Pet Shop Boys – Hotspot

 

 

Gênero: Eletrônica
Faixas: 10
Duração: 42 minutos
Produção: Stuart Price
Gravadora: X2

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

Os Pet Shop Boys são desses artistas que identificamos logo nos primeiros segundos de uma canção, mesmo que seja uma recente. Com carreira que remonta aos meados dos anos 1980, Neil Tennant e Chris Lowe forjaram uma liga eficiente de pop muito eletrônico, no qual há espaço para orquestrações mirabolantes e belíssimas; bem pensadas epopeias sinfônicas; hinos discretos sobre amadurecimento e, sim, uma boa quantidade de hits para as pistas do mundo. Você não precisa levar a sério, a música dos PSB é irresistível e quase sempre apronta ótimas surpresas. É verdade que o duo tenha experimentado um momento de readequação no mercado a partir de 1996, quando lançou “Bilingual” e “encolheu” no disco seguinte, “Nightlife”, quando deixou de frequentar as paradas de sucesso com a ostensividade de antes. É verdade que o pop mudou, o hip hop ditou as normas do mainstream e tudo mais.

 

Desde 2013, no entanto, os PSB estão produzindo discos do mais alto nível e “Hotspot” dá sequência a esta fase, que teve início há dois discos, “Eletric”, daquele ano, e “Super”, de 2016. Podemos dizer que a parceria com o engenheiro e produtor Stuart Price é um dos motivos deste “renascimento” dos PSB. Estes três últimos discos são muito mais concisos que a produção dos anos 2000 lançada pela banda e fez ressurgir um certo purismo eletrônico nas canções. Este “Hotspot” é um passo adiante dentro desta fase, uma vez que já aproveita para aumentar o espectro sonoro proposto. Uma canção eletroacústica e emblemática desse movimento é “Burning The Heather”, tristonha, com uma melodia lindíssima e um arranjo que evoca nuances que poderiam ser de uma variação melancólica do Electronic, colaboração da dupla com Johnny Marr e Bernard Sumner. Na canção, no entanto, quem assume as guitarras tristonhas é Bernard Butler, do Suede.

 

As faixas de “Hotspot” não deixam a peteca cair. É difícil encontrar um ponto fraco entre as dez. O que se ouve é uma sucessão de pontos altos, que já começam com “You Are The One”, segunda canção, que evoca aquela fronteira sutilíssima entre a cafonália sentimental derramada e o preciosismo técnico do arranjo e dos timbres. “Happy People”, apesar de irônica, é uma cacetada irresistível de bolhas coloridas e melodiosas em alguma tarde perdida dos anos 1990. O arranjo é convencional, cheio de pianinhos house e com o vozerio recitando a letra em contraste com a voz melodiosa de Tennant no refrão. A colaboração com Years And Years em “Dreamland” é outro ponto altíssimo do álbum, mostrando timbres modernos para emoldurar uma faixa clássica do duo.

 

Algumas surpresas surgem em “Hoping For A Miracle”, que lembra algo que poderia estar em “Release”, de 2002, dada a melodia em câmera lenta e o tom mais introspectivo que a canção recebe. “I Don’t Wanna” é outra maravilha que abre mão das programações mais usuais de eletrônica em favor de um formato mais pop radiofônico. “Monkeybusiness”, por sua vez, faz o caminho de volta e pega toda a moldura sintética habitual e enfia numa canção irônica, como as que a banda vem fazendo há algum tempo. “Only The Dark” é uma baladinha como há um bom tempo não se vê, poderia ser uma faixa do … A-Ha. E “Wedding In Berlin” é uma bem humorada canção, talvez uma alusão ao local de gravação do álbum, o mitológico Hansa Studio, na capital alemã.

 

Tennant e Lowe seguem como artistas influentes e donos de uma marca registrada, mostrando capacidade de produção de belas canções, envoltas por ótimas ideias. Nem parece que os sujeitos estão há quase QUARENTA ANOS fazendo música. Segue como o único PSB que merece nossa confiança imediata.

 

Em tempo: o duo está lançado vários singles e EPs com canções do álbum, dando-se ao luxo de deixar de fora algumas ótimas faixas, caso da sensacional “Decide”.

 

Ouça primeiro: “Burning The Heather”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

3 thoughts on “Pet Shop Boys – Hotspot

  • 31 de outubro de 2020 em 02:31
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    Opa, obrigado pela lembrança, meu caro!

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  • 28 de janeiro de 2020 em 11:31
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    Excelente resenha, Hotspot é um ótimo álbum, posso dizer que já é um clássico na discografia do duo, e até acho que a partir de 2006 do álbum Fundamental que os Pet Shop Boys voltaram a sua excelência musical e se manteve até hoje, de Hotspot Will-o-the-wisp é uma das melhores músicas já feitas pela dupla, é empolgante !!!

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    • 31 de outubro de 2020 em 01:43
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      Você só esqueceu de citar Will-o-the wisp! ela deveria terminar o album deixando Wedding in Berlin no meio ,ficaria perfeito.

      Resposta

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