Robo Vampire

 

Bem-vindos(as) de volta, amantes das obscuridades! Minha ideia inicial era falar sobre jogos de videogame, mas de última hora eu mudei de ideia e decidi falar sobre mais uma pérola cinematográfica, “Robo Vampire”, um dos filmes mais sem pé nem cabeça já concebidos e que só poderia ser fruto da mente insana do diretor chinês Godfrey Ho.

 

O que? Você nem imagina quem seja Godfrey Ho? Então sinto te informar que você tá totalmente por fora do maravilhoso mundo dos filmes toscos! Porém, não há motivo pra ficar triste, é para isso que eu estou aqui! Godfrey Ho é simplesmente um dos maiores picaretas da história do cinema. Ele era capaz de, com apenas 15 minutos de cenas gravadas, fazer uns 20 trabalhos diferentes! E como ele conseguia esse verdadeiro milagre da multiplicação? Simples, ele reeditava, redublava e o mais absurdo, enxertava cenas de outros filmes obscuros ou inacabados de países asiáticos (dirigidos por ele ou não, pouco importava, o sujeito era mesmo cara de pau!). E como ninguém descobria a mutreta? Fácil: Esses trabalhos miravam o mercado americano, e se mesmo por lá na Ásia tais filmes eram desconhecidos, imagina então no Ocidente… e vale ressaltar também que naquela época não havia internet, o que dificultava ainda mais a vida de gente como eu, disposta a perder tempo pesquisando sobre tais atrocidades…

 

Pra piorar, talvez para dar um toque americanizado, ou talvez por pura vergonha do filho que pariu, quase todas suas obras foram assinadas com pseudônimos. O IMDB lista 148 filmes dirigidos por ele, mas é bastante provável que tenha sido bem mais! Agora imaginem o que poderia acontecer quando alguém tão louco resolve pegar carona na onda da época (Robocop) e misturar com vampiros?? O resultado é o insano e inacreditável de tão ruim “Robo Vampire”, nosso tema de hoje!

 

Antes de seguirmos em frente, é importante fazer um pequeno adendo: quando eu disse “vampiros”, você certamente deve ter pensado em algo numa caracterização clássica como a do Conde Drácula, certo? Pois bem, esqueça: o problema é que esse é um filme chinês, e o conceito deles é BEM diferente. Chamados por lá de “Jiangshi”, eles não viram morcego, não são vulneráveis à luz do sol e se locomovem aos pulinhos com os braços esticados para a frente (quem já jogou algum game da série “Darkstalkers” certamente se lembra da personagem Hsien Ko, a mais famosa representante dos Jiangshi na cultura ocidental). Para eliminá-los, cruzes, água benta, estacas são completamente ineficazes; basta colar um pedaço de papel na testa deles com uma palavra mágica e pronto, problema resolvido, eles na hora ficam imobilizados!

 

“Mas calma aí, onde afinal entra o Robocop nessa história?”, você deve estar se perguntando. Chegarei lá: Tudo começa quando dois soldados, ao fazer uma ronda num cemitério, são atacados sem motivo aparente pelos tais vampiros asiáticos, e após um dos jiangshi disparar um míssil (é sério, não ria!), um dos nossos heróis cai estatelado no chão e seu corpo é levado a um centro médico e, após assinarem uma papelada, é dado sinal verde para construírem a versão com sérias restrições orçamentárias do Robocop… honestamente, eu tenho uma vasta experiência com fuleiragem, mas pouquíssimas vezes vi algo tão mal acabado e ridículo quanto esse ser, que deveria ser de metal, mas tem remendos nítidos na roupa! É pra passar mal de tanto rir!

 

Mas eis que aí temos a grande reviravolta: como eu disse no início do texto, Godfrey Ho pegava filmes obscuros pra enxertar em suas obras e economizar uns trocados; portanto a partir desse ponto, a história do robô genérico começa a se alternar com a de um filme tailandês (que eu confesso que não sei o nome; se alguém puder ajudar, estamos aí!) onde um grupo de agentes especiais da polícia enfrenta traficantes. As duas tramas em nenhum momento convergem, você uma hora está vendo um tiroteio entre policiais e bandidos e, subitamente, corta pra um androide dando tiros nos tais vampiros, combate que diga-se de passagem não tem a menor razão de ser, já que os Jiangshi são imunes a tiros e o robozão, imune também aos poderes deles. Porém, sabe-se lá porque, do nada as armas do nosso herói começam a causar danos nas criaturas, o que faz com que o líder delas (um gorila chamado Peter!) resolva vir pessoalmente tirar satisfação, sem sucesso: Após ser incendiado (e sim, subitamente a metralhadora do protagonista vira um lança-chamas… não tente entender!), ele se transforma numa camisa (!!!!) e fica pegando fogo pendurado por um fio pra lá e pra cá! Fim! Genial, não? É tudo tão sem lógica, tão paupérrimo e tão demente que não tem como não rir! Enfim, acho que eu não preciso dizer mais nada: Faça um favor a si mesmo e baixe ainda hoje essa pérola! Com certeza foi um dos mais eficientes antidepressivos já criados pelo homem!

 

PS: Quando terminei de escrever essa resenha, soube de uma coisa que me deixou embasbacado: no início dos anos 2000, Godfrey Ho decidiu abandonar a carreira de cineasta e hoje dá AULAS DE CINEMA NA UNIVERSIDADE DE HONG KONG!!! Já pensaram? Gerações inteiras influenciadas por esse cidadão? Como diria a Regina Duarte, “eu tenho medo, muito medo”…

Luciano Milhouse

Luciano Milhouse é flamenguista, pensa que sabe escrever, tem 6 cachorros e aceita doações de CDs, DVDs, videogames e carrinhos (para desespero de sua esposa)!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *