Sting lança um dos melhores álbuns de sua carreira

 

 

Sting – The Bridge

Gênero: Rock, jazz, pop

Duração: 45:17 min
Faixas: 13
Produção: Sting
Gravadora: A&M

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

 

Eu torço para que o maior número de gente preste atenção em “The Bridge”, o novo e décimo-quarto álbum da carreira de Sting. Torço não porque o ex-Police está em baixa, pelo contrário, mas porque ele resolveu lançar este disco no mesmo dia em que a cantora inglesa Adele e veio para disputar a preferência dos ouvintes num mundo em que, além de Adele, gente como Ed Sheeran, Coldplay e outros são campeões de aparições, likes e tudo mais. E, como se não bastasse, “The Bridge” ainda tem que enfrentar nada menos que “Voyager”, o novíssimo álbum do ABBA, retornando de uma hibernação artística de 40 anos. Nada disso parece afetar Sting que, do alto de seus impressionantes 70 anos, resolveu reencontrar a verve artística que tinha até o início dos anos 1990, mais precisamente, de “Ten Summoner’s Tales” em diante. Ele não só reencontrou o seu melhor como cantor e compositor, mas incorporou alguns elementos que só fizeram bem à sua receita de pop erudito e com sombras de jazz e rock.

 

“The Bridge” desce redondíssimo. É um desses trabalhos engendrados em tempos de pandemia, ou seja, registrado remotamente e em estúdio caseiro. Não dá pra saber se foi o isolamento que devolveu Sting ao melhor caminho de sua carreira, mas é ótimo saber que não há nenhum artifício para chamar a atenção do ouvinte que não seja a própria excelência da música. Não tem efeito eletrônico, colaboração esquisita, forcação de barra, só a voz intacta de Sting, seu baixo e o bom senso de arranjos que privilegiam os timbres e o valor dos instrumentos tocados “à moda antiga”. Tem violões, tem pianos, tem metais, tem percussão, tem tudo o que a gente gosta e que parecia embaçado pelo desejo do velho Gordon em soar moderno ou urgente de um jeito que ia de encontro ao que sua obra sempre teve de melhor: a elegância falando mais alto que a eloquência. Sting sempre se saiu melhor falando baixo e preciso do que gritando e esta metáfora dá o molde perfeito para “The Bridge”.

 

Outro traço marcante do melhor da obra de Sting também está presente neste feixe de treze canções: a capacidade de contar histórias. O homem é um ótimo escritor e dá espaço para personagens e lugares belos e que nos dão vontade de conhecer sem nem ter certeza se são verídicos. Assim é, por exemplo, com “Harmony Road”, uma lindeza de canção contemplativa sob as estrelas do Hemisfério Norte. Ou na trinca de pequenas maravilhas – “The Hills On The Border”, “Captain Bateman” e na assombrosa “The Bells Of St Thomas” – em que Sting exercita a belezura de arranjos detalhados, silenciosos, meticulosos, em que dá pra ouvir a leveza da bateria com escovinha, a guitarra fazendo ambiência ou o teclado apenas criando o clima que vai envolver a narrativa de experiências próprias, em primeira ou terceira pessoa, olhando ou sentido, algo que, como dissemos, ele faz muito bem.

 

Mas “The Bridge” não seria completo se não exibisse uma fluidez pop de parada de sucesso, como consegue mostrar em seus dois singles: “Rushing Water”, que tem cacife para disputar um lugar em uma compilação de greatest hits da carreira de Sting com cavalos de batalha. E “If It’s Love”, que tem até assobio e fofura rítmica para grudar nos ouvidos de quem quer que seja. E, como se não bastasse, temos o jazz suingadíssimo de “Captain’s Bateman Basement” e, no fim do percurso musical, o homem ainda saca uma interpretação própria para o standard soul “(Sittin’ On) The Docks Of The Bay”, de Otis Redding, dando contornos próprios mas sem perder a ternura escapista do original. É quase como se Sting conseguisse se apropriar da narrativa do sujeito que vê o tempo passar na Baía de San Francisco, algo que, convenhamos, não é pra qualquer um.

 

“The Bridge” é um triunfo para um jovem veterano que estava devendo há muito tempo um disco realmente bom. Tem tudo que o fã de Sting espera de um disco dele e isso é o seu grande feito.

 

Ouça primeiro: “The Bells Of St.Thomas”, “The Hills On The Border”, “If It’s Love”, “Rushing Water”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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