase sempre certeza de beleza. No caso do Carpool Tunnel, a onda é recriar climas setentistas com alguma propriedade contemporânea, caso da maravilhosa, soberba “Impressions”, que é exuberante na medida certa. Em alguns momentos a coisa fica mais pós-punk, noutros mais próxima do pop oitentista. “Flora” e “Dreaming Still” são perfeitinhas. Lindeza.

 

Lost Horizons – In Quiet Moments – Projeto de Simon Raymonde (Cocteau Twins) e Richard Thomas (Dif Juz), que fazem os instrumentais e arranjos, abrindo espaço para vocalistas como Marissa Nadler, John Grant, Ren Harvieu, Porridge Radio, Penelope Isles, Kavi Kwai e C Duncan. Faixas climáticas e belas formam o conjunto do álbum.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

2 thoughts on “Tem um monte de disco bom saindo – você sabia?

  • 15 de maio de 2021 em 13:52
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    Por isso, que as minhas listas de melhores do ano tem álbuns que não são tão percebidos pela grande massa.

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  • 12 de maio de 2021 em 18:19
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    Esse artigo é um serviço de valor inestimável para os amantes da boa música!

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