Silva – Cinco

 

 

Gênero: Pop alternativo

Duração: 48 min
Faixas: 14
Produção: Silva
Gravadora: Farol Music

2.5 out of 5 stars (2,5 / 5)

 

 

 

 

O tempo passa muito rápido: este já é o décimo álbum do capixaba Silva. Ao longo desta trajetória, ele passou do compositor/produtor e cantor de um pop moderno e tecladeiro, com pé nas tradições do pop nacional, no sentido Guilherme Arantes do termo, para um outro tipo de artista. Há algum tempo, Silva faz um movimento de mudança. Primeiro gravou e excursionou com Marisa Monte, fazendo um repertório composto por canções da compositora carioca. Depois lançou um disco em que se aproximou de uma variação mais “popular” de pop – “Brasileiro” (2018) – e culminou com o discutível “Bloco do Silva”, lançado ano passado, em que revisitou o repertório de bandas de axé noventista, além de se aproximar de cantoras como Ludmila e Ivete Sangalo. Ouvindo “Cinco”, o novo trabalho do sujeito, o que temos não é o tal pop que ele vem praticando nos últimos anos, tampouco o que fez no início da carreira. Silva vem com outra sonoridade.

 

Nada contra artistas que mudam de estilo enquanto mantém suas características principais, algo que demonstra inquietude, criatividade etc. Mas me pergunto se essas fases na carreira de Silva não são curtas demais. Em “Cinco” ele oferece uma nova variação de pop, com pé firme nos anos 1970, especialmente em sonoridades que transitam pela pós-Bossa, pelo samba, pelo reggae, sem pressa, sem urgência. E também faz algumas visitas em algo do repertório setentista de Roberto Carlos, especialmente a habilidade pop que o Rei tinha naquela década. Sim, é um texto em que tem muitas vezes repetida a palavra “pop”, porque este é o ambiente de Silva, a questão reside em que âmbito ele estará posicionado. Esta nova/velha vertente que ele abraça aqui tem prós e contras, sobretudo porque, caso raro, as novas composições não são fortes o bastante para sustentar a guinada estilística. Especialmente em momentos tangentes ao samba e ao reggae – dois estilos que têm carga histórica e cultural – Silva soa meio aguado e aquém.

 

 

“Cinco” tem participação de Anitta, Criolo e João Donato. Em alguns momentos, há a impressão que há certa satisfação em cantar letras de sofrimento, ruptura, fim de relacionamentos, algo que vai além de eventual alívio por conta do encerramento de algo tóxico, mas por uma certa falta de noção em avaliar os arranjos e casá-los com a carga lírica presente. O exemplo maior é “Passou Passou”, que exibe um ska lento e dolente, com arranjo solar para falar de algo que acabou por acabar. “Sorriso de Agogô” (que título, hein?) é sambinha anódino com bom instrumental, colocado a serviço de um certo equívoco estilístico. E por aí vai o disco adentro, com arranjos bem feitos, diversificados e que exibem momentos de talento, colocados contra letras e interpretações que ficam muito aquém. “Pausa Para A Solidão” é outro destes momentos de desencontro entre letra e arranjo, algo que soa incômodo.

 

 

Em alguns momentos, Silva quase abraça esse pop fofinho de artistas como Anavitória e Melim, caso de “Não Vai Ter Fim”, em que não há sangue, ambivalência ou algo de humano, apenas fofura na beira da praia ao por do sol. As colaborações variam de resultado: “Facinho”, com Anitta, é outro skazinho inofensivo, com a cantora usando falsete e novamente parecendo algo que os irmãos Melim poderiam apresentar. Com João Donato o nível sobe consideravelmente, pois “Quem Disse”, a faixa colaborativa entre os dois, é um samba jazz à moda antiga, belamente conduzido, em que a letra – finalmente – não joga contra o arranjo. E “Soprou”, com Criolo, é uma marchinha caetânica setentista, com violão e percussão, com ar de uma Bahia estilizada que era muito familiar naquele tempo e que hoje, pleno 2020, soa muito fora de lugar.

 

 

“Cinco” é um disco que mostra Silva em outra direção, mas padecendo de problemas sérios em termos de estilo e escolhas. A neo-MPB “esclarecida” que ele apresenta aqui é rasa e o descompasso entre letras e arranjos causa uma sensação estranha de causa sem consequência. Estranho.

 

Ouça primeiro: “Quem Disse”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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