Suricato tenta disco pop oitentista e soa mais do mesmo

 

 

 

Suricato – Marshmellow Flor de Sal
33′, 10 faixas
(Universal)

2.5 out of 5 stars (2,5 / 5)

 

 

 

 

 

A maioria das pessoas foi apresentada ao Suricato por conta de sua participação no programa global “Superstar”. Era um reality show musical que tinha a pretensão de revelar bandas e artistas através de participação em apresentações ao vivo, com presença popular na escolha. Era bom, mas era bem ruim também, se é que vocês me entendem. Dentre os revelados pela atração, temos Banda Malta, Scalene e outros dos quais nem lembro. E, sim, tinha o Suricato. Comandada por Rodrigo Suricato, a banda tinha a ideia de fundir folk com música nacional e um certo ar pop, baseando suas ações no evidente talento de Rodrigo, seja nos vocais, seja nos violões e guitarras, sendo que ele já era um músico conhecido no Rio de Janeiro antes de se apresentar no programa. Pois bem, o tempo passou, o sujeito foi incorporado ao Barão Vermelho em 2017 – fazendo um grande bem ao esgotado grupo carioca – e, sim, mantendo sua carreira com sua banda. Em certos momentos, o Suricato parecia se confundir com a própria presença de Rodrigo, como se fosse uma “one-man band”. Agora o cantor e guitarrista arregimentou três músicos e ressurge como um grupo no qual o tal folk rock nacional de antanho deixou a cena para ser substituído por uma new wave pop à moda antiga, movimento materializado nas dez faixas do álbum “Marshmellow Flor de Sal”.

 

 

A verdade é que a tal new wave – que surge em alguns arranjos e na arte da capa e visual da banda – é bem menos evidente do que se espera. Rodrigo usa a associação do estilo com as cores e aproveita para revestir seu som – outrora mais sério – com uma certa alegria, que, no entanto, surge mais como uma isca para atrair os ouvintes mais curiosos e se dissipa ao longo das canções do álbum. Com produção de Kassin, o disco tem a participação de Liminha e Rodrigo surge como band leader à frente de Carol Mathias (teclado, baixo e voz), Martha V (teclado e voz) e Diogo Gameiro (bateria). As dez canções são dele, seja em parceria, seja solo e procuram espalhar a noção de pop pela obra do artista. “Pop” hoje, 2022, significa um som eminentemente eletrônico e maturado no estúdio e o que se ouve por aqui é um trabalho cheio de referências ao que era o estilo nos anos 1980, especialmente aqui no Brasil.

 

 

Isso não quer dizer que “Marshmellow Flor de Sal” é um disco ruim, mas pode soar como uma promessa não cumprida, seja pela influência de um “pop” de quatro décadas, seja pela não-preponderância de “faixas alegres” ao longo do álbum. Por exemplo, “Do Infinito A Tudo Que Se Vê”, ainda que seja uma boa canção, é um baladão com piano, voz e arranjo de cordas, ou seja, nada new wave. “Tudo É Um Só” é uma outra baladinha, dessa vez com ambiência mais folk, novamente bem distante da tal new wave almejada. “Começar de Novo” também vai neste esquema de canção mais reflexiva e lenta, ainda que tenha mais teclados e efeitos de vocais que as anteriores, também é uma balada estilizada. E “Para Um Novo Amor”, que fecha o álbum, é, adivinhe, uma balada com arranjo de violão, cordas e piano.

 

 

Quando o disco resolve, sim, abrir espaço para algo mais alegre e colorido, Suricato até acerta no alvo. “Cada Vez Mais Louco” certamente é a melhor canção presente aqui, com um jeitão de faixa esquecida por Marina Lima ou, para ser mais atual, de Qinhones ou Mahmundi, artistas mais identificados com este tipo de canção do que o próprio Suricato. A abertura, com “Foi”, exagera no arranjo plástico e quase derrapa no resultado final, com teclados que confundem leveza e animação com uma onda quase infantil, que soaria coerente num single do … Trem da Alegria. “Lua de Saudade” é bacaninha, lembra algo que Silva poderia ter feito em seu primeiro álbum, “Claridão”. “Vênus” é outra canção que sobrevive à confusão dos arranjos e climas dramáticos e pianísticos, enquanto “Voltar Ao Que Era Antes” é, adivinhe: mais uma canção lentinha.

 

 

Rodrigo Suricato é, sem dúvida, um cara talentoso e parece ser inteligente, articulado e bem-intencionado. É necessário, porém, ter um foco claro do que deseja fazer de sua carreira. Este álbum é mais um trabalho dele dentro do que sempre fez, apenas com duas músicas arranjadas de forma diferente. Fraco.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

One thought on “Suricato tenta disco pop oitentista e soa mais do mesmo

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *