Brendan Benson – Dear Life
Gênero: Rock alternativo
Duração: 32 min.
Faixas: 11
Produção: Brendan Benson
Gravadora: Third Man,
Muito antes de ser “a parte mais melódica dos Raconteurs”, Brendan Benson já era um pequeno e discreto mago da composição e gravação do que se costumava chamar de powerpop. Ou de pop-rock. Treinado na ourivesaria e na artesania do formato clássico de três minutos de canção, influenciado por gênios como Paul McCartney, Benson já tem mais de 20 anos de carreira, tendo iniciado lá em 1997, com um disco chamado “One Mississippi”. Foi com “Lapalco”, de 2002, que ele ganhou mais notoriedade, inclusive nos meios alternativos brasileiros, tendo este álbum sido lançado pela Sum Records na mesma época. Dois anos depois, lá vinha Benson com outro trabalho, “Alternative To Love”, do mesmo calibre do anterior, cheio de faixas melódicas, entre o pop anglo-saxão oitentista e as origens beatle dos anos 1960, tudo atualizado para seu tempo.
Mesmo depois de ser recrutado por Jack White para contrabalançar a rascância dos Raconteurs, Brendan seguiu lançando seus álbuns e este ótimo “Dear Life” é seu mais novo atestado. O disco tem onze faixas e 32 minutos, numa conta pra lá de redonda em termos de custo/benefício. Primeiras e relaxadas audições do conteúdo irão atestar que Brendan deu uma avançada sobre terrenos até então pouco ou não explorados por ele. Há certa liberdade no formato mas isso surge em momentos isolados e de um jeito que não compromete a devoção dele em relação aos ditames mais clássicos do powerpop. As melodias são lineares, incrivelmente grudentas e com ganchos por todos os cantos. Detalhes também enfeitam algumas passagens, tudo muito bem feito e bonito.
As tais canções “experimentais” são, na verdade, duas. “I Can Call If You Want Me To”, que abre o álbum, é uma delas, com texturas eletrônicas e formatos que derivam do hip hop, mas que logo são engolidos por guitarras e peso. O arranjo conduz a canção nesta dualidade entre melodia e artifícios experimentais, sem jamais comprometer a audição. “Good To Be Alive”, a seguinte, traz um outro momento novo na obra de Benson: a melodia linear e cadenciada dos primeiros momentos cede espaço a uma levada dançante e próxima da … disco music apunkalhada do início dos anos 2000, passada por um filtro de sintetizadores. Efeitos vocais percorrem as duas faixas, que chegam a enganar os incautos de primeira hora. A partir daí, o disco segue uma deliciosa normalidade, com momentos realmente inspirados.
“Richest Man”, um dos singles, é uma lindeza linear, propulsionada por baixo, bateria e guitarras, que se fundem a um piano que surge no refrão em meio a vocais de apoio, tudo nos devidos lugares. Parece algo dos Monkees, dos Hollies. A faixa-título é uma mistureba bem dosada de teclados, violões e guitarras, todos a favor dos refrãos e da boa fluência da canção. Parece algo do saudoso Fountains Of Wayne. “Baby’s Eyes” tem naipe de metais em seu arranjo, mas sua levada de violões tangenciando o folk rock é seu grande atratativo, além, claro, da boa performance vocal de Benson. “I’m In Love” é mais invocada, com guitarras mais pesadas e melodia mais próxima do rockão. Talvez soasse igualmente interessante com os Raconteurs, mais enguitarrada ainda. E “I Quit” é mais uma dessas baladas powerpop que inicial brandas e pegam velocidade ao longo do tempo, mostrando o quanto Benson, além de bom músico, é bom arranjador e produtor.
Com o compromisso firmado com as boas formas da canção pop, Brendan Benson segue fiel às origens e confirma seu destaque no oceano dos jovens e discretos compositores que têm o dom de fazer canções praticamente perfeitas.
Ouça primeiro: “I Quit”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.
Fernando, muito obrigado pelas palavras. Tamos aí. Abraço.
Excelente crítica, Cel. Bom reencontrar seus textos, que sigo desde a época da finada Rock press, que muito me ajudou a suportar minha realidade suburbana carioca.
Sobre o disco do Brendan, achei alto nível. Lapalco tocou muito na minha vitrola.
Parabéns pelo site, estou lendo com imenso prazer e deleite os textos.
Força e saúde!!!