Para Maya Angelou, com carinho

 

 

Maya Angelou foi dançarina, cantora, roteirista, atriz, ativista pelos direitos civis, poeta e escritora. É autora de uma das autobiografias mais vendidas dos EUA (a primeira escrita por uma autora negra a conseguir o feito), com “Eu sei por que o pássaro canta na gaiola” e a mente brilhante por trás de várias lições de vida que mudaram histórias de pessoas de todas as idades e lugares. Meu primeiro contato mais atento à obra e à vida da Maya foi com o documentário “E ainda resisto”, disponível na Netflix.

 

O filme intercala depoimentos do seu filho, amigos, admiradores e da própria Maya, falecida em 2014. Na primeira vez que o assisti fiquei impactada, na segunda chorei, na terceira me senti fortalecida, depois daquela surra chamada eleições presidenciais de 2018.

 

Se o filme me ensinou tanto, o que dizer dos livros de Maya Angelou?

 

O primeiro que comprei, “Cartas para minha filha”, uma coletânea de textos escritos por ela para “as milhares de filhas que eu tenho” (ela teve um filho, Guy, aos 16 anos) é uma das muitas demonstrações de sua sabedoria: ela fala sobre os efeitos do racismo e da segregação racial na sua existência, sobre luto, a beleza do amor na terceira idade e autodefesa:

 

“Isso não importa. Eu sei muito bem que vocês não me darão um ambiente prazeroso ou pacífico para trabalhar. Não e assim que vocês trabalham, então sou obrigada a recusar qualquer oferta que você faça ”

 

Quão difícil é para a gente agir quando se sente acuado ou não se desesperar diante de situações que fogem do nosso entendimento e controle?

 

“Você pode não controlar todas as coisas que acontecem com você,mas pode decidir não se ser diminuído por elas”

 

Maya escreveu autobiografias e poemas adorados por gente como Barack Obama, Oprah Winfrey e Bill Clinton (ela recitou o poema ” On the pulse of morning” em sua cerimônia de posse de 1993) e, ainda assim, enfrentou censura e retaliações aos seus trabalhos. A adoção por escolas americanas de “Eu sei por que o pássaro canta na gaiola”, suas memórias, nas quais conta sobre quando foi estuprada pelo namorado da mãe aos 8 anos, encontrou vários obstáculos para ser lançada, os quais Maya superava pois tinha a certeza de que qualquer preço a se pagar pela verdade, justiça e valores valeria a pena.

 

“Acho que, em algum momento, temos que parar e nos perguntar como chegamos a um ponto em que rapazes chamam o sexo oposto de vadia”.O que aconteceu? Ou chamam alguém de ” nigger” como se fosse tudo bem”

 

Das minhas três últimas tatuagens duas fazem referência direta à Maya. Depois do nosso primeiro encontro eu não fui a mesma : em tempos de retrocesso não desisto, diante de atitudes preconceituosas não me omito, não faço autopropaganda de uma perfeição impossível. Perdi o medo de me posicionar e respeito não só a minha própria voz, mas a de quem acredita que viver é política e resistência.

 

Consigo ver beleza em todas as idades e respeitar as dores causadas pelas experiências ruins pelas quais eu não passei e diante das minhas próprias tiro das palavras de Maya em um dos seus poemas mais famosos (e minha tatuagem mais recente) a força que ela nos mostra, como a artista verdadeira que foi ser possível:

Ainda assim eu me levanto.

Debora Consíglio

Beatlemaniaca, viciada em canetas Stabillo e post-it é professora pra viver e escreve pra não enlouquecer. Desde pequena movida a livros,filmes e música,devota fiel da palavras. Se antes tinha vergonha das próprias ideias hoje não se limita,se espalha, se expressa.

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