Resumão 2018

Eu sei, eu sei. Talvez seja tarde demais para falar do ano passado.

A rapidez da vida, a urgência dos fatos e as regras do mercado dizem isso, mas, no caso de um site estreante como Célula Pop, vamos abrir uma exceção e pegar mais leve, certo?

Aqui estão várias listas de bons discos, músicas, filmes, programas de TV, que fizeram bonito no ano passado, dos quais você deve correr atrás.

Tem pra todos os gostos, tribos e orientações. E há itens negligenciados pelo senso comum editorial, que é um dos nossos inimigos principais, orgulhosamente apontados e incluídos nessa seleção de boas realizações de 2018.

Nunca é demais. Divirta-se, conheça, fuce.

Disco Nacional

Gal Costa – A Pele do Futuro – Gal de volta aos álbuns pop que costumava fazer no início
dos anos 1980. Composições belíssimas que vão de Hyldon a Tim Bernardes, otimamente
gravadas, uma lindeza do início ao fim.

Mauricio Pereira – Outono no Sudeste – o ex-Mulheres Negras é um erudito do pop nacional
conhecido por bem menos gente do que seria justo. Melodias intrincadas, letras
sensacionais e a impressão de modernidade constante.

Kassin – Relax – o produtor mais requisitado da música brasileira que realmente importa.
Um clima de anos 1970/80 carioca, arejado, pop, com cordas, teclados e um fantasma de
Lincoln Olivetti se divertindo no estúdio.

Mahmundi – Para Dias Ruins – uma das cantoras mais promissoras da atualidade no país.
Mahmundi deixou um pouco de lado as canções de Marina Lima que nunca existiram para
enveredar por influências mais atuais com boa desenvoltura, ainda que seu máximo seja a
recriação daquele pop nacional luxuoso e radiofônico de 1987/88.

Gilberto Gil – OK OK OK – o velho mestre abraça a velhice e a experiência, sem falar na
vulnerabilidade e a fragilidade que o passar do tempo oferece em troca da sabedoria, num
disco sensível, terno e amoroso.

Elza Soares – Deus é Mulher – depois de sua reinvenção como diva da música brasileira
jovem, engajada e relevante no país, Elza segue destroçando convenções sociais e
artísticas, impondo sua passagem.

Rubel – Casas – Contemplativo, cinematográfico, visual, “Casas” é um disco raro na música
brasileira atual. Rubel evoca esses adjetivos sem deixar de lado a musicailidade e a
preocupação com o presente.

Phillip Long – Fake News – um trovador paulista, atento e atuante. Long parte de Bob
Dylan e Raul Seixas, tangencia o indie folk e oferece um raro disco engajado e político,
mostrando o quanto esse tipo de trabalho é necessário.

Manoel Magalhães – Consertos em Geral – Ex-Polar e ex-Harmada, Manoel é sujeito de rara
sensibildade e um daqueles que insistem em cantar com o coração na ponta dos dedos que
dedilham a guitarra. Canções de amor nunca morrem.

Tatá Aeroplano – Alma de Gato – um veterano da cena paulista finalmente acerta a mão
neste que é seu melhor disco. Otimista sem ser alienado, feliz sem ser abobalhado, uma
pequena belezura melódica e poética.

André Abujamra – Omindá – outro ex-integrante do sensacional combo (de duas pessoas) Os
Mulheres Negras, Abujamra segue com seu amor pela música do mundo, especialmente da
África. Um discaço sensacional.

Duda Beat – Sinto Muito – talvez a voz mais nova e fresca surgida na música jovem
brasileira, Duda junta um adorável sotaque recifense com a moderna música eletrônica para
dançar e cantar junto. Irresistível.

Autoramas – Libido – o Rock teima em soar sensacional a partir da dedicação e maestria do
sensacional grupo carioca, que recusa-se a mexer em time que está ganhando há tanto tempo. Essencial.

 

13 Músicas Nacionais

Mauricio Pereira – Quatro Dois Quatro

Mahmundi – Alegria

Elza Soares – Exu nas Escolas

Rubel – Colégio

Phillip Long – Fake News

André Abujamra – Real Grandeza

Tatá Aeroplano – Vida Inteira

Gal Costa – Vida Que Segue

Gilberto Gil – Ouço

Djavan – Solitude

Manoel Magalhães – Fica

Kassin – Comprimidos Demais

Duda Beat – Bixinho

 

13 Discos Gringos

Kamasi Washington – Heaven & Hell – outro disco duplo/triplo do sensacional saxofonista
americano. Kamasi mira em John Coltrane e Pharoah Sanders e evoca climas de misticismo e
afrofuturismo para reinventar o jazz como estilo relevante entre os não-eruditos.
Histórico.

Rolling Blackouts Coastal Fever – Hope Downs – a Austrália é capaz de inventar bandas que
trazem o sol na cabeça e o mar no coração. Pelo menos é essa a impressão que temos ao
ouvir o novo álbum do RBCF, uma belezura total de guitarras aquáticas.

Damien Jurado – The Horizon Just Laughed – Jurado é uma espécie de trovador da América
que ninguém vê, mas escolhe ser um contista neste álbum de pequenas históricas,
melancolia e olhares por janelas respingadas de chuva.

Low – Double Negative – Veterana dos anos 1990, Low deixou de lado o slowcore e mergulhou
no eletrônico, incorporando uma verve anti-Trump, relatando com tristeza o abandono
existencial que os USA vêm experimentando já há tempos.

The Orb – No Sounds Are Out Of Bounds – veterana formação de música eletrônica inglesa,
The Orb segue com as manhas e as manias de fazer dub temperado com blips e blops em pleno
2018 e soar atual.

Moby – Everything Was Beautiful And Nothing Hurt – Moby segue atuante e relevante, sem
falar que seus álbuns são sempre belos e interessantes. Neste novo trabalho, ele reflete
sobre os rumos do planeta sob a égide do consumo e suas consequências.

Jon Hopkins – Singularity – Hopkins é um artista de música eletrônica com um pé firme na
música dos anos 1990. Cheio de influências de Underworld e outros artistas importantes
daquele tempo, ele dá seu próprio testemunho das possibildades do estilo na atualidade,
livre da influência nefasta da EDM e seus DJs de pendrive.

Jim James – Uniform Distortion – líder do ótimo My Morning Jacket, James gravou um álbum
cheio de afeto pelo folk rock de Neil Young, com ótimas melodias e vocais apaixonados. Há
uma versão acústica, chamada Uniform Clarity, que é bela, mas perde na comparação para
estas gravações elétricas aqui.

Neneh Cherry – Broken Politcs – em constante evolução, Neneh é outra artista a gravar
disco político e cheio de críticas ao estado das coisas na atualidade. Fez isso com a
produção do ótimo Kieran Hebden, mais conhecido como Four Tet.

Superchunk – What A Time To Be Alive – discos como este mostram que o rock ainda é
interessante e relevante, não pelas invencionices, mas pelo afinco e dedicação ao feijão
com arroz de guitarras e distorções. Superchunk é mestre disso e segue fazendo ótimos
discos.

Arctic Monkeys – Tranquility Base Hotel & Casino – o primeiro álbum realmente legal
gravado pela banda, que resolveu abraçar uma estética de anos 1970 decalcada de Bowie e
excentricidades do pop sombrio. Boas composições e a ausência de medo de desagradar sua
base de fãs são marcas desse AM versão 2018/19.

Beach House – 7 – o duo de Baltimore segue em sua trilha muito particular de reinvenção
do que a gente costumava chamar de dream pop, ainda que nada aqui pareça muito com o
estilo, assim, de bate pronto. A voz e os teclados de Victoria Legrand seguem como
diferenciais da belezura que é o Beach House.

 

13 Músicas Gringas

Kamasi Washingston – Street Fighter Mas

Damien Jurado – Allocate

Gaz Coombes – Wounded Egos

The Orb – Doughnuts Forever

MGMT – She Works Out Too Much

Moby – Mere Anarchy

Jim James – No Secrets

Andrew Cyrille, Bill Frisell e Wadada Leo Smith – Worried Woman

Underworld e Iggy Pop – Bells & Circles

Paul McCartney – Despite Repeated Warnings

Arctic Monkeys – Star Treatment

Jeff Tweedy – I Know What Is Like

The Parcels – Exotica

 

13 Filmes

Roma – grandioso na tela pequena da Netflix, impressionante na telona do cinema. Alfonso
Cuarón revisita sua infância no México de 1971 com a precisão que só nossas próprias
memórias têm.

Infiltrado na Klan – Spike Lee conta história real sobre detetive negro que conseguiu
entrar para a KKK usando várias malandragens. Os discursos de ódio soam tristemente
atuais.

Springsteen On Broadway – Springsteen é um grande contador de histórias e não poderia ser
diferente contando a sua própria. Funciona melhor com fãs do Boss.

Uma Noite de Doze Anos – retrato cru e sem cerimônia da ditadura uruguaia tratando presos
Tupamaros, entre eles, o futuro presidente Pepe Mujica. Atual e necessário.

Onde Está Você, João Gilberto? – história da história do escritor alemão que veio ao Rio
em busca do mitológico cantor baiano. Diferente e sensacional.

A Noite do Jogo – Rachel McAdams e Jason Bateman em comédia muito acima da média, com
cenas hilariantes e excelente roteiro.

Jogador nº1 – Spielberg atuando no território da ficção científica com excelentes efeitos
especiais numa história que lembra Matrix e cita inúmeras referências da cultura pop dos
anos 80.

Bandersnatch – o “filme interativo” da série Black Mirror é atordoante e tem parentesco
com produções B dos anos 80, como “Dreamscape”, “A Hora da Zona Morta” e “Scanners”.
Ótimo.

O Insulto – vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2018 e do Leão de Ouro do
Festival de Veneza em 2017, filme dilacerante sobre os fantasmas culturais no Líbano
atual.

Desobediência – As “Rachels” Weisz e McAdams vivem um raro drama amoroso com fundo social
e religioso, que quebra barreiras e exibe ótima sinergia.

O Primeiro Homem – Cinebio correta de Neil Armstrong, primeiro astronauta americano a
pisar na Lua, em 1969. Destaque para a presença luminosa de Claire Foy como esposa de
Armstrong, roubando o filme do insosso Ryan Gosling.

Bohemian Rapsody – Cinebio de Freddie Mercury, cantor da banda inglesa Queen, que rachou
opiniões ao redor do mundo. Defensores acham que o filme tem méritos de sobra, entre
eles, a atuação precisa de Rami Malek. Já os detratores cobram fidelidade a eventos
cronológicos e mais profundidade dramática do roteiro. O resultado é expressivo e
positivo.

Missão Impossível – Efeito Fallout – Tom Cruise tem um amor perene pela série que recria
as aventuras televisivas do agente Ethan Hunt. Seu perfeccionismo pelo apuro técnico casa
bem com um roteiro legal e os coadjuvantes sempre interessantes, especiamente, Simon
Pegg.

 

13 Boas Coisas na TV

Bate-Bola Debate – ESPN Brasil – não há melhor programa na TV brasileira atualmente. As
discussões esportivas são turbinadas por improvisos, conversas paralelas, humor
voluntário e nem tanto e uma direção que libera os comentaristas para ultrapassarem
fronteiras. Uma espécie de Seinfeld da crônica esportiva.

O Som do Vinil – Canal Brasil – Charles Gavin segue mostrando discos e artistas com
conhecimento e generosidade. O programa funciona como um pequeno bálsamo para os que
viram a música tornar-se acessório nestes tempos estranhos.

O Som e o Silêncio – Canal Arte 1 – produção da Coevos Filmes e Entreter, o programa teve
13 episódios em sua temporada de estreia, mostrando artistas e luthiers de vários
instrumentos musicais, contando sobre os segredos de seus ofícios, com a apresentação boa
praça de Marcos Suzano.

The Americans – FX – uma das melhores séries de espionagem de todos os tempos, The
Americans chegou ao fim em 2018 com uma dilarecerante sexta e última temporada, mostrando
os eventos finais do casal de espiões soviéticos radicados nos Estados Unidos dos anos
1980.

The Handmaid’s Tale – Hulu/Paramount – a impressionante distopia religiosa pensada pela
escritora Margaret Atwood e produzida/estrelada pela atriz Elisabeth Moss encerrou sua
segunda temporada, mostrando o que pode acontecer se o mundo não tentar evitar o
fundamentalismo religioso e o machismo. A nova temporada chega em maio.

This Is Us – Fox – a série da família Pearson é um grande acerto nos USA e tem um público
crescente por aqui. Boas atuações, episódios com ótima montagem e edição, além de trilha
sonora bem pensada adornam os roteiros muito além da mesmice. A terceira temporada deve
acabar até março deste ano.

Sharp Objects – HBO – uma minissérie com a ótima Amy Adams, mostrando suas investigações
como repórter sobre um crime acontecido em sua cidade natal. A direção de Jean-Marc Valee
faz toda a diferença, especialmente no uso do som, algo que ele já fez em outra série
excelente, Big Little Lies, e no filme Wild, com Reese Witherspoon. Sharp Objects é
sombria, psicodélica e estranha, tudo na medida.

Black Mirror – Netflix – a série sobre a interferência da tecnologia na vida das pessoas
num futuro próximo segue cativando espectadores. A nova temporada mostra uma inovação:
apenas um episódio, o ótimo Bandersnatchers, com vários finais alternativos, de acordo
com a interação do espectador. História sendo feita.

Renova – Shoptime – produzir algo relevante num canal de vendas pela TV é tarefa
hercúlea, mas a ideia de colocar o apresentador Ciro Bottini num show de perguntas e
respostas na casa de espectadores do Shoptime é genial. Ele usa seu estilo à la Silvio
Santos e consegue ótimo resultado, fugindo da mesmice desse tipo de proposta.

Pine Gap – Netflix – série australiana sobre uma base de escuta, compartilhada por
americanos e australianos no meio do deserto da ilha-continente. Intrigas, fogo amigo,
ressentimentos, tudo conspira a favor de um bom resultado.

Collateral – Netflix – série inglesa com a ótima Carey Mulligan (Education, Drive),
vivendo uma detetive da polícia de Londres, que se depara com um assassinato por motivos
raciais. O roteiro leva o espectador para várias tramas paralelas e não deixa um furo
sequer, mantendo o bom nível de suspense.

Masterchef – Bandeirantes – o reality show culinário ainda tem alguma lenha pra queimar e
se mostra com momentos interessantes. Uma arejada será necessária em breve mas dá pra ver
duas temporadas por ano. Ainda.

Cozinha Prática com Rita Lobo – GNT – se há um programa de culinária que vale ver é o da
Rita Lobo, veterana nesse tipo de atração. Simpatia, associação da culinária com
identidade, memória, história e ótimo gosto a fazem ser a única realmente essencial nesse
mundinho.

 

13 Melhores Discos Gringos que Ninguém Vai Lembrar

Tony Molina – Kill The Lights – dez músicas em 14 minutos. Esta é a magia de Tony Molina:
escrever pequenos doces powerpop que duram pouco. A sensação é estranha e boa, a de
desejar que todas as canções do álbum durem mais.

Sha-La-Das – Love in The Wind – direto da gravadora Daptone, a mesma de Charles Bradley e
Sharon Jones, essa família de Staten Island, New York, oferece uma sonoridade híbrida de
doo-wop e r&b, num casamento raro e belíssimo.

Fancey – Country Fair – Todd Fancey é guitarrista do combo canadense New Pornographers e
tem mania de fazer discos solo pensando que está em 1972/73. O resultado é uma sucessão
de pepitas pop. Neste novo álbum ele empresta seu talento a covers obscuras e
sensacionais.

Tahiti 80 – The Sunshine Beat vol.1 – a banda francesa segue com seu som ensolarado e
dedicado a recriar ambiências da virada dos anos 1970/80, sobretudo seus momentos mais
pop e acessíveis.

Nils Frahm – All Melody – o tecladista alemão segue em seu trabalho de mistura
sonoridades eruditas e eletrônicas, sempre com resultados espantosos. Este álbum foi
gravado em seu estúdio particular em Berlim, especialmente construído para obter o máximo
de precisão nos processos de gravação. Assombroso.

Matt Berry – Television Themes – o cantor, compositor e multinstrumentista inglês
resolveu gravar um álbum compilando temas de programas de TV dos anos 70 e 80 … que
nunca existiram. Uma maravilha de um mundo paralelo.

Swing Out Sister – Almost Persuarded – o veterano duo inglês segue com carreira ativa,
excursionando e gravando álbuns. Este, em especial, é uma maravilha de arranjos soulpop
com cordas, metais e sopros, além da voz maviosa de Corinne Drewery, uma das melhores e
mais injustiçadas cantoras de sua geração.

Moby – Everything Was Beautiful and Nothing Hurt (Remixes) – o novo álbum de Moby é ainda
mais sensacional nesta versão de remixes, todos feitos pelo próprio, explorando o
potencial de suas composições. Uma aula de possibilidades e beleza.

Midnight Oil – Armstice Day: Live At The Domain, Sidney – registro ao vivo de um show
doméstico da última turnê mundial do veterano grupo austrialiano – que chegou a vir ao
Brasil. Peter Garrett continua um ativista político e as canções ganham nova dimensão
diante do público.

Neil Young – Songs For Judy – Neil Young não vem entregando discos originais legais há
mais de dez anos, mas sua Série Archives vem salvando a pátria dos fãs. Este aqui é de
1976, com o velho canadense mandando ver no repertório de clássicos como “Zuma” e “Time
Fades Away”.

Bill Frisell – Music IS – Bill Frisell é um dos guitarristas mais criativos do mundo. Ele
flerta com o rock, o folk, o jazz, o soul e com … ele mesmo. Este novo álbum leva a
guitarra para territórios pouco ou nunca visitados.

The Nels Cline 4 – Currents, Constellations – Nels Cline é guitarrista do Wilco e tem
fascinação pelo jazz. Este é o segundo álbum de seu grupo paralelo a ser lançado pelo
prestigioso selo Blue Note. Há standards jazzisticos e inéditas, tudo muito bonito e bem
produzido.

José James – Lean on Me – já são dez anos de carreira com trabalhos consistentes nos
terrenos do jazz, do soul e da eletrônica. Agora, o americano José James lança um disco
com versões de canções de Bill Withers, cheio de classe e elegância.

 

!3 Melhores Discos Nacionais Que Ninguém Vai Lembrar

Djavan – Vesúvio – o veterano cantor e compositor alagoano não perde sua forma. Capa
linda, arranjos belíssimos e algumas canções que podem figurar entre o melhor de sua
carreira. Dá até pra esquecer algumas declarações equivocadas…

Edu Lobo, Dori Caymmi e Marcos Valle – Edu, Dori e Marcos – trio de mestres da música
brasileira brinca de revisitar suas carreiras solos, trocando de posição. Fica difícil
destacar alguma faixa neste belezura aqui.

Fernanda Takai – O Tom da Takai – com produção de Roberto Menescal e Marcos Valle,
Fernanda Takai revisita canções pouco conhecidas de Tom Jobim num disco que tem extremo
bom gosto e ótimas interpretações.

Bixiga 70 – Quebra-Cabeça – o combo paulistano segue inventando suas próprias tradições
no campo do afrobeat. Já estão num ponto de criatividade que já dá pra reconhecer uma
marca personalíssima nas canções e arranjos.

Zeca Pagodinho e Maria Bethania – De Santo Amaro a Xerém – palmas para quem tornou o
encontro desses dois possível. São complementares, duas lendas – cada uma a seu jeito –
da música nacional. Repertório compartilhado, banda impecável, maravilhoso.

Maria Bacana – A Vida Boa Que Tem Os Dias Que Brincam Leves – a veterana banda baiana de rock volta à carga com um disco de inéditas depois de muito tempo. André Mendes, que tem consistente carreira solo, segue à
frente da formação original.

ruído/mm – A é Côncavo, B é Convexo – a banda paranaense deixa de lado o “post-rock”,
gênero que é sinômimo de rock de guitarras instrumental e viajante, para confeccionar
arranjos e melodias mais pop e delicados. E se sai muito bem.

Ed Motta – Criterion Of The Senses – todo cantado em inglês e gravado na Alemanha, este
novo álbum de Ed brinca com o jazz pop e o funk, revelando também a paixão do cantor
pelo AOR, Adult Oriented Rock, do início dos anos 1980. Coisa fina e de nível
internacional.

mundo livre s/a – A Dança dos Não Famosos – os arquitetos do manguebeat seguem ativos e
com fortíssima pegada política, atacando o governo ilegítimo de Michel Temer e a burrice
generalizada criada pela mídia convencional. Destaque para o uso de sample entrevista de
Leonel Brizola a Jô Soares, falando dos arrastões no Rio do início dos anos 1990.

Caetano Veloso, Moreno, Zeca e Tom – Ofertório – Caetano e seus filhos se apresentaram em
vários shows no início do ano e deles veio este álbum com canções do repertório dos
membros da família. Delicado e gentil, como deve ser.

Erasmo Carlos – Amor É Isso – o Tremendão vive sua terceira idade com elegância e
sabedoria, de longe a maior qualidade deste novo disco. Arranjos de cordas, participação
de gente boa como Emicida e o coração na ponta da chuteira são os trunfos do velho
Erasmo.

Lestics – Breu – banda paulistana da categoria “tesouros escondidos”, cheia de
sensibilidade oitentista alternativa, domínio de guitarras, letras e melodias, mantendo
um padrão de qualidade que já dura muito tempo. Lindeza.

Lô Borges – Tênis + Clube – fruto dos shows no Circo Voador, no qual o grande compositor
e cantor mineiro revisitou o repertório do “disco do tênis”, lançado em 1973.
Participação da plateia, uma banda afiadíssima e a inclusão de várias canções do também
clássico “Clube da Esquina” tornam esse registro ao vivo vencedor.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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