Petra Costa já ganhou

 

 

A cineasta mineira concorre ao Oscar de Melhor Documentário por seu filme “Democracia em Vertigem”, lançado em 19 de junho do ano passado, via Netflix. A gente resenhou logo que o documentário saiu, veja aqui.

 

Mesmo que não vença a premiação, algo que os analistas consideram como provável, uma vez que há outras produções com mais chances – caso de “Apollo 11”, do diretor americano Todd Douglas Miller Jr – Petra Costa já é uma vencedora por conta do incômodo que vem causando no país. Agora que estamos perto da noite do Oscar, os veículos de comunicação da grande mídia nacional iniciaram uma campanha informal de desqualificação da produção de Petra. Quer dizer, passaram do silêncio, à época do lançamento e subsequente carreira internacional vitoriosa, ao ataque de mérito e justificativa. Não reconhecem o filme e atacam a diretora com palavras que vão de “filhinha do papai” a “produtora de triste ficção”.

 

Petra já ganhou.

 

O PSDB tuitou atacando o filme. Pedro Bial, porta-voz da inteligência global, disse que “Petra chora o tempo todo durante o filme”, se referindo à narração em primeira pessoa que a diretora empresta à narrativa dos fatos. O ocupante atual da presidência da república disse que não perderia tempo com filmes ruins, enquanto termos como “anti-Brasil” vão sendo conferidos à produção e à diretora pelo próprio governo atual do Brasil.

 

Repito: Petra já ganhou.

 

A diretora está em campanha pelo filme, defendendo sua realização. Quem sabe ela não faz história no próximo dia 9 de fevereiro?

 

O motivo pelo ódio em relação ao filme?

 

É bem simples.

 

“Democracia em Vertigem” é um documento/documentário sobre o processo que nos levou ao golpe de 2016 e ao estabelecimento do cenário político que propiciou a eleição do atual presidente do Brasil. Está tudo lá.

 

– A conivência/assistência da grande mídia como suporte ao golpe.

– A omissão da grande mídia sobre o tipo de campanha política feita pelo atual ocupante da presidência.

– A adesão das figuras da “direita pensante” à candidatura truculenta e violenta que venceu o pleito.

– Os vícios existentes nos processos criminais movidos contra o ex-presidente Lula.

– A postura tendenciosa dos integrantes do Judiciário

– Os ataques à presidente Dilma pela mesma grande mídia

– A miséria intelectual dos apoiadores da narrativa do golpe.

– A triste e tragicamente inesquecível votação do impeachment de Dilma, com o voto do atual ocupante da presidência do Brasil em homenagem ao torturador brilhante ulstra.

 

“Democracia em Vertigem” pode não vencer o Oscar. É um filme que retrata a nossa triste época e chegou no lugar mais distante e difícil que uma produção brasileira poderia chegar. E sem qualquer ajuda da grande mídia nacional. Sem lobby, sem jeitinho brasileiro, sem maracutaia, sem qualquer tipo de rabo preso. E sem ajuda do governo atual, que ataca as produções nacionais.

 

Em tempos mais justos, seu valor será reconhecido pela maioria. Por enquanto, refém da telinha, a enorme massa de pessoas brasileiras talvez ache mais fácil atacá-lo.

 

Petra e seu filme, por sua vez, já asseguraram seus lugares na História, como “Jango” de Sylvio Tendler, com a vantagem de que retratam a situação com muito mais proximidade.

 

Eu já disse que Petra Costa já ganhou?

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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